Mário
Motta, Lisboa
É sabido que a Lei da Eutanásia não
passou no parlamento, até aí tudo bem. A democracia regulada pelo poder
legislativo dos que supostamente zelam pelos interesses do país e dos
portugueses funcionou. Houve opiniões e votos a favor e contra a Eutanásia.
Normal. Venceu em número parlamentar os contra a chamada morte assistida.
É um assunto claramente
fraturante, melindroso. Se em determinados aspetos damo-nos a ter opinião favorável
vimo-nos em outros aspetos contra. É evidente que ninguém quer sentir-se um
vegetal que não vive nem morre e está para ali tipo morto-vivo a depender totalmente
dos outros nos cuidados e em tudo. Exatamente em tudo. É uma pessoa quem está
naquele estado? Aos nossos olhos poderá ser. Uma pessoa acamada cujas funções
se degradam de tal modo que afinal já não vive – a não ser “estar para ali”. Inerte,
a sofrer, drogado… Mas ainda respira com ajuda de fármacos e os avanços tecnológicos
desenvolvidos para manterem artificialmente algumas funções básicas a
funcionar. Evidentemente que essa não é a “vida” que queremos. Porque não é
vida.
O “enquanto há vida há esperança”
aplica-se nestes casos? Para uns sim, para outros não. Daí as opiniões
divergirem entre os a favor e aqueles que são contra a Eutanásia.
Porque não foi aprovada no
parlamento a “morte medicamente assistida”? Por toda a complexidade que o ato
médico contém na sociedade portuguesa ainda impreparada para aceitar que em vez
de irmos definhando e sofrendo jazendo numa cama à espera do fim a morte total é
a solução mais humana que nos podem proporcionar, acabando com o sofrimento de
quem padece sem esperança alguma de recuperar, de ressuscitar. Pois é… Mas
aceitar isso não faz o género de imensos portugueses. Nem de imensas pessoas
por todo o mundo.
Vamos ter de aguardar por
melhores oportunidades, de possuirmos mentes mais abertas e aceitarmos que os
que sofrem sem a mínima esperança de recuperarem têm todo o direito de dar
conta da situação degradante e sofrida em que se encontram. Esses sabem que já
não vivem, que o estado em que estão não é vida, que a morte total é a solução porque
afinal eles em grande parte já estão mortos e não há nenhuma esperança de
reversão da situação em que se encontram. Custa, mas é o melhor a fazer, pela
nossa dignidade, pelo respeito à lucidez que ainda possuímos até determinada
momento da enfermidade absolutamente terminal e horrorosa. Cada um de nós tem
de ter o direito de decidir se quer vegetar e sofrer sem esperanças nem hipóteses
de recuperação ou se quer terminar de vez com o sofrimento e a progressiva mas
demorada degradação até que a morte natural chegue.
Cavaco Silva, o putrefacto cadáver
político
Foi surpreendente assistir ao ar
e palavras ameaçadoras - para os a favor da eutanásia - de um dos principais indivíduos
que praticou todo o tipo de tropelias contra as liberdades, a democracia, a
justiça social, a transparência, o próprio 25 de Abril libertador de um regime
ditatorial e aquilo que tem por significado. Salazar foi um antipatriota.
Cavaco Silva sucedeu-lhe. Com as políticas e amigos que trouxe para a ribalta o
cavaquismo contribuiu para o aumento da corrupção, da exploração dos que
trabalham, do aumento do fosso enorme entre ricos e pobres, de injustiças que
socialmente criaram o desespero em muitos portugueses, a fome e a miséria. Houve
portugueses que em desespero se suicidaram por via das suas políticas em prol
dos mais ricos e de novos ricos seus amigos que afinal conclui-se que roubaram
ou se “orientaram” em negociatas de lucros dúbios. O próprio Cavaco foi
protagonista de algumas dessas negociatas. Pelo menos uma é ainda recordada e
teve por lucro uns “títulos acionistas” que o seu amigo Oliveira Costa, BPN/SLN, lhe
facultou - Cavaco e filha lucraram com acções da SLN (DN). Assunto que foi
muito badalado, para além da nova casa no Algarve. Mas tudo legal. Pois. Ilegal
é uma velhota com pensão de miséria ou nem isso, com fome ou com um ataque de vontade
nuns doces tirar uma caixa de bombons num supermercado. Ou até somente umas
carcaças. Rouba, sumariamente vai a tribunal e pode ser condenada a prisão –
aconteceu no Porto algo do género, p. ex.
Porque inusitadamente Cavaco
apareceu a pronunciar-se sobre a sua opinião contra a eutanásia, ali, em
formato de comunicado ou “conversa em família”, num contexto ameaçador,
dislexo, cavernoso, desajustado e sem importância, foi notícia digna de exibição
da múmia. Em nada demoveu os deputados com as suas ameaças cretinas, que até já
tinham o sentido de voto bem definido. Falou o parolo para nada, a não ser para
cair uma vez mais no ridículo.
Apesar daquela exibição
provinciana e bacoca houve imensos que se pronunciaram sobre a descabida e doentia
aparição de Cavaco à laia de múmia política
pretendendo reduzir a vontade própria e a opinião de cada individuo que se
encontre em circunstâncias vegetativas e de sofrimento que possibilitem aos que
quiserem solucionarem com a eutanásia, julgando-se ele com autoridade para
decidir da vida e da morte com dignidade dos que sabendo não terem mais hipótese
de realmente viverem em plenitude e recusando sofrerem mais. Essa é uma decisão
que cabe a cada um de nós, seres humanos e não a pacóvios incultos e de
pensamentos limitados do estilo de Cavaco.
Opiniões sobre a Eutanásia e a descabida
intervenção em que Cavaco surge com vénias servilistas de órgãos de comunicação
social são fecundas nas redes sociais. Algumas tomámos para transcrição que
pode seguidamente ler (apenas três). - Imagem em Maré Alta – “Maldição da Múmia”
António
Galopim de Carvalho - Facebook
“A intervenção do Ex-Presidente
da Republica, em defesa do "não", feita num tom desnecessariamente
ameaçador, além de não ter a dimensão de Estado que era suposto ter, está a
tratar-nos por tolos.
Em resposta à legítima posição do
Professor Cavaco Silva que, evidentemente, respeito, continuo a
afirmar que ninguém tem de ser a favor ou contra a uma decisão que só diz
respeito ao interessado, cabendo ao Estado a competência para legislar e
regulamentar os procedimentos inerentes a essa situação.”
Samuel
Quedas - Facebook
"THE TWILIGHT ZONE
“Adorei ver Cavaco Silva,
neste episódio típico da “Twilight Zone” no seu papel de “Zombie Porco”… a
regougar umas inanidades sobre a eutanásia e apelos de boicote ao voto, seguido
de considerações sobre a coisa mais grave que já foi aprovada na Assembleia…
muito mais do que todos os crimes levados a cabo pela sua quadrilha, quando no
poder.
Gostei particularmente do escritoriozinho “tipo Moviflor” em superfícies brilhantes género fórmica das mesas de tasca… com a fotografia do Papa espalmada numa moldura tão gira.
Não conseguiu, no entanto,
estragar-me a deliciosa canja e depois o “BSE” fresquinho e o frango de
churrasco desfiado, com muito alho picado, coentros, uma bela golfada de bom
vinagre de vinho, um loooooongo fio de azeite… e feijão frade q.b.!”
Miguel
Ângelo - Facebook
"Acho que anda muita gente
confundida com a questão da eutanásia e as posições de diferentes
forças políticas e membros da sociedade civil. Os propósitos do Cavaco e
do CDS não são os mesmos dos do PCP, insistir nessa premissa é desonestidade
intelectual e ainda têm de me explicar como se eu fosse muito estúpido onde é
que isso transparece, subentende ou mesmo concorda... (defender uma vida com
dignidade para todos os portugueses, nomeadamente através de condições
socio-económicas dignas não é o mesmo que defender a vida na esperança da
redenção e da passagem para uma nova existência após uma vida de sofrimento
imposto por terceiros)... e sou eu quem decide sobre as minhas opções pessoais
sobre o sentido da minha vida e sobre a opção de morrer com dignidade."
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