CUBA CULTIVA UMA MEMÓRIA QUE É UM
PATRIMÓNIO IMPRESCINDÍVEL PARA TODA A HUMANIDADE E ESSA SAGA ESTÁ A MOBILIZAR
OUTRAS NAÇÕES, OUTROS ESTADOS E OUTROS POVOS, NO SENTIDO DE SE CONTINUAR O RUMO
CIVILIZACIONAL QUE ADVÉM DA LUTA ARMADA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL DE CADA UM
DELES!
Unindo-me à corrente que lembra a
memória do 40º aniversário do hediondo massacre de Cassinga (“Operation
Reindeer”).
Martinho Júnior | Luanda
1- Todos os comentários dos que
serviram o “apartheid” se limitam, no espaço e no tempo, à bravata
guerreira da “Operation Reindeer”, não conseguindo ganhar dimensão para
além dessa evocação obscena, saudosista e retrógrada, dos cenários sangrentos
que então provocaram.
Para os servidores do “apartheid” não
havia luta, por que tal como para os colonialistas portugueses e rodesianos, na
internacional fascista que se havia implantado na África Austral usurpando o
espaço sócio-político, económico, institucional e de relacionamentos
internacionais, jamais poderia haver luta, mas guerra “contra a subversão
comunista”, exploração, racismo e ódio, sem limites, sem cartel e sem
fronteiras, na espectativa que seu poder se mantivesse até ao infinito e a
partir desse mesmo exercício sangrento!
Pendiam sobre as cabeças dos
combatentes da liberdade seus aviões e suas bombas, inaugurações de Guernica,
suas tropas de assalto, sua bomba atómica que impunemente surgia à revelia de
qualquer tratado e esgueirando-se pendurada ao guarda-chuva do império da
hegemonia unipolar e seus vassalos!
Por isso muitas vezes os “feitos
guerreiros” são empolados em si mesmos, com relatos agarrados a uma árvore
apodrecida e incapaz de ganhar o mínimo vislumbre em relação à floresta,
incapaz de coerência histórica, muito menos de solidariedade, de
internacionalismo, ou de dignidade, conceitos desconhecidos e vilipendiados por
uma cruzada infecunda, com essa mesma lógica incapaz de por si conseguir-se
fazer sair de suas próprias trevas, do seu ignóbil obscurantismo!
Esse é o retrato fiel, ainda que
incompleto, da barbárie que levou ao massacre de Cassinga e leva hoje a uma
disputa inqualificável, aproveitada pelos meios de difusão que persistem em
cultivar, em pleno século XXI, o passado de trevas que tentam ainda, por
inércia, fazer prevalecer, aproveitando o esteio duma globalização inebriada pelo
capitalismo neoliberal e insuflada pelas novas tecnologias comunicacionais!
Instrumentos, para que tal
aconteça, não faltam ao poder dominante da hegemonia unipolar e em conformidade
com a visão grotesca do império.
Corroborando a tendência
internacional, a Alemanha tarda oficialmente em reconhecer o genocídio herero e
namaqua, ocorrido entre 1904 e 1907 no então Sudoeste Africano, procurando
esquivar-se das reparações.
O processo dialético que advém do
passado, chega aos nossos dias e continuará ainda no futuro, por que agora o
que é da civilização luta pela sobrevivência da espécie humana e pelo respeito
que a Mãe Terra merece, mas a barbárie não terá, para além das tumbas
individuais de cada um de seus mentores, monumento algum em memória de seus irresponsáveis
actos, quedando-se como um resíduo feudal face à imprescindível lógica com
sentido de vida que já não pode ter outra alternativa senão o contínuo
empecilho da afronta da barbárie!
2- Para Angola, para Cuba, para a
Namíbia e para tantos progressistas de todo o mundo cujas fileiras tendem
inexoravelmente a engrossar, neste caso reunida a civilização em torno da
SWAPO, a luta era contra a internacional fascista que atormentava a África
Austral e era uma afronta para África e para toda a humanidade…
… e lutar implicava reunir forças
em todas as frentes, não só as militares, em reforço do Movimento de Libertação
que seguia a trilha apontada pelo Presidente Agostinho Neto… “na Namíbia,
no Zimbabwe e na África do Sul está a continuação da nossa luta”, lembram-se?!
3- Quando ocorreu o massacre, foi
o 2º Grupo Tático de Cuba que acorreu mais rapidamente ao local do assalto ao
campo de refugiados, à custa do sacrifício de 16 combatentes mortos e algumas
dezenas de feridos e foi essa unidade, estacionada então nas minas de ferro em
Tchamutete, que fez o primeiro rescaldo do massacre, quando ainda havia
moribundos e feridos dispersos e à mercê dos assassinos, conforme aliás os
depoimentos individuais de alguns dos sobreviventes.
Desde esse momento, Cuba, Namíbia
e Angola deram continuidade à luta:
Sepultaram-se os mortos e
cuidaram-se dos feridos;
Resgataram-se para a vida os que,
directa ou indirectamente, viveram os momentos trágicos do pérfido ataque, ou
seja, algumas centenas de crianças, mulheres e velhos refugiados,
traumatizados, atordoados e meio confusos;
Reiniciou-se a implantação em
novos moldes dos campos de refugiados namibianos, de forma a encontrarem-se
soluções de estabilidade e de equilíbrio, integrando-os no contexto angolano
que então se propiciava;
Levaram-se para Cuba as crianças
em idade escolar, a fim de ganharem capacidades para um dia servirem com
competência, honradez e dignidade o seu próprio povo mártir e heróico, quando
chegasse a hora da independência e da soberania tão desejada ao longo das
várias gerações que em vida transitaram ao longo do século XX e princípios do
XXI;
Cultivou-se a memória seguindo
sem equívocos essa ampla trilha de luta da qual, 40 anos depois, emerge a luz
de civilização que se destaca das trevas do colonialismo, do “apartheid”,
de suas sequelas e das bravatas guerreiras de assassinos que esgaravatam a
história sem pensar nas consequências de seus próprios actos, tolhidos pelas
filosofias, ideologias e práticas, esgotadas nos seus próprios labirintos
tenebrosos!
4- Cassinga irá assim e
justamente surgir como um manancial de civilização inestimavelmente inspirador:
Erguer-se-á um monumento que
lembrará às gerações vindouras especialmente da Namíbia, de Angola e de Cuba,
aquele momento trágico que contribuiu para a viragem que se adivinhava e se
impunha;
Reconstruir-se-á a localidade,
conferindo-lhe toda a dignidade histórica em relação a todos os povos da África
Austral, de África e de todo o mundo;
Confluirá como uma barreira
intransponível a amizade entre os povos da Namíbia, de Cuba, de Angola, assim como
de todos os estados, nações, povos e movimentos sociais progressistas que tanto
têm a memorizar em proveito das gerações vindouras e de pátrias cuja
civilização se identifica com as mais nobres aspirações de toda a humanidade;
Reverterá sempre para a luta pela
educação e a saúde uma parte importante desse esforço comum, por que o
subdesenvolvimento crónico dos africanos, latino-americanos e asiáticos, impõea
tenacidade e a constância dessa luta;
Inspirará outras comemorações da
luta que terá hoje e no futuro sequência, como por exemplo o ataque na barragem
de Calueque, que um dia pôs fim à guerra da barbárie e por isso será outro
ponto de confluência civilizacional dos povos da África Austral, de Cuba e de
todo o mundo!...
E sabem que mais?
Em nome da civilização e contra a
barbárie, A LUTA CONTINUA, por que PÁTRIA ES HUMANIDAD!
“Tenga usted sensible
lector por vez primera, los nombres de los internacionalistas cubanos caídos en
Cassinga.
Para ellos, ¡Gloria!
1. Antolín
García Morgado.
2. Eusebio
González Hernández.
3. Pedro
Valdivia Paz.
4. Ricardo
Rey González Figueredo.
5. Francisco
Seguí Rodríguez.
6. José
Róger Méndes Román.
7. Jorge
Alberto Rodríguez Legón.
8. Roberto
Ambrosio Zamora Machado.
9. Alfredo
Varea Franco.
10. Basilio
Caraballo Domínguez
11. Raúl
Zalgado Espinosa.
12. Félix
A. Cordero Barbeira
13. Redento
García Iglesias.
14. Raúl
Fernández Acosta.
15. Jorge
L. Mendosa Tamayo.
16. Modesto
Fernández Pena.
Martinho Júnior | Luanda, 11 de Maio de 2018
Imagens:
. A velha placa (conforme foto em
tempo de guerra) numa das estradas à entrada do município, numa localidade que
será revitalizada e integrará um monumento às vítimas do massacre de há 40
anos;
. Memória estatística das vítimas
do massacre de Cassinga;
. Os Presidentes de Angola e da
Namíbia irmanados numa ampla causa comum: a paz e uma longa luta contra o
subdesenvolvimento;
. A nova estação do CFM na Jamba
mineira, próximo de Cassinga;
. Uma foto de minha autoria do
porto mineiro do Saco do Giraúl, tirada a 12 de Dezembro de 2015.
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