Cartoon em Diário de Notícias, Janeiro de 2017. Ainda atual. |
Paula Ferreira |
Jornal de Notícias | opinião
Mais do que saber para que serviu
a Caixa Geral de Depósitos (CGD) durante os últimos anos, importa esclarecer o
silêncio, a passividade, de quem tinha o dever de garantir que o banco público
cumpria as suas obrigações e não o fez. O relatório da Comissão Parlamentar de
Inquérito à CGD, ontem entregue no Parlamento, não deixa margem para dúvidas.
Tanto o acionista (ou seja, o Estado), como a entidade com a missão de
supervisionar as decisões tomadas pelos sucessivos administradores (o Banco de Portugal),
pouco ou nada intervieram. Demitiram-se, portanto, do seu papel.
Mas a questão de saber para que
serviu, ou a quem serviu a Caixa, não deve ser esquecida. Findo o ciclo de
investigação levado a cabo no Parlamento, caberá às autoridades judiciais
encontrar essa resposta. Todo o material apurado pelos deputados será entregue
à Procuradoria-Geral da República, entidade que apurará se houve ou não crime
na forma como a CGD foi gerida.
Há uma pergunta ainda a carecer
de resposta: quem se serviu, de forma irregular, da Caixa? Não parece haver
grandes dúvidas, no entanto, que o único banco estatal esteve ao serviço de
interesses particulares, foi usado em guerras comerciais, ao invés de cumprir a
sua missão de ajudar a desenvolver o país com rigor.
Joe Berardo será, para a maioria
dos portugueses, o rosto que expressa aquilo que a CGD foi e não deveria ter
sido. A Berardo, o banco público emprestou dinheiro para a compra de ações com
o objetivo de controlar um banco privado e não foram exigidas garantias. Berardo, como agora é do conhecimento dos portugueses, deve milhões à Caixa,
que dificilmente serão recuperados, apesar dos recentes arrestos, aparentemente
feitos à la carte, para sossegar a opinião pública.
O ex-comendador Berardo é apenas
o símbolo do que foi a festança do banco público. Há outros, certamente.
Ficamos à espera dos próximos episódios.
*Editora executiva adjunta
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