Um ano depois de ter chegado à
presidência de França, Emmanuel Macron divide os franceses entre os que aprovam
o seu dinamismo e vontade reformista e os que o acusam de ser o
"presidente dos ricos".
Quase seis em cada dez franceses
(57%) dizem-se insatisfeitos com a política de Macron, segundo uma sondagem BVA
para a RTL divulgada na sexta-feira.
O resultado é melhor que os dos
antecessores François Hollande e Nicolas Sarkozy, mas pior que os de Jacques
Chirac e François Miterrand, e representa uma perda de 20 pontos percentuais
num ano.
Entre as qualidades reconhecidas
a Macron, os inquiridos citam especialmente as "convicções
profundas", a "autoridade" e "estatura presidencial".
Entre os defeitos, apontam que é "pouco unificador" e pouco
"próximo das pessoas".
"Se há um ponto que une os
franceses, é que o presidente age. O que os divide é a sua ação", resumiu
o especialista em sondagens Jean-Daniel Lévy, da empresa de pesquisa de mercado
Harris Interactive, à agência France-Presse.
Emmanuel Macron, 40 anos, venceu
as eleições de 07 de maio de 2017 com 64%, no contexto particular de uma
segunda volta disputada com a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen.
O programa político, que definiu
como "nem de esquerda nem de direita", assenta na liberalização do
modelo económico francês, na refundação da unidade europeia e na reedificação
da posição de França no mundo.
Quando perfaz um ano no poder,
Macron tem perante si um país agitado pela contestação social e numerosas
greves nos transportes.
Para hoje mesmo, e depois da
violência que marcou as comemorações do 1.º de Maio em Paris, está prevista uma
"Festa a Macron", convocada pelo deputado François Ruffin, da França
Insubmissa (esquerda), onde cada um é convidado a participar com as suas
"reivindicações, indignações e esperanças" para "fazer uma festa
a Macron e ao mundo" que "representa", o "da finança"
e "do patronato".
Segundo uma outra sondagem, realizada
pelo instituto Elabe-Wavestone e citada pela France-Presse, metade dos
inquiridos (51%) considera as suas políticas "injustas" e favoráveis
às elites urbanas abastadas.
Algumas das reformas que lançou,
como a do código do trabalho ou dos caminhos-de-ferro, agradaram à direita, mas
afastaram uma parte considerável do eleitorado de esquerda que as considera
demasiado liberais.
Há atualmente, segundo explicam
analistas, um desencanto da esquerda que apoiou Macron.
Cerca de 45% dos eleitores que
votaram nele na segunda volta de 2017 tinham votado no candidato socialista na
primeira volta, segundo números citados pela Foreign Policy.
Este esbater da clássica divisão
esquerda-direita, alertam especialistas, corre o risco de aniquilar os partidos
tradicionais e favorecer os extremos e os populismos antissistema.
No plano internacional, Emmanuel
Macron tem sido muito ativo e muitos atribuem-lhe a capacidade de ter afirmado
desde o início a sua "estatura presidencial", impressionando
positivamente a chanceler alemã, Angela Merkel, e gerindo a imprevisibilidade
do presidente norte-americano, Donald Trump.
A par das muito mediatizadas
visitas ao estrangeiro, Macron multiplicou iniciativas pessoais em questões que
vão do nuclear iraniano ao conflito sírio.
"Podemos afirmar muito
claramente que França recuperou uma liderança internacional [...] Há uma
espécie de demanda de Macron no mundo", considerou o ex-primeiro-ministro
de direita Jean-Pierre Raffarin.
"É o único dirigente europeu
a poder falar substancialmente com Trump, Putin, [os presidentes egípcio e
turco] Sissi e Erdogan", reforçou François Heisbourg, presidente do
International Institute for Strategic Studies (IISS) de Londres.
As suas ambições para a Europa
enfrentam contudo mais dificuldades, perante a "típica inércia de Bruxelas
e a prudência da Alemanha", escreveu o Financial Times.
Mas "se Macron quer salvar a
Europa, tem de salvar França primeiro", segundo a Bloomberg, que aponta o
desemprego persistentemente alto, a elevada fiscalidade, o parque industrial
desatualizado e a contestação social como obstáculos à afirmação da economia
francesa.
E, na União Europeia, depois da
crise das dívidas soberanas, da crise migratória e do 'Brexit', vários líderes
insistem que é altura de cada Estado membro se fortalecer antes de pensar em
grandes ideais que comprometam todos.
Externa como internamente, os analistas
concordam: um ano é pouco para avaliar um presidente.
Lusa | em Notícias ao Minuto |
Foto: Reuters
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