Hoje é Dia Mundial da Criança. Em
Angola, relatório do jornalista Domingos Cruz denuncia que muitas crianças
trabalham "no limite" no negócio da extração de pedras. E não só.
João Alfredo* tem 13 anos. Vive
fora da casa dos pais e, para sobreviver, engraxa sapatos numa rua de Luanda.
Vestido com uma camisola e calções pretos, conta que não tem registo de
nascimento. Por isso, nunca foi à escola. Mas tem esperança.
"Há alguns irmãos da igreja
do bairro Palanca que disseram que me vão tratar cédula. Já pediram todos
os meus dados e estamos a espera que eles tragam", afirma.
Como João Alfredo há milhares de
crianças em Angola sem documentos, fora do sistema de ensino e que trabalham no
duro para sobreviver. É o que revela um relatório do jornalista angolano
Domingos da Cruz, publicado esta sexta-feira (01.06) na capital angolana.
Exploração infantil
"O relatório aborda a
situação das crianças que se dedicam ao garimpo de areia e pedras em diferentes
regiões de Angola, e, claro, fazem-no em diferentes locais. Uns em rios, outros
no deserto, como é o caso da província do Namibe, e outros em terreno
normal", refere Domingos da Cruz.
Intitulado "Eu Vivo das
Pedras", o estudo de 88 páginas baseia-se em entrevistas a crianças nas
províncias do Bengo, Benguela, Namibe e Huambo.
"Há crianças que confirmaram
durante as entrevistas que há adultos que se aproveitam delas", indica.
Domingos da Cruz não revela em
concreto no relatório quantas crianças se dedicam ao garimpo de pedras em
Angola, mas lança o debate. O pesquisador lembra que o Direito ao
Desenvolvimento da pessoa humana foi consagrado pelas Nações Unidas em 1986 e é
inalienável.
"O que eu coloquei no
relatório é uma amostra, que, no meu ponto de vista, é suficiente para lançar o
debate e alcançar o objetivo central de chamar a atenção da sociedade e
das autoridades para o problema", afirma.
Que soluções?
Em Angola, a Constituição da
República protege os direitos da criança, mas muitas delas continuam a
trabalhar. Para inverter este cenário, o relatório "Eu Vivo das
Pedras" deixa recomendações ao Governo angolano.
"Por exemplo, a criação de
consultórios de psicologia comunitária para recuperar crianças que certamente
estão traumatizadas, fruto da atividade que realizam. Propõe igualmente um
rendimento minímo para estas crianças e para as famílias, com vista a ajudá-las
a recuperar e a reintegrar-se na sociedade. Só assim vamos ter uma sociedade
diferente e contar com a contribuição delas para um país melhor."
Há dez anos, o Governo angolano
adotou 11 compromissos para a proteção das crianças. Dois dos compromissos são
possibilitar o "registo de nascimento" e garantir que todas as crianças
vão à escola primária. Este ano, o Dia Mundial da Criança em Angola decorre sob
o lema: "Reforçar a municipalização dos 11 compromissos para garantir a
proteção integral da criança". O ato central para assinalar este Dia
da Criança foi na Huíla.
* nome fictício
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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