domingo, 10 de maio de 2020

Portugal | Estamos preparados?


Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Neste tempo estranho, o regresso à "vida normal" é ensaiado num entrelaçado mal distinto entre medos de se ser infetado e ilusões quanto à perspetiva de uma recuperação rápida dos estragos já manifestos. Olhamos em redor e vemos elevado desemprego, agravamento de desigualdades, carências gritantes e o espetro da fome para muitas pessoas; vemos atividades diversas em estado comatoso, falências a anunciar-se. Entretanto, da União Europeia (UE), que se diz ser ancoradouro de solidariedade, chegam-nos sinais inequívocos de bloqueio e de negação de apoios financeiros e outros.

Na passada terça-feira, o Tribunal Constitucional alemão pronunciou-se sobre políticas monetárias do Banco Central Europeu (BCE) para as condenar, invocando que o programa original do banco, de compra de ativos, viola os tratados europeus e a Constituição alemã, posição que à partida não bloqueia o Programa do BCE de resposta à pandemia, mas que o condicionará. Ora, se esse programa por si só está longe de resolver os problemas e se o Banco Central vai ficar ainda mais aprisionado, que instrumentos restam para socorrer os países depauperados com as respostas que deram e têm de continuar a dar no combate à pandemia?

A reunião do Conselho Europeu convocada para disparar a tal bazuca que nos permitiria encarar o futuro com confiança foi adiada para meados do mês. Tudo sugere que a UE entrou em pane, nem anda para trás, nem para a frente. As políticas dualistas e muitas vezes propositadamente obscuras seguidas pela UE - para execução dos mecanismos da moeda única, da concorrência fiscal e do mercado único - criaram nos cidadãos europeus fracionamentos perigosos, interpretações erradas sobre quem beneficia e quem perde no funcionamento da União. Na última crise, os povos do Sul, como o português, foram acusados de preguiçosos, sujeitos a políticas erradas e injustas que causaram grande sofrimento, parte da sua juventude mais qualificada foi "exportada" para os países do Centro em benefício destes, mas o rótulo acusador continua vivo e a transformar-se em inimizade. E nesse Centro/Norte proliferam governantes que instigam essa inimizade para dela se alimentarem politicamente.

Neste quadro é particularmente estranho que as autoridades nacionais - do Governo à Presidência da República, passando pelo partido do Governo e pelo que se arroga poder ser Governo em coligação ou alternativa - se mantenham seguidistas nesta UE e continuem a convidar o país a estar pendente de decisões salvíficas de terceiros. Elas não têm acontecido e, com grande probabilidade, não irão acontecer.

O cenário que vivemos prefigura a necessidade de cada país e cada povo terem como prioridade tomar em mãos, com os seus recursos e instituições, a resolução dos problemas. Não é cada um por si de forma fechada ou egoísta, mas sim o deitar mão de capacidades e instrumentos coletivos que continuam a situar-se fundamentalmente ao nível de cada Estado, enquanto se buscam revitalizações de compromissos e instituições mais solidárias, quer no plano europeu, quer no mundial.

O estado de bloqueio da UE e as iniciativas do único país (soberano) da mesma União, a Alemanha, em que o Tribunal Constitucional delibera sobre políticas europeias, parecem sugerir-nos isso Nós, portugueses, estamos preparados para responder?

*Investigador e Professor Universitário

Mais nove mortes e 175 infetados por covid-19 em Portugal


Portugal registou, nas últimas 24 horas, mais nove vítimas mortais por covid-19. Desde o início do surto já morreram 1135 infetados no país.

De acordo com o boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS) enviado este domingo, há mais nove mortes por covid-19 em Portugal (ontem tinham sido registados 12 óbitos).

Desde o início da pandemia, o novo coronavírus já matou 1135 cidadãos. Em relação ao número de infetados, houve um aumento de 175 doentes nas últimas 24 horas. O número total de pessoas que contraíram SARS-Cov-2 é, assim, de 27581.

De sublinhar ainda que os internados voltaram a baixar: são agora 797, menos 18 do que ontem. Nos cuidados intensivos estão 112 pacientes, valor que também regista um decréscimo face ao boletim anterior (ontem eram 120).

Foram registadas, este domingo, mais 50 recuperações. Há, agora, 2549 pessoas consideradas curadas desde o início do surto em Portugal.

No que toca às regiões, o Norte permanece como o mais afetado pelo vírus: são 648 mortes e 15952 doentes. Segue-se Lisboa e Vale do Tejo com 243 vítimas mortais e 7242 infetados e o Centro com 216 mortes e 3581 pessoas com o novo coronavírus.

No Algarve, registam-se 13 mortes (mesmo número de ontem) e 346 infetados (mais um). No Alentejo não houve qualquer alteração face ao boletim de sábado: uma vítima mortal e 235 infetados.

Mariana Albuquerque | Jornal de Notícias

PIRATARIA E CHOQUE SOBRE O MERIDIANO DE CARACAS


  
Um ano depois duma tentativa de golpe de estado que foi apenas um dos episódios inscritos num estendal de incessantes manipulações e ingerências multiformes que se sucedem de há praticamente duas décadas a esta parte, num momento em que a pandemia do Novo Coronavírus toma conta das preocupações globais, o império da hegemonia unipolar ávido das riquezas da Venezuela Bolivariana volta ao choque com novos ingredientes e roupagens, conformando uma ágil espada psicadélica de pirata das Caraíbas, incidindo sobre o meridiano de Caracas a partir do mar e tendo como alvo a cabeça do próprio estado bolivariano!

O que foi publicado a 29 de Abril nas páginas da Frente Anti Imperialista Internacionalista e no dia seguinte no Página Global Blogspot sob o título de “Boqueio e pirataria em pleno século XX”, tem agora eco nos acontecimentos que eclodiram nesta madrugada sobre as praias de Vargas, em Macuto, uma pequena localidade a leste do porto de La Guaira!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/bloqueio-e-pirataria-em-pleno-seculo-xxi.html).

Os acontecimentos desenrolaram-se precisamente na área onde um grupo das caravanas de solidárias entidades de todo o mundo que acorreram a Caracas a 5 de Março de 2018, teve a oportunidade de evocar o Comandante Hugo Chávez, a mesma área que há 20 anos havia sofrido o desastre do dilúvio de Vargas que pôs à prova a decisiva aliança cívico-militar matriz do socialismo do século XXI na Venezuela!

Apesar do choque, conforme escrevi a 14 de Março de 2018, “Caracas jamais será como Santiago”!... (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/03/caracas-jamais-sera-como-santiago.html).

A luta pela hegemonia


Samuel Pinheiro Guimarães [*] – em Pátria Latina

O fenómeno político, económico e militar mais importante, anterior à emergência do Coronavírus e que, após o fim da Pandemia, permanecerá, é a firme disposição dos Estados Unidos de manter sua hegemonia mundial, seu poder de Império, face à ascensão e à competição chinesa.

A hegemonia em nível mundial é a capacidade de elaborar, divulgar e fazer aceitar pela maioria dos Estados uma visão do mundo em que o país hegemónico é o centro; de organizar a produção, o comércio e as finanças mundiais de forma a captar para a sede do Império uma parcela maior do Produto Mundial para uso de sua população, e muito em especial de suas classes hegemônicas e de seus altos funcionários; a capacidade de impor a “agenda” da política internacional; a força para punir os Governos das “Províncias” do Império que se recusem a aceitar ou se desviem das normas (informais) de seu funcionamento.

As normas (informais) que os Governos das “Províncias” (que são Estados nacionais) devem seguir são: ter uma economia capitalista, aberta ao capital estrangeiro, com mínima intervenção estatal; dar igualdade de tratamento às empresas de capital nacional e às de capital estrangeiro; não exercer controle sobre os meios de comunicação de massa; ter um regime político pluripartidário com eleições periódicas; não celebrar acordos militares com Estados adversários, a saber Rússia e China; apoiar as iniciativas dos Estados Unidos.
Sempre que conveniente aos interesses do Império Americano estas normas são “flexibilizadas”, como, a título de exemplo, no caso de monarquias do Oriente Próximo.

Durante, após e desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, ao suceder o combalido Império Britânico, organizaram, em 1946, o sistema político mundial com as Nações Unidas e suas agências na Conferência de San Francisco; o sistema econômico, com o FMI, em 1944, para regular o sistema financeiro internacional, com base em taxas fixas de câmbio e no padrão ouro-dólar; o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD, hoje Banco Mundial) criado em 1944 para financiar a reconstrução europeia; o Acordo Geral de Tarifas Aduaneiras e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade, o GATT), em 1947, para regular o comércio internacional com base na cláusula da nação mais favorecida; a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1994, que administra acordos sobre comércio de bens, de produtos agrícolas, de serviços, sobre investimentos e propriedade intelectual, e solução de controvérsias; e o Plano Marshall, em 1948, para, através de doações e de financiamentos a juros baixos, em valor atual de 100 mil milhões de dólares; a reconstrução da Europa, conter a influência dos partidos comunistas e reativar a indústria americana de bens de capital; o sistema militar, com a OTAN, em 1949, que garantiu a presença de tropas americanas em bases na Europa Ocidental; os pactos regionais de defesa “mútua” como o TIAR, o Cento, a SEATO, o acordo com o Japão, o ANZUS (Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos); as bases militares, que fora do território americano são mais de 700; as sete Frotas, que patrulham os mares e oceanos; o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em 1968, que estabelece um oligopólio nuclear que permite aos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, França e China produzir, exportar, importar, armas e material nuclear e proíbe aos demais Estados; o sistema de “atração dos melhores cérebros” (que é o outro lado do “brain drain” ) de todos os países e de geração de ciência e tecnologia; e o sistema mundial de formação da opinião pública e de interpretação da realidade, através dos meios audiovisuais e da Internet.

Guerras e pestes: O neoliberalismo necessita eliminar parcelas da humanidade


Pedro Augusto Pinho* | Pátria Latina

Os dirigentes neoliberais preferirão a guerra, o fim da humanidade ao fim da fome?

Rigorosamente há um século. A Europa destruída por uma guerra e pela epidemia que matou muito mais do que a guerra.

O mundo Atlântico em crise pela economia não produtiva nem distributiva. E também sofrendo o mesmo tipo de epidemia do século atrás.

Em ambos os momentos havia uma porta de saída, mas a ganância, o egoísmo, o total desprezo pela pessoa humana levou, duas décadas depois, a uma segunda guerra, envolvendo muitos mais países. Hoje estamos vendo aproximar pela loucura dos dirigentes ocidentais, a guerra que pode ser o fim da humanidade.

Analisemos os fatos, busquemos entender seus fundamentos.

O sistema capitalista permite o desenvolvimento produtivo, é inegável. Mas é concentrador, ou seja, expulsa dos ganhos parcelas cada vez maior da humanidade. E necessita eliminar estas parcelas, com guerras e pestes, para vencer o grande inimigo demográfico.

Isto acontecia em 1920, com 1.834 milhões de pessoas, hoje somos 7.800. A cada 50 anos, neste último século, a população dobrou. Ou seja, duplicaram as necessidades de alimento, habitação, água, bens materiais como vestuários, meios de locomoção e ocupação produtiva, criativa ou espiritual.

Mas o mundo foi assolado nos anos 1980 por uma pandemia muito mais mortal e cruel: o neoliberalismo, concentrador de renda, eliminador de ocupações produtivas, cerceador da imaginação criadora, de tudo que não resultasse em ganho financeiro máximo e rápido.

E quando chega a pandemia virulenta de 2020 encontra a civilização atlântica com Estados Mínimos, controlados por empresas gestoras de ativos, promovendo a destruição industrial, o desemprego, a total insegurança.

E como ocorrera nos anos 1920 havia uma porta de saída. Não a adesão ao socialismo marxista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), mas diversos modelos capitalistas distributivistas e participativos, como sociedades corporativas, socialdemocratas, até mesmo estruturas de Estado autoritárias, mas inclusivas e valorizando o trabalho e a criatividade.

O mundo mecânico tinha limitações que o mundo virtual de hoje superou. As ameaças atuais são mais graves e danosas.

Vamos procurar entender, fora de chavões ideológicos, o que se passa na sociedade humana de 2020.

União Europeia anuncia apoio financeiro aos PALOP

No Dia da Europa, diplomatas do bloco em Moçambique, Cabo Verde e na Guiné-Bissau, anunciaram continuidade das parcerias e apoios financeiros aos países. Combate à Covid-19 está no centro das atenções de UE.

A União Europeia (UE) defendeu este sábado (09.05) que os desafios impostos pelo novo coronavírus não devem comprometer os esforços para a consolidação da paz em Moçambique, reiterando o seu compromisso em continuar a apoiar o país.

"Vamos continuar a trabalhar juntos na implementação do Acordo de Paz e Reconciliação assinado em agosto do ano passado", declarou o embaixador da UE em Maputo, António Sánchez-Benedito Gaspar, numa mensagem alusiva ao Dia da Europa.

Em causa está um acordo de paz assinado em agosto do ano passado entre o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, prevendo o desarmamento do braço armado do principal partido de oposição e a sua integração na polícia e no exército.

Apesar de as partes manifestarem recorrentemente o seu compromisso com o documento, a paz tem sido ameaçada por ataques armados desde agosto nas províncias de Manica e Sofala, no centro do país, incursões que já causaram a morte de 23 pessoas e têm sido atribuídas a dissidentes do principal partido de oposição no país.

Para a UE, é fundamental garantir que os progressos alcançados com este acordo permaneçam, condição para que o país dê continuidade a sua agenda de desenvolvimento.

"Os anseios e esperança dos moçambicanos não podem ser frustrados", observou o embaixador da UE em Maputo, frisando que a pandemia do novo coronavírus não deve alterar a agenda de desenvolvimento do país.

Além desta ameaça à paz, a província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, está a braços com a violência armada protagonizada por grupos classificados como uma ameaça terrorista desde outubro de 2017.

Sánchez-Benedito Gaspar entende que é necessário que se continue a procurar soluções que "ponham fim à violência extremista e ao sofrimento das populações em Cabo Delgado".

A violência armada em Cabo Delgado, onde avançam projetos para exploração de grandes reservas de gás natural em Moçambique, já causou a morte de pelo menos 500 pessoas e afetou outras 162 mil.

O mundo não é só a pandemia da Covid-19…



Andamos todos, e com muita razão, um pouco – ou muito – preocupados com a pandemia do coronavírus SARS-Cov-2 (Covid-19) que, tudo o indica e pouco há que o desminta, teria sido proveniente da China.

Isso é assunto para outras matérias e para especialistas de outras valências que não as que investigo. É que o Mundo não é só Covid-19.

Há muito mais que a pandemia que prolifera, quase em exclusivo em muita comunicação social, principalmente, a televisiva.

Acreditem, ou não, também há outras pandemias, quer na saúde, quer na política, quer na segurança.

Porque o mundo, nomeadamente, África, não é só Covid-19, deixo-vos aqui alguns exemplos, nestas três vertentes:

i. Ao nível da saúde:

1. No passado sábado, 25 de Abril, recordou-se uma das maiores e mais persistentes pandemias que continuam a varrer a humanidade, e, para a qual, continua a não existir uma vacina e nem parece que, alguma vez – mesmo que haja filantropos a tentar ajudar que isso aconteça – vá existir: o paludismo, ou malária.

De acordo com estimativas da OMS, e referidas pelo portal da ONU News, em 2018 – os de 2019, só saberemos em finais deste ano, como habitualmente –, terão ocorrido 228 milhões de contágios e 405 mil pessoas (cerca de 1,77%) falecidas devido a esta pandemia. Angola, por exemplo, em 2019, e de acordo com um artigo do Jornal de Angola, o paludismo foi a doença que mais matou no País. Já no primeiro trimestre de 2020, e de acordo com uma informação do VPN, na província da Lunda Sul, por exemplo, foram registados 49 mortos num universo de 24.150 infectados.

De acordo com a OMS, em 2018, ter-se-ão gasto em controlo e eliminação do mosquito da malária, cerca de 2,7 mil milhões de USDólares, bem aquém dos esperados 5 mil milhões de USDólares.

Se esta pandemia, tal como o SARS-Cov-2, atacasse o chamada Hemisfério branco ou do Norte (Europa e América do Norte) tenho a certeza de que já há muito que uma vacina, pelo menos, já estaria descoberta. Até lá, os laboratórios vão ganhando milhões com medicamentos pouco eficazes, com desparasitantes em aerossóis e certas indústrias têxteis com o fabrico de milhões de mosquiteiros…

Covid-19: Estados Unidos registam 1.568 mortos nas últimas 24 horas


Os Estados Unidos registaram 1.568 mortes causadas pela covid-19 nas últimas 24 horas, elevando para 78.746 o número total de óbitos desde o início da epidemia no país, foi hoje anunciado.

As autoridades norte-americanas contabilizaram também mais de 1,3 milhões de casos diagnosticados da covid-19, entre as 20h30 de sábado (01h30 de hoje em Lisboa) e a mesma hora na véspera, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, que atualiza os dados em permanência.

Os Estados Unidos são o país mais atingido pela covid-19, quer em número de mortos, como em casos diagnosticados, segundo dados oficiais.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 276 mil mortos e infetou mais de 3,9 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Mais de 1,3 milhões de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Lusa

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Nair de Teffé: a primeira caricaturista no Brasil


Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre | Brasil 

“A única coisa que gosta da cozinha é a comida”  - Nair de Teffé 

Em meio a padrões patriarcais, conservadores e positivistas dos primeiros anos após a Proclamação da República no Brasil (1889), uma mulher decidiu romper com o destino social preestabelecido de ser apenas a “Rainha do lar” e a educadora do futuro cidadão, optando por lutar pela realização de seus desejos e sonhos. Pintora, caricaturista, pianista, atriz, cantora, escritora e poliglota, o nome desta talentosa pioneira é Nair de Teffé (1886-1981).

 Filha do fazendeiro Antônio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé, e de Maria Luiza Dodsworth e neta do conde prussiano Frederico Guilherme Von Hoonholtz, esta bela carioca, como ratificam os registros fotográficos, nasceu sob o signo de Gêmeos, no dia 10 de junho de 1886, na Rua da Mata Cavalos, em Petrópolis (RJ), local citado na famosa obra Dom Casmurro (1899) de Machado de Assis (1839-1908).

A infância

Quando completou um ano de idade, em 1887, sua família partiu para a Europa onde seu pai havia sido designado pelo imperador para assumir um cargo. Graças à boa situação econômica da família, Nair de Teffé teve a possibilidade de vivenciar uma primorosa educação no sul da França. Com a Proclamação da República no Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892) nomeou o seu pai, o Barão de Teffé, como Ministro Plenipotenciário (chefe de missão diplomática) em Bruxelas. Devido a um conflito que se estabeleceu, com Floriano Peixoto (1839-1895), devido a um telegrama de aniversário enviado pelo Barão de Teffé ao contra- almirante Custódio de Mello (1840-1902), a permanência de seu pau naquele cargo foi efêmera.

 A educação na França e as primeiras caricaturas

 Desde criança, Teffé manifestou seu talento para as artes, principalmente para a pintura e o desenho na forma de caricatura.  Segundo a entrevista, dada por ela, em 1979, para o jornal Estado de São Paulo, foi no colégio religioso do Convento Saint Ursuline, um dos estabelecimentos católicos em que estudou na França, que, aos nove anos, ela fez sua primeira caricatura, retratando uma freira professora, dando ênfase ao nariz comprido da religiosa. Como castigo, a menina Teffé foi colocada de castigo, durante oito horas, num quarto escuro, o que não a intimidou, pois foi o primeiro de tantos outros trabalhos que a consagrariam, mais tarde, como primeira mulher caricaturista. 

Já no seio familiar, após a visita de uma amiga da família chamada Madame Carrier, os pais de Teffé descobriram o talento desconhecido da filha.  Na ocasião, seus pais fizeram com que a menina permanecesse, por duas horas, conversando sobre cozinha, fato este que lhe desagradava bastante. Assim que a visita se despediu, ela se dirigiu até o seu quarto e desenhou a caricatura de Carrier. Ao mostrar para seus pais seu desenho, embora surpresos com o dom da filha, ela recebeu um corretivo, ficando sem a sobremesa no jantar.

Ao retornar para o Brasil, em 1905, com 19 anos, a família se estabeleceu, no Rio de Janeiro, onde, sob a vigilância do seu pai, continuou a atividade de caricaturista,  tendo trazido, em sua alma, a influência da Belle Époque parisiense.  A princípio sua arte era vista pelos amigos com humor e de forma despretensiosa. Nesta fase, ela decidiu mudar sua assinatura para Rian, que, na realidade, trata-se de Nair ao contrário. Esta mudança de assinatura parecia anunciar o novo caminho, que iria ser descortinado pelo talento da nossa artista do traço. 

Teffé começa a conquistar o seu espaço

A produção de Teffé, a partir de 1906, foi aumentando o seu ritmo até o ano de 1913. Seus trabalhos já despertavam os olhares curiosos na Pensão Central, considerado, na época, ponto nobre da cidade de Petrópolis. Eram inúmeros os pedidos de caricaturas à nossa artista. Embora limitadas, ainda, a um circuito restrito, ela chegou a desenhar, por dia, vinte caricaturas. Com a aprovação do pai, ela começou a expor seus trabalhos, em pleno Rio de Janeiro, na Casa Davi e na Chapelaria Watson. Outro ponto de encontro de boêmios e intelectuais era o Bar do Jeremias, onde Teffé trocava ideias com os amigos, entre os quais o grande literato Lima Barreto (1881-1922), que vivenciava e denunciava, por meio da sua produção literária, o preconceito racial no Brasil em uma época que as ideias de eugenia (raça pura) estavam em voga.
  
A arte de Teffé na imprensa

A partir de um circuito ainda restrito, os trabalhos de Teffé começaram, de forma efetiva, a ocupar novos espaços, quando, a partir de 1910, já no auge de seus 24 anos, ela já publicava o seu trabalho em periódicos importantes do Rio de Janeiro, como o Jornal do Commércio (1827- 2016), Gazeta de Notícias (1875-1942) Careta (1908-1960), Fon-Fon (1907-1958) O Malho (1902-1952?), Vida Doméstica (1920-1962) Ilustração Brasileira (1909-1958) além de alguns semanários estrangeiro, como as francesas Le Rire e Excelsior.  

A partir da divulgação do trabalho de Teffé, por meio da imprensa, abriu-se um novo caminho à sua polêmica arte pontuada pelo senso crítico e debochado em relação aos costumes e valores de uma sociedade, que, na visão da artista, era norteada pelo machismo conservador e por relações  hipócritas e interesseiras. Em junho de 1912, ela realizou uma exposição individual, no Salão do Jornal do Commércio, na qual reuniu duzentas caricaturas de sua autoria.

As destacadas e longevas publicações, das quais Teffé colaborou, retratam momentos importantes da história do Brasil e, atualmente, compõem o valioso acervo do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom). Criado em 10 de setembro 1974, em Porto Alegre, a instituição tem como importante missão a guarda, a preservação e a difusão da memória da Comunicação, especialmente do Rio Grande do Sul.

A primeira caricatura publicada: 1909

Na famosa revista Fon-Fon, a seção Esbocetos era assinada por Fiorellini e idealizada pelo escritor e crítico de arte Gonzaga Duque. Esta revista tem o mérito de ter sido a pioneira, quando publicou trabalhos inéditos de Rian (Nair de Teffé), a primeira mulher caricaturista do Brasil. Esta revista, em 31 de julho de 1909, publicou a primeira caricatura, desenhada por Teffé, retratando a artista francesa Réjane. O nome Fon-Fon - que se trata de uma figura de linguagem denominada de onomatopeia -, é uma referência à modernidade que se evidenciava, naquela ocasião, com o surgimento do automóvel e pelo som da buzina. 

As dificuldades e desafios se acentuaram quando a divulgação do trabalho de Teffé ultrapassou os espaços privados dos salões e das casas das elites de Petrópolis e do Rio de Janeiro, passando a fazer parte das páginas de periódicos importantes e respeitáveis. Ao publicar suas caricaturas, Teffé deixou de ser uma  produção restrita a ambientes domésticos e aos espaços de lazer social onde desenhava e fazia caricaturas dos amigos, para tornar-se uma figura popular, por meio de sua arte, nos mais variados espaços, graças à divulgação da imprensa,  considerando a  importância desta como veiculo de comunicação, já que o rádio e a televisão ainda não se faziam presentes naquele cenário social,  no qual Teffé  despontava por meio de seu talento e de sua arte.

O preconceito

As críticas ao trabalho não causavam surpresa e nem raiva à Teffé, que se divertia com o fato de suas caricaturas despertarem os mais variados sentimentos nas pessoas.  Mulher jovem, de boa posição social e culta, ela despertava curiosidade em relação ao seu trabalho e era elogiada. Ao mesmo tempo, em que as pessoas se sentiam instigadas a conhecerem a sua arte, o preconceito a espreitava, em sua trajetória, pois desenhar caricaturas era vinculado ao universo, exclusivamente, masculino.
  
Com a arte do seu traço, Teffé  criticava, de forma incisiva, os exageros da moda e das personalidades conhecidas na época, o que, em determinado momento, começou a causar desconforto em algumas figuras da sociedade,  que  buscavam escapulir nas recepções do olhar crítico da nossa artista.

Bernardo G. de Barros assim comentou sobre nossa artista: “...Nair de Teffé é a primeira mulher caricaturista. Caso excepcional e simpático, que deve satisfazer as feministas que, com redobrada  razão, pretendem conquistar os mesmos louros que até agora pertenciam aos homens”.

A exemplo de outras mulheres, ao longo da história, que se destacaram na conquista de direitos e de novos horizontes, Teffé foi de encontro aos valores patriarcais e limitantes da sociedade de então, quando começou a flertar com o modernismo e as pretensões feministas da época. Talvez ela não imaginasse que suas ideias acabariam por repercutir junto à autoridade máxima do país  - o gaúcho Hermes da Fonseca -, mudando por completo o seu futuro e ampliando seu campo de ação e prestígio.

Brasil ultrapassa as 10 mil mortes por Covid-19. Mais 730 em 24 horas


No total, há 155.939 casos confirmados do novo coronavírus no país

O Brasil passou este sábado a barreira dos 10 mil mortos por Covid-19. De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, o país conta agora com 10.627 óbitos, 730 nas últimas 24 horas (uma variação de 7,38%)

á quanto a casos confirmados, são já 155.939 (mais 10.611 em relação a esta sexta-feira, um aumento de 7,30%). Este é o maior número de infeções num só dia no Brasil desde o início da pandemia.

Há ainda a registar 61.685 recuperados, de acordo com os dados oficiais. São Paulo continua a ser o estado em que se regista um maior número de casos e mortos. 

O país é o sexto do mundo com maior número de mortos, de acordo com o site da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. 

O Congresso Nacional decretou luto de três dias pelas mortes pelo novo coronavírus no Brasil.

[Notícia atualizada às 00h05 pt]

Notícias ao Minuto | Imagem: Reuters

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