Jorge Rocha* | opinião
A greve cirúrgica dos
enfermeiros, as reportagens com o bastonário da Ordem dos Médicos a ter nos
jornalistas, quem lhe segure no altifalante para dizer mal do SNS, ou um
«estudo» da DECO a elogiar a qualidade dos hospitais privados, são três
vertentes de uma guerra de resultados ainda incertos: ou os interesses dos
grandes grupos económicos do setor saem vencedores e agravam ainda mais a
situação de sangria dos recursos públicos para que embolsem maiores
lucros, ou regressa-se ao projeto original de António Arnaut, dando primazia ao
que do Estado não deveria dissociar-se.
Trata-se de uma disputa entre
duas visões ideológicas opostas, uma apostando no princípio da
incompatibilidade da saúde dos cidadãos com a ideia de negócio, a outra
prezando exatamente o contrário. Porque sabemos bem o que isso significa: se a
saúde dos cidadãos é razoável, os hospitais privados multiplicam-lhes os
dispendiosos exames clínicos para confirmarem o quão bem estão. Mas, tão-só
neles detetem doenças graves, que impliquem custos acima do patamar de
rentabilidade, logo os enxotam para os hospitais públicos para ser o Orçamento
Geral do Estado a arcar com esses encargos. Paralelamente são estes mesmos
serviços públicos a garantirem a formação e os estágios aos jovens médicos
para, depois, quando dotados de maiores competências, os verem atraídos por
quem neles não havia investido um euro que fosse.
Tudo isto vai ficando muito claro
aos portugueses que, apesar de bombardeados com notícias de disfuncionalidades
do SNS sabem nele ter a resposta devida aos seus problemas de saúde. Daí que
surpreenda a imprudência de Marcelo em se colar tão veementemente ao campo dos
que pretendem impor os negócios privados aos interesses públicos. Como se viu
no «Eixo do Mal» com Pedro Marques Lopes, nem os seus mais confessos apoiantes
arranjam justificação para esse alinhamento. Que, porém, não se estranha: como
poderia ele ser quem não é? Enquanto se tratar da contradição entre o bem
público e o que só diz respeito a uma elite financeira, com quem sempre privou
como amigo do peito, Marcelo pende invariavelmente para esta última
trincheira...
*jorge rocha | Ventos Semeados
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