Paulo Baldaia | TSF |
opinião
Quando um autarca socialista se
refere aos habitantes de um prédio dividindo-os entre "famílias normais
como nós" e "famílias de etnia cigana", não podemos aceitar
reações envergonhadas do PS e do seu líder. A frase de António Costa, em
resposta a André Ventura, aliás, é um bom soundbite - "não passo a
concordar consigo, quando discordo dos meus autarcas" -, mas exige
consequências.
Se o autarca da Azambuja fala
como se fosse militante do Chega, o PS só por cobardia política não lhe exige
que se retrate ou, não se retratando, não lhe retira a confiança política. O
autarca Luís de Sousa queria "uma vigilância ativa" sobre os ciganos
que vivem naquele prédio para "eles ficarem isolados dentro de suas
casas", sobretudo as crianças que "andam constantemente na rua".
Num momento em que cresce o
discurso contra os ciganos, é inaceitável esta ambiguidade do Partido
Socialista que, por um lado, considera que este tipo de comportamento não está
no seu ADN mas, por outro lado, acha que chega afirmar a sua discordância,
mesmo tratando-se de um eleito nas suas listas.
Ventura ri-se e adivinha a
possibilidade do autarca ser candidatos pelo Chega. Em ano de autárquicas, a
ideia que fica é que é disso mesmo que os socialistas têm medo, de perder uma
autarquia.
Um partido com a história do PS
não pode ficar nas meias tintas. O assunto é demasiado sério, pela forma como
aquele político se referiu a uma comunidade, considerando-a anormal, e pela
sugestão de lhes decretar uma espécie de prisão domiciliária. O PS pode ficar a
assobiar para o ar, que o tempo encarrega-se de fazer com que a maioria das
pessoas se esqueça, mas com esse comportamento a ciganofobia passa a fazer
parte do seu ADN.