Filomeno Manaças | Jornal de
Angola | opinião
A três semanas e meia das
eleições presidenciais na Guiné-Bissau, previstas para terem lugar no dia 24, o
Presidente cessante e um dos candidatos ao pleito eleitoral, José Mário Vaz,
acaba de protagonizar o que pode ser considerado como o seu enterro político.
Mesmo sabendo das limitações de
poder que detém, enquanto Presidente cessante, José Mário Vaz, num lance
político arrojado demais para quem tem eleições às portas e é um dos principais
concorrentes, entendeu avançar, segunda-feira, com um decreto de exoneração do
Primeiro-Ministro Aristides Gomes e do seu Governo. Terça-feira, dava posse a
Faustino Imbali como novo Primeiro-Ministro.
A Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental não tardou a reagir e fê-lo sem dar hipóteses de segundas interpretações, ao considerar ilegal a demissão de Aristides Gomes. A tomada de posição da CEDEAO foi crucial, tendo em conta o papel que esta organização regional tem desempenhado na gestão e acompanhamento da crise política na Guiné-Bissau, que se instalou poucos meses depois das eleições de 2014, com o Presidente José Mário Vaz a desentender-se e a demitir o Governo de Domingos Simões Pereira. De lá para cá, o país andou praticamente sob tensão.
Ao longo destes anos, a CEDEAO organizou vários encontros, no sentido de promover consensos entre os actores políticos guineenses, de modo a viabilizar a normalidade institucional e uma governação com estabilidade. Porém, postos no terreno, surgiram sempre interpretações diferentes em relação aos acordos alcançados e, quando a expectativa era a de que os desenvolvimentos iriam seguir o espírito e a letra do que tinha sido rematado como corolário das conversas realizadas, eis que um novo dado, um novo elemento é colocado em cena para atrapalhar tudo.