Rafael Barbosa | Jornal de Notícias
| opinião
É uma história recorrente na
literatura, incluindo a de cordel. O mesmo no cinema, qualquer que seja a
proveniência. O personagem aproxima-se da roleta, ou senta-se a uma mesa de
póquer. Aposta e perde. Percebe que vai ter um problema em casa. Levanta-se
e sai?
Nada disso. Continua a apostar o
que tem e sobretudo o que não tem. Alguém pagará a conta. Mas isto é na ficção.
Na vida real, não há baralhos em salas escuras e fumarentas, nem casinos
clandestinos, nem olhares perdidos, nem mulheres fatais. É coisa de cavalheiros
em fatos impecáveis, instalados em gabinetes bem iluminados e com ar
condicionado.
Pelo menos é o que diz o Banco
Central Europeu, fonte mais do que autorizada, uma vez que faz parte do clube.
Diz o BCE que quando a crise financeira apertou, os cavalheiros da Banca
fizeram as contas aos milhares de milhões que emprestaram sem garantia de
retorno. Cortaram no crédito? Nada disso. Sem cigarro ao canto da boca, mas
porventura com um bom copo de uísque de malte, apostaram as fichas todas em negócios
que já só tinham lixo para dar. Sabiam que alguém pagaria a conta. Não se
enganaram. Entre 2008 e 2017, o Estado injetou 17 mil milhões de euros na
Banca.
Tendo em conta que, quando toca a
pagar, o Estado somos nós, foram 1700 euros por cabeça. É isso mesmo, se tem
uma família de cinco, contribuiu com 8500 euros. Seja porque lhe cobraram mais
impostos, cortaram no salário, reduziram o subsídio de desemprego, deixaram de
pagar abono de família, seja porque não consegue consulta com um médico de família,
quanto mais marcar uma cirurgia. A Caixa Geral de Depósitos foi só um dos
casinos.
Como ontem disse o Ronaldo das
Finanças aos deputados, houve "um problema generalizado de gestão de risco
no sistema bancário". Uma maneira cavalheiresca de dizer que houve um
grupo de bandidos que, ao longo dos últimos anos, nos assaltou. E ainda
cobraram comissão. Já agora, alguém sabe o que acontece quando o crime
compensa? Conto essa história daqui a dez anos...
*Chefe de Redação
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