quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Angola | Furiosa Dança das Cadeiras -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Instituto Superior Politécnico Tocoísta está a formar jovens. Mais um tijolo na construção do sistema educativo. A obra de Simão Toco cresce à sua imagem e semelhança. Eu conheci o profeta. Era amigo de meu Pai, que lhe dava crédito ilimitado na sua casa comercial de Mucaba. Ele, que era um ateu incorrigível, confiava e acreditava no profeta! Porque era um homem bondoso e transmitia calor humano. A cordialidade foi inventada por Simão Toco. 

Os colonialistas prenderam o profeta. Depois foi deportado para os Açores. Mais uma machadada na herança do Reino do Congo quinhentista. Poucos conhecem quanto vale esse legado. Os nossos historiadores estão mais virados para a espuma dos dias. Tenho pena. O tribalismo é filho da ignorância. 

Os delegados ao congresso extraordinário do MPLA tomaram as suas decisões, legitimamente. O Comité Central elegeu um novo Bureau Político e o seu Secretariado. Os seus membros têm toda a legitimidade para fazerem as mudanças que fizeram, quando bem entenderem. 

A propaganda oficial diz que foi o Presidente João Lourenço! Não percebem que ao ignorar o colectivo a favor do culto da personalidade estão a fazer do “amplo movimento” uma coisa sem outro préstimo que não seja engordar a clique que está no poder, renovada, mais ou menos, de congresso a congresso.

O rejuvenescimento está feito. Felizmente ficaram alguns jovens do meu tempo que dão credibilidade e experiência à direcção do MPLA. Mas João Lourenço e os seus sequazes aproveitaram o balanço para expulsar do Bureau Político Irene Neto, filha do Presidente Agostinho Neto. Velhíssima, comparada com o seu parente Roberto de Almeida. A perseguição aos familiares de Neto e José Eduardo continua em nome do “rejuvenescimento” da direcção do partido. Tem o seu quê de ridículo. O filho de enfermeiro está a exagerar.

Ontem nomeou Mara Quiosa para governadora do Cuanza Sul. Hoje a direcção do MPLA elegeu-a vice-presidente do partido. Quando foi nomeada já se sabia que havia um congresso extraordinário. E como estas coisas são pensadas e estudadas, seguramente já estava decidido que ia para a vice-presidência. Nem no Zaire de Mobutu se geriam assim os quadros. Nem no reinado de Bokassa a dança das cadeiras era tão louca. 

Para mal do partido, de Angola e do Povo Angolano, Mara Quiosa foi nomeada e desnomeada à vontade do chefe. Ela é do melhor que existe na direcção do MPLA. Querem desqualificá-la. Só pode. Mas confio que vai fazer um grande lugar. Os que apostaram tudo na destruição do MPLA, os “americanos”, vão ter pela frente um obstáculo muito difícil de transpor. Apoiemos Maria Quiosa até onde for preciso.

O mesmo se pode dizer do General Lúcio do Amaral, oficial com uma folha de serviços brilhantíssima. Ontem foi nomeado para um posto fundamental, tendo em conta a prática política da associação de malfeitores chamada UNITA. Foi confiada à sua competência e experiência, a defesa das infraestruturas estratégicas.

Hoje foi nomeado governador do Cuando. Em 50 anos de Independência Nacional, Angola formou milhares de quadros superiores, no âmbito das Forças Armadas. O melhor que nos aconteceu em termos da formação de quadros. A nomeação do General Lúcio do Amaral foi uma medida muito acertada e de aplaudir. Mas a sua exoneração para ser despachado como governador do Cuando é mais um castigo. 

No tempo do colonialismo, os chefes de posto que não obedeciam ao banditismo reinante eram castigados. Sabem como? Iam para postos nas “Terras do Fim do Mundo” (Cuando Cubango). Alguns enlouqueciam no posto. 

Eu vi um completamente transtornado na Luiana. Contava girafas que iam beber ao rio. O castigado chefe de posto de Dirico andava com um carrinho de bordão para trás e para a frente como se fosse uma criança. E lamuriava: Quero a minha mamã! O de Mavinga vestia-se de mulher! O General Lúcio do Amaral foi retirado das infra-estruturas estratégicas para governar uma província encolhida, que um civil podia governar sem dificuldades, como se comprovou, até ontem, com José Martins.

Nkanga Gomes, sociólogo da TPA (ali só não há jornalistas…) defendeu ontem isto: “Os que abusam sexualmente de menores devem ser sujeitos a castração química e condenados a prisão perpétua”. A TPA é a voz do dono. O dono já vai na extremíssima direita! Cuidado, o filho de enfermeiro pode aproveitar a ideia. Assim fica tudo mais fácil. Quem não obedece à americanização em curso é castrado quimicamente e preso perpetuamente, acusado de abusador sexual de menores! 

Nada de novo. A Casa dos Brancos e Bruxelas estão nessa onda. O Parlamento Europeu acaba de premiar a líder da extrema-direita venezuelana, Maria Corina Machado, e o seu títere candidato derrotado à Presidência da República, Edmundo González Urrutia. 

O velhote está tão podre como Biden. Mas coxeia mais e tem esgares mais demenciais. Garantiu aos deputados de Bruxelas que no dia 10 de Janeiro está em Caracas para tomar posse como presidente da Venezuela. A internacional fascista acredita no Pai Natal. Ou então vai contratar João Lourenço para rejuvenescer a Venezuela!  

* Jornalista

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