O medo de que a China venha a criar um bloco militar na Ásia já existe há vários anos
No contexto das tentativas dos
EUA de fazer frente ao gigante asiático em diferentes áreas, a colunista Sofia
Melnichuk da Sputnik analisa se Pequim estará realmente disposto a
criar uma aliança militar com países vizinhos.
No passado mês de junho, o presidente da China, Xi Jinping, sugeriu pensar em uma
"estrutura de segurança" na região durante uma reunião com seus
parceiros euroasiáticos no âmbito da Conferência sobre Interação e Medidas de
Confiança na Ásia, que decorreu em Duchambe (Uzbequistão).
Aliança asiática
Alguns especialistas qualificaram
esta iniciativa como um desejo de criar uma aliança em oposição à Organização
do Tratado do Atlântico Norte, uma espécie de OTAN asiática.
No entanto, unir-se contra o
Ocidente num bloco asiático será bastante problemático, nota a colunista.
A proposta do presidente chinês
surge após a publicação do relatório do Departamento de Defesa dos EUA que critica as atividades da Rússia, Coreia do
Norte e, sobretudo, da China.
"A China utiliza incentivos
e sanções económicas, influencia as operações, usa ameaças militares para
persuadir outros Estados a seguirem o seu programa", diz o relatório.
Embora o relatório não mencione a
possibilidade de Pequim poder vir a criar um bloco militar na região,
verifica-se que os EUA já estão trabalhando com os países vizinhos para conter
a China.
De fato, parece que o círculo de
aliados dos EUA está-se apertando em volta da China: o Japão, a
Austrália e a Índia fazem parte do Diálogo de Segurança Quadrilateral, e para
além disso, os EUA têm parceiros de confiança no Sudeste Asiático.
"Há desafios na região e
aquilo que Xi Jinping diz não representa planos agressivos, mas sim uma reação
forçada", comentou à Sputnik Sergei Sanakoyev, Chefe do Departamento
Analítico Russo-Chinês do Centro de Investigação da Ásia-Pacífico.
O importante para Pequim agora é
ter a oportunidade de se reunir com os parceiros, debater determinados problemas
e pensar em conjunto sobre a sua solução.
Para tratar disso podem ser
utilizados o Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico, o grupo BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai, sendo esta última a
estrutura principal em termos de segurança na Ásia. Nesta plataforma Pequim
apresenta suas iniciativas, aumenta a confiança e propõe todo o tipo de
eventos, explica a autora do artigo.
Política asiática
A China simplesmente não tem
razões para se transformar num adversário aberto dos EUA nem criar um bloco
militar. Os acordos e as declarações que Pequim assina com outros países não
podem ser qualificados como alianças.
"[ A criação] da OTAN
asiática é simplesmente impossível", disse à Sputnik Vasiliy Kashin, especialista
principal do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola Superior de
Economia.
Todos estes países são maiores
que os ocidentais e têm suas próprias obrigações e interesses.
"A ideia de que a China irá
criar a sua própria OTAN deve-se a uma falta de compreensão de como funciona a
política na Ásia. As pessoas usam estereótipos, fazem paralelos como Guerra
Fria, coisas que simplesmente não funcionam na região asiática", destacou
Kashin.
O especialista explicou que a
ordem mundial asiática é mais complexa que a europeia, por isso aplicar o mesmo
padrão aqui não faz muito sentido.
Na Ásia não existe uma aliança
única, o que limita consideravelmente as capacidades dos EUA na região.
"Os americanos não
conseguiram unir os parceiros asiáticos. Inclusive, é difícil fazer cooperar o
Japão com a Coreia do Sul, por exemplo", salientou Kashin.
Ao mesmo tempo, o pilar de
segurança de Tóquio é a sua aliança com os Estados Unidos. A Austrália é também
um aliado dos EUA. Qualquer documento relativo à defesa que se assine com os
chineses discute-se com Washington.
A formação de uma rede de
alianças político-militares não está entre os planos dos líderes chineses.
Reconhecer tal necessidade
significaria uma revisão de todo o conceito de política exterior do seu país,
formado desde os tempos de Deng Xiaoping.
A retórica pacífica continua
sendo parte da imagem da China no âmbito internacional, mas o país também não
esconde a necessidade de fortalecer as suas Forças Armadas.
Sputnik | Foto: Sputnik / Vitaliy
Ankov
Sem comentários:
Enviar um comentário