Quase 20% dos doentes curados
ficaram a ocupar uma cama, sem necessidade, durante cerca de duas semanas.
A conclusão é do barómetro
especial sobre internamentos sociais, da Associação Portuguesa de
Administradores Hospitalares (APAH). Realizado anualmente, o estudo inclui, na
4.ª edição, um levantamento feito em Maio sobre os doentes com Covid-19. Esse
barómetro especial revela que 18% dos doentes curados continuaram internados,
em média 16,5 dias, por "falta de capacidade de familiares ou
cuidadores", incapacidade dos lares em "garantir condições
apropriadas de isolamento" ou por estarem a "aguardar por um teste
negativo para poderem ser admitidos" na Rede de Cuidados Continuados.
Destes internamentos inapropriados, a maioria (73%) estava na região Norte e
tinha idade igual ou superior a 70 anos (77%).
O presidente da APAH, Alexandre
Lourenço, sublinha que "deveria ter havido respostas sociais para os
doentes com Covid-19 que não necessitam de cuidados hospitalares",
defendendo que "para segundas ou terceiras vagas, é preciso planear este
tipo de resposta de cuidados continuados ou de natureza social".
Na avaliação global, destaca-se
um aumento de 87% do número de internamentos sociais, em comparação com 2019.
No entanto, a subida dos números pode estar relacionada com um maior número de
hospitais analisados (mais sete). O certo é que, à data do barómetro, eram 1551
os casos sociais, a maioria idosos com mais de 65 anos, internados em unidades
de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte do país.
Alexandre Lourenço realça que a
área de Lisboa é a que tem carências mais graves. "O número de respostas é
muito reduzido, com processos do século passado." O responsável da APAH
considera que "é preciso reduzir a burocracia de acesso à rede, com
processos mais ágeis e automatizados", para que as autorizações sejam mais
rápidas.
Em média, os idosos em
internamento social ficaram dois meses e meio a aguardar uma solução, mas, no
caso mais difícil, um doente com alta teve de esperar 220 dias - mais de sete
meses - até poder sair do hospital.
Alexandre Lourenço recorda que os
riscos aumentam "por cada dia a mais que o doente está internado".
Pelas contas da APAH, os
internamentos sociais vão custar ao Estado, só este ano, 184 milhões de euros.
O barómetro vai ser apresentado
esta segunda-feira, numa iniciativa conjunta da Associação Portuguesa de
Administradores Hospitalares, da EY e da Sociedade Portuguesa de Medicina
Interna.
Cristina Lai Men | TSF
* a autora não segue o Acordo
Ortográfico de 1990
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