Padre católico angolano Félix
Gaudêncio disse que população do Cunene, "está assustada" com
relatos" de traficantes de seres humanos, sobretudo crianças.
O padre católico angolano Félix
Gaudêncio disse esta quarta-feira (30.01.) à agência de notícias Lusa, que a
população da província do Cunene, no sul de Angola, "está assustada"
com os "crescentes relatos" de traficantes de seres humanos,
sobretudo crianças, quatro dos quais já detidos pela polícia.
"O quadro é de medo, a
população está mesmo com medo, em pânico, porque se trata de uma população que,
anteriormente, acolhia muitas pessoas, orientava quem estivesse perdido, mas
hoje em dia há esse receio de orientar ou acolher estranhos", disse o
padre Gaudêncio.
A polícia da província do Cunene
deteve quatro supostos traficantes de seres humanos, que tentavam aliciar
crianças, situação que preocupa os moradores.
"Nas imediações do mercado
Chamucuio [em Ondjiva, capital da província], foram detidos quatro supostos
traficantes de seres humanos", no último fim-de-semana, na sequência de
denúncias da população de que estariam a "aliciar crianças" com
guloseimas, com o objetivo de as "levar para a Namíbia", país vizinho,
relatou o comandante da polícia local, Tito Munana, à imprensa local. Após a
audição dos quatro suspeitos, a polícia está "no encalço de mais uma
senhora, que é a suposta mandante do grupo", referiu o responsável.
Mais policiamento
Diante do facto, que agitou a
população de Ondjiva, os moradores e vendedores do Chamucuio manifestaram-se
"apreensivos e aterrorizados" com a situação, e pedem "maior
policiamento", afirmando temer que o "pior aconteça com as crianças"
da localidade.
Esta quarta-feira, o também
presidente da Associação Ame Naame Omuno, de defesa e promoção dos direitos
humanos na província, defendeu ainda o "reforço do policiamento" no
seio das comunidades, afirmando que o tráfico de seres humanos na província
"é uma prática antiga". "Porém, agora ganha maior visibilidade
por causa dos meios de comunicação e por causa do mediatismo, então, isso é uma
realidade porque chama muito a atenção o facto de aparecerem pessoas assim
mortas, de vez em quando", bem como "aparecerem pessoas a dizerem que
estavam a ser aliciadas para serem levadas para a Namíbia", concluiu.
Em dezembro de 2018, um vídeo
publicado nas redes sociais apresentava um suposto autor confesso desses
crimes, relatando como terá matado uma mulher, a quem terá retirado os órgãos,
que foram levados para a Namíbia.
Questionado sobre o assunto, o
também delegado do Ministério do Interior de Angola no Cunene, Tito Munana, deu
conta que as autoridades judiciais "ainda não provaram se os relatos do
suposto traficante do vídeo divulgado eram verdadeiros".
"Preocupante situação de
seca e fome" no Cunene
O padre Félix Gaudêncio lamentou,
por outro lado a "preocupante situação" da seca e fome, na província
angolana do Cunene, que afeta milhares de pessoas, defendendo "soluções
urgentes" como construção de reservatórios de água.
O padre católico deu conta que
"maior parte" daquela província angolana, está afetada pela seca e
"sem qualquer perspetiva" para o início do ano agrícola,
"agudizando a carência de comida e água" para o consumo humano e dos animais.
"As perspetivas não são
boas, na medida em que, normalmente, a esta altura as lavras estariam já verdes
e teríamos já uma noção do que seria o ano agrícola, mas o que está a acontecer
este ano é exatamente o contrário", disse. "É que até agora, temos
pessoas que não cultivaram por falta de chuvas", adiantou.
Governo avalia situação
Entretanto, uma delegação
multissetorial chefiada pelo ministro da Administração do Território e Reforma
do Estado de Angola, Adão de Almeida, visitou na segunda e terça-feira
(28/29.01) a capital do Cunene, Ondjiva, para avaliar a situação da seca
na região.
Adão de Almeida assumiu que a
situação da província "é crítica, desafiante e exige mais
pragmatismo", apontando entre as medidas a "reparação e abertura de
furos de água" para atender as populações das zonas "mais
críticas".
Abertura de furos de água não é
suficiente
Para o padre Félix Gaudêncio,
também presidente da Associação Ame Naame Omuno, de promoção e defesa dos
direitos humanos, a abertura de furos de água "é uma alternativa viável
mas insuficiente", defendendo também a "construção de 'chimpacas'
[reservatórios]" de água.
"Acho que os furos não
seriam suficientes, mas poderíamos apostar mais em 'chimpacas', encontrar
alternativas que se adaptem à maneira de viver da população, porque um furo que
fica a 10 quilómetros
para lá as pessoas chegarem é difícil", sublinhou.
O líder da "Ame Naame
Omuno", que na língua angolana Kwanyama significa "também sou
pessoa", considera que uma outra alternativa para acudir à situação do
Cunene seria as autoridades angolanas perceberam a experiência da vizinha República
da Namíbia.
Segundo as autoridades, mais de
280.000 pessoas estão afetadas pela seca na província angolana do Cunene.
Agência Lusa, ar | Deutsche Welle
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