Thierry Meyssan*
Nós prosseguimos a publicação do
livro de Thierry Meyssan, «Sous nos yeux» (Sob os Nossos Olhos). Neste
episódio, ele regressa ao primeiro semestre de 2011 no decurso do qual,
apoiados pelos Estados Unidos e o Reino Unido, os Irmãos Muçulmanos se aproximaram
ou acederam ao Poder na Tunísia, no Egipto e na Líbia.
Este artigo é extraído do livro Sob
os nossos olhos. Ver o Índice dos assuntos.
7— O início das «Primaveras
Árabes» na Tunísia
A 12 de Agosto de 2010, o
Presidente Barack Obama assina a directiva presidencial de Segurança n° 11
(PSD-11). Ele informa todas as suas embaixadas no Médio-Oriente Alargado para
se prepararem para «mudanças de regime» [1].
Ele nomeia Irmãos Muçulmanos para o Conselho de Segurança Nacional dos Estados
Unidos a fim de coordenarem a acção secreta no terreno. Washington vai colocar
em acção o plano britânico da «Primavera Árabe». Para a Irmandade, chegou o
momento de glória.
A 17 de Dezembro de 2010, um
comerciante ambulante, «Mohamed» (Tarek) Bouazizi, imolou-se pelo fogo na
Tunísia após a polícia ter apreendido a sua carroça. A Irmandade apropria-se do
caso e faz circular boatos segundo os quais o jovem era um universitário no
desemprego e que tinha sido esbofeteado por uma mulher-polícia. Imediatamente,
os homens da National Endowment for Democracy (a NED, a falsa ONG dos
serviços secretos dos cinco Estados anglo-saxónicos) pagam à família do
falecido para que ela não revele a tramóia e semeiam a rebelião no país.
Enquanto se sucedem as manifestações contra o desemprego e os abusos policiais,
Washington pede ao Presidente Zine El-Abidine Ben Ali para deixar o país, ao
mesmo tempo que o MI6 organiza a partir de Londres o retorno triunfal do Guia
dos Irmãos, Rached Ghannouchi.
É a «Revolução de Jasmim» [2].
O esquema desta mudança de regime é copiado tanto do da partida do Xá do Irão,
seguida do regresso do imã Khomeiny, como do das revoluções coloridas.
Rached Ghannouchi havia formado
um ramo local dos Irmãos Muçulmanos e tentado um golpe de Estado em 1987.
Detido e encarcerado várias vezes, ele exila-se no Sudão, onde beneficia do
apoio de Hassan al-Turabi, depois na Turquia onde se aproxima de Recep Tayyip
Erdoğan (então dirigente da Millî Görüş). Em 1993, obtêm asilo político
no Londristão onde fica a residir com as suas duas mulheres e filhos
menores.
Os Anglo-Saxónicos ajudam-no a
melhorar a imagem do seu Partido, o Movimento de tendência islâmica
renomeado Movimento da Renascença(«Ennahda»). Para acalmar os receios da
população em relação à Irmandade, a NED chama os seus peões da
extrema-esquerda. Moncef Marzouki, o Presidente da Comissão Árabe dos
Direitos Humanos faz de caução moral.
Ele garante que os Irmãos mudaram
muito e que se tornaram democratas. É eleito Presidente da Tunísia. Ghannouchi
ganha as eleições legislativas e consegue formar um governo que vai de Dezembro
de 2011 a
Agosto de 2013. Nele introduziu outros peões da NED, como Ahmed Najib Chebbi,
ex-maoísta, depois trotskista reconvertido por Washington. Seguindo o exemplo
de Hassan al-Banna, Ghannouchi forma então paralelamente ao partido uma
milícia, a Liga de Protecção da Revolução, que procede aos assassinatos
políticos, entre os quais o do líder da oposição Chokri Belaïd.
No entanto, apesar de um
incontestável apoio de uma parte da população tunisina aquando do seu regresso,
cedo o Ennahda é colocado em minoria. Antes de deixar o Poder, Rached
Ghannouchi faz votar leis fiscais visando arruinar, a prazo, a burguesia laica.
Desta forma, ele espera transformar a sociologia do seu país e voltar
rapidamente para a frente do palco político.
Em Maio de 2016, o Xº Congresso
do Ennahda é encenado pela Innovative Communications & Strategies,
uma empresa criada pelo MI6. Os comunicadores asseguram que o Partido se tornou
«civilista» e separa as actividades políticas e religiosas. Mas esta evolução
não tem qualquer ligação com o laicismo, simplesmente pede-se aos responsáveis
para dividir as tarefas e não exercer, ao mesmo tempo, como eleito e como imã.
8— A «Primavera Árabe» no Egipto
A 25 de Janeiro de 2011, quer
dizer uma semana após a fuga do Presidente Ben Ali, a festa nacional egípcia
transforma-se em manifestação contra o Poder. Os protestos são enquadrados pelo
dispositivo tradicional dos EUA de revoluções coloridas: Os Sérvios treinados
por Gene Sharp (teórico da OTAN, especializado em mudanças de regime suaves,
sem recurso à guerra [3])
e os homens da NED. Os seus livros e brochuras traduzidos em árabe, e incluindo
instruções para as manifestações, são amplamente distribuídas desde o primeiro
dia. A maior parte destes espiões serão ulteriormente presos, julgados,
condenados e depois expulsos. Os manifestantes são sobretudo mobilizados pelos
Irmãos Muçulmanos, os quais dispõem de um apoio de 15 a 20% no país, e pelo Kifaya(Basta!),
um grupo criado por Gene Sharp. É a «Revolução do Lótus» [4].
Os protestos ocorrem principalmente no Cairo, na Praça Tahrir, e também em sete
outras grandes cidades. No entanto, está-se muito longe da vaga revolucionária
que sacudiu a Tunísia.
Desde o princípio, os Irmãos
utilizam armas. Na Praça Tahrir, eles recolhem os seus feridos para uma
mesquita totalmente equipada para lhes fornecer os primeiros socorros. Os
canais de TV das petro-ditaduras catariana, Al-Jazeera, e saudita, Al-Arabiya,
apelam ao derrube do regime e difundem em directo informações vitais. Os
Estados Unidos trazem de volta o antigo Director da Agência de energia atómica,
o prémio Nobel da Paz Mohamed El-Baradei, presidente da Associação
Nacional para a mudança. El-Baradei foi homenageado por ter acalmado os ardores
de Hans Blix, o qual denunciara, em nome da ONU, as mentiras da Administração
Bush visando justificar a guerra contra o Iraque. Ele preside há mais de um ano
a uma coligação criada no modelo da Declaração de Damasco: um texto
razoável, signatários de todos os quadrantes, mais os Irmãos Muçulmanos cujo
programa é, na realidade, totalmente oposto ao da plataforma.
Em última análise, a Irmandade é
a primeira organização egípcia a apelar para o derrube do regime. As televisões
de todos os Estados-membros da OTAN ou do Conselho de Cooperação do Golfo
predizem a fuga do Presidente Hosni Mubarak. Enquanto o enviado especial do
Presidente Obama, o embaixador Frank Wisner (o padrasto de Nicolas Sarkozy),
simula primeiro apoiar Mubarak e depois alinha atrás da multidão e o pressiona
a retirar-se. Finalmente, após duas semanas de tumultos e de uma manifestação
reunindo 1 milhão de pessoas, Mubarak recebe ordem de Washigton para ceder e
demite-se.
No entanto, os Estados Unidos
entendem mudar a Constituição antes de colocar os Irmãos no Poder. O Poder
permanece pois temporariamente nas mãos do exército. O Marechal Mohammed
Hussein Tantawi preside o Comité Militar que administra os assuntos correntes.
Ele nomeia uma Comissão constituinte de 7 membros, entre os quais 2 Irmãos
Muçulmanos. É, aliás, um deles, o juiz Tareq Al-Bishri, quem preside aos
trabalhos.
No entretanto, a Irmandade mantém
manifestações todas as sexta-feiras à saída das mesquitas e dedica-se a
linchamentos de cristãos coptas sem qualquer intervenção da polícia.
9— Nada de revolução colorida no
Barém e no Iémene
Não tendo a cultura iemenita
nenhuma relação com a da África do Norte, a não ser o uso comum da mesma
língua, uma contestação significativa sacode desde há vários meses o Barém e o
Iémene. A concomitância com os eventos da Tunísia e do Egipto arrisca baralhar
os dados. O Barém hospeda a Vª Frota dos E.U.A e controla o tráfego marítimo no
Golfo Pérsico, enquanto o Iémene controla com o Djibuti a entrada e saída do
mar Vermelho e do Canal de Suez.
A dinastia reinante teme que a
revolta popular derrube a monarquia e acusa, por reflexo, o Irão de a
organizar. Com efeito, em 1981, um Aiatola(xiita) iraquiano tentou exportar a
revolução do imã Khomeini e derrubar o regime fantoche colocado no Poder pelos
Britânicos aquando da independência, em 1971.
O Secretário da Defesa, Robert
Gates, dirige-se ao local e autoriza a Arábia Saudita a abafar estas genuínas
revoluções à nascença. A repressão é dirigida pelo Príncipe Nayef. Ele pertence
ao clã dos Sudeiris, tal como o Príncipe Bandar, embora Nayef seja seu
primogénito e Bandar não passe do filho de uma escrava. A repartição de papéis
entre os dois homens é clara: o tio mantém a Ordem reprimindo os movimentos
populares, enquanto o sobrinho desestabiliza Estados através do terrorismo. O
importante é distinguir muito bem os países nos quais eles operam [5].
10— A Primavera Árabe na Líbia
Se Washington previu o derrube
das administrações aliadas de Ben Ali e de Mubarak sem recurso à guerra, a
coisa vai ser diferente relativamente à Líbia e à Síria, governadas pelos
revolucionários Kadhafi e Assad.
No início de Fevereiro, quando
Mubarak ainda é Presidente do Egipto, a CIA organiza no Cairo o lançamento da
continuação das operações. Uma reunião junta diversos actores, incluindo a NED
(representada pelos senadores republicano John McCain e democrata Joe
Liberman), a França (representada por Bernard-Henri Lévy) e os Irmãos
Muçulmanos. A delegação líbia é dirigida pelo Irmão Mahmoud Jibril (o que
formou os dirigentes do Golfo e reorganizou a Al-Jazeera). Ele entra na
sala como número 2 do governo da Jamahiriya, mas sai como ... chefe da oposição
à «ditadura». Ele não voltará ao seu luxuoso gabinete de Trípoli, antes
regressará a Bengazi, na Cirenaica. A delegação síria inclui Anas al-Abdeh
(fundador do Observatório Sírio dos Direitos do Homem) e o seu irmão Malik
al-Abdeh (director da Barada TV, uma televisão anti-síria financiada pela
CIAe pelo Departamento de Estado). Washington dá instruções para o desencadear
das guerras civis, tanto na Líbia como na Síria.
A 15 de Fevereiro, Fathi Terbil,
advogado das famílias das vítimas do massacre na prisão de Abu Salim, em 1996,
percorre a cidade de Bengazi garantindo que a prisão local está em chamas e
apelando para a libertação dos presos. Ele é detido por pouco tempo e libertado
no mesmo dia. No dia seguinte, a 16 de Fevereiro, sempre em Bengazi,
desordeiros atacam três esquadras da Polícia, as instalações da Segurança
Interna e as do Procurador. Defendendo o arsenal da Segurança Interna, a
polícia mata 6 atacantes. Neste entretanto, em Al-Bayda, entre Bengazi e a
fronteira egípcia, outros desordeiros atacam igualmente esquadras da Polícia e
os serviços da Segurança Interna. Tomam o quartel Hussein Al-Jwaifi e a Base
Aérea militar de Al- Abrag. Apoderam-se de uma grande quantidade de armas, dão
uma tareia aos guardas e enforcam um soldado. Outros incidentes, menos
espectaculares, ocorrem de forma coordenada em sete outras cidades [6].
Estes atacantes reivindicam-se
do Grupo Islâmico Combatente na Líbia (GICL-Alcaida) [7].
São todos membros, ou antigos membros, dos Irmãos Muçulmanos. Dois dos seus
chefes foram submetidos a uma lavagem de cérebro, em Guantánamo, segundo as
técnicas dos Professores Albert D. Biderman e Martin Seligman [8].
No fim dos anos 90, o GICLtentou por quatro vezes assassinar Mouamar
Kadhafi a pedido do MI6, e estabelecer uma guerrilha nas montanhas de Fezzan.
Foi então tenazmente combatido pelo General Abdel Fattah Younés, que o forçou a
abandonar o país. Ele figura desde os atentados de 2001 na lista das
organizações terroristas estabelecida pelo Comité 1267 da ONU, mas dispõe de um
escritório em Londres, sob a proteção do MI6.
O novo chefe do GICL,
Abdelhakim Belhaj, que se batera no Afeganistão, ao lado de Osama Bin Laden, e
no Iraque, havia sido detido na Malásia em 2004, depois transferido para uma prisão
secreta da CIA na Tailândia, onde foi submetido ao soro da verdade e a tortura.
No seguimento de um acordo entre os Estados Unidos e a Líbia foi reenviado para
a Líbia, onde foi de novo torturado, mas, desta vez, por agentes britânicos na
prisão de Abu Salim. Em 2007, o GICL e a Alcaida fundem-se.
Entretanto, no quadro de negociações com os Estados Unidos, durante o período
de 2008-10, Saif al-Islam Kaddafi tinha negociado uma trégua entre a Jamahiriya
e o GICL (AlCaida). Este havia publicado um longo documento, Os Estudos
Correctivos, no qual admite ter cometido um erro ao apelar para a jiade contra
outros muçulmanos num país muçulmano. Em três vagas sucessivas, todos os
membros da Alcaida foram amnistiados e libertados sob a exclusiva condição de
renunciarem por escrito à violência. Em 1. 800 jiadistas, apenas uma centena
recusa este acordo e prefere ficar na prisão. Após a sua libertação, Abdel
Hakim Belhadj deixou a Líbia e instalou-se no Catar. Todos acabaram por
conseguir regressar à Líbia sem despertar atenções,
A 17 de Fevereiro, os Irmãos
organizam uma manifestação em Bengazi em memória dos 13 mortos ocorridos
durante a manifestação contra o Consulado da Itália, em 2006. Segundo os
organizadores, fora Muammar Kaddafi quem teria à época montado o caso das «caricaturas
de Maomé» com a ajuda da Liga do Norte italiana. A manifestação degenera.
Registam-se 14 mortos, entre os manifestantes e os polícias.
É o inicio da «revolução». Na
realidade, os manifestantes não buscam derrubar a Jamahiriya, mas proclamar a
independência da Cirenaica. Assim, em Bengazi, distribuem-se dezenas de milhar
de bandeiras do rei Idris (1889-1983). A Líbia moderna agrupa três províncias
do Império Otomano, que formam um país único apenas a partir de 1951. A Cirenaica foi
governada de 1946 a
1969 pela monarquia dos Senussi –-uma família wahhabita apoiada pelos
Sauditas--- que acabou por estender o seu poder sobre toda a Líbia.
Muammar Kadhafi promete «fazer
correr rios de sangue» para salvar a sua população dos Islamistas. Em Genebra,
uma associação criada pela NED, a Liga Líbia dos Direitos do Homem, retira
estas declarações do seu contexto e apresenta-as à imprensa ocidental como
sendo ameaças contra o Povo Líbio. Ela garante que ele está a bombardear
Tripoli. Na realidade, a Liga é uma espécie de concha vazia reunindo os futuros
ministros do país após a invasão da OTAN.
A 21 de Fevereiro, o Xeque
Youssef al-Qaradawi lança na Al-Jazeera uma fátua ordenando aos
militares líbios que salvem o seu povo assassinando Muammar Kaddafi.
O Conselho de Segurança,
baseando-se nos trabalhos do Conselho dos Direitos do Homem em
Genebra —o qual ouviu a Liga e o Embaixador líbio— e a pedido do Conselho
de Cooperação do Golfo, autoriza a utilização da força afim de proteger a
população do ditador.
Quando o Pentágono lhe ordena
para se coordenar com o GICL (Alcaida), o sangue do comandante do AfriCom,
o General Carter Ham, ferve. Como podemos cooperar na Líbia com os indivíduos
que combatemos no Iraque, e que mataram GI.s? Ele é imediatamente demitido das
suas funções em favor do comandante da EuCom e da OTAN, o Almirante
James Stavridis.
Intermezzo: A 1 de Maio de 2011,
Barack Obama anuncia que, em Abbottabad (Paquistão), o comando 6 dos Navy Seals
(tropa de fuzileiros- ndT) eliminou Osama bin Laden, do qual se estava sem
novas credíveis desde há quase 10 anos. Este anúncio permite fechar o dossier
Alcaida e renovar a imagem dos jiadistas para os refazer como aliados dos EUA,
tal como nos bons velhos tempos das guerras do Afeganistão, Bósnia-Herzegovina,
da Chechénia e do Kosovo. O corpo de «Bin Laden» é submerso em alto mar [9].
Durante seis meses, a linha da
frente na Líbia permanece inalterada. O GICL controla Bengazi e
proclama um Emirado islâmico em Derna, a cidade de onde a maioria dos seus
membros são originários. Para aterrorizar os Líbios, rapta gente ao acaso. Mais
tarde encontra-se os seus corpos desmembrados, os seus membros espalhados nas
ruas. Sendo os jiadistas à partida pessoas normais, fazem-lhes tomar uma
mistura de drogas naturais e sintéticas que lhes faz perder toda a razão. Podem
pois, então, cometer atrocidades sem ter consciência das mesmas. Tendo a CIA
subitamente necessidade de grandes quantidades de Captagon —um
derivado de anfetaminas— solicita o Primeiro-ministro búlgaro, o chefe mafioso
Boïko Borissov - o qual presidirá o Conselho Europeu em 2018.
Este é um
antigo guarda costas que se juntou à Security Insurance Company, uma das duas
grandes organizações mafiosas dos Balcãs. Esta companhia dispõe de laboratórios
clandestinos que produzem esta droga para os desportistas alemães. Borissov vai
fornecer pastilhas milagrosas às toneladas, para tomar fumando juntamente
haxixe [10].
O General Abdel Fattah Younes
deserta e junta-se aos «revolucionários». É pelo menos o que se diz no
Ocidente. Na realidade, ele permanece ao serviço da Jamahiriya tornando-se o
chefe das forças da Cirenaica independente. Os Islamistas, que se lembram da
sua ação contra eles uma década antes, não tardam a descobrir que ele está
ainda em contacto com Saif al-Islam Kadhafi. Estendem-lhe uma armadilha,
matam-no, queimam-no e devoram uma parte de seu corpo.
O Emir Hamad do Catar espera
acabar com a Jamahiriya e instalar o novo Poder como já tinha feito com o
“Presidente” inconstitucional do Líbano. Enquanto a OTAN se limita a atacar por
via aérea, o Catar instala um aeroporto de campanha no deserto e desembarca
homens e material. Mas as populações de Fezzan e da Tripolitânia permanecem
fiéis à Jamahiriya e ao seu Guia.
Enquanto a OTAN lança um dilúvio
de fogo sobre Tripoli, em Agosto, o Catar reuniu Forças especiais e desembarcou
blindados na Tunísia. Estes milhares de homens não são evidentemente Cataris,
mas mercenários –-principalmente Colombianos--- treinados pela Academi
(ex-Blackwater/Xe) nos Emirados Árabes Unidos. Eles juntam-se à Alcaida
(tornada aceitável, embora ainda considerada como terrorista pela ONU) em
Trípoli, vestidos e encapuçados de negro, afim de que só se possa ver os seus
olhos.
Apenas dois grupos de Líbios
participam na tomada de Tripoli, os combatentes de Misrata, os quais obedecem à
Turquia, e o GICL. A brigada de Tripoli (Alcaida) é comandada pelo
Irlandês-Líbio Mahdi al-Harati e enquadrada por oficiais regulares do Exército
francês.
Antes mesmo de Muammar Kaddafi
ser linchado, um governo provisório é formado por Washington. Nele encontramos
todos os heróis desta história : sob a presidência de Mustafa Abdel Jalil (o
que encobriu as torturas às enfermeiras búlgaras e ao médico palestiniano),
Mahmoud Jibril (que treinou os emires do Golfo, reorganizou a Al-Jazeera, e
participou na reunião do Cairo em Fevereiro), Fathi Terbil (o que lançou a
«revolução» em Bengazi). O chefe do GICL, e antigo número 3 mundial da Alcaida,
Abdel Hakim Belhadj (implicado nos atentados da estação de Atocha, em Madrid),
é nomeado «governador militar de Tripoli».
(Continua…)
Thierry Meyssan* |
Voltaire.net.org | Tradução Alva
* Intelectual francês,
presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas
análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana
e russa. Última obra em francês: Sous
nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).
Imagens:
1 - Ben Ali (Tunísia), Kadhadi
(Líbia) e Mubarak (Egipto) eram, em 2011, três chefes de Estado às ordens de
Washington (Kadhafi desde a sua reviravolta de 2003, os dois outros desde
sempre). Apesar dos serviços prestados, eles foram varridos em proveito dos Irmãos
Muçulmanos; 2 - Sob proposta da OTAN,
Abdelhakim Belhaj (no centro), o chefe do GICL (ramo líbio da Alcaida) torna-se
governador militar de Tripoli. Mahdi al-Harati (à esquerda), que o Presidente
Erdogan tinha vindo felicitar aquando do episódio da Flotilha da Liberdade em
Gaza, é o seu adjunto.
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Este livro está disponível em Francês, Espanhol, Russo, Inglês e Italiano em
versão em papel. Possui versão já traduzida em Língua Portuguesa (NdT).
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