terça-feira, 27 de abril de 2021

Portugal | Acabou a emergência?

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Acabou a emergência?

Filipe Garcia | Expresso

É a sabedoria popular quem o garante: as más notícias correm depressa, as boas nem sempre. Desta vez, contudo, suspeito que esta já lhe chegou e, mesmo assim, repito-a: ontem foi o primeiro dia desde 3 agosto em que ninguém morreu de covid-19 em Portugal. Quer melhor? Desde o começo da pandemia foi terceiro dia com menos novos casos e Diogo Serras Lopes, secretário de estado da Saúde, até colocou a possibilidade de a tão desejada imunidade de grupo ser alcançada antes do tempo previsto. Isto, claro, desde que as “vacinas continuem a chegar a bom ritmo”.

Um olhar rápido para os gráficos, mostra-nos que o número de casos ativos é próximo ao registado no final do passado mês de setembro e hoje, ao fim de mais de um ano entre estados de emergência, o caminho a trilhar pode mesmo começar a ser outro. Sorridente, António Costa continua a pedir cautela e “respeitinho” no tratamento da pandemia, mas, no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa prefere não voltar a declarar novo período de exceção. Para que o sorriso do primeiro-ministro não se perca, para que não seja necessário voltar atrás e para que o Presidente veja cumprido o seu desejo, é preciso que mais boas notícias cheguem e, preferencialmente, depressa. Hoje é dia de nova reunião no Infarmed, depois Marcelo voltará a ouvir os partidos e amanhã é na Assembleia da República que se debate a evolução da pandemia que cada vez menos querem enfrentar em emergência.

Reconstruir casas desabitadas?

Não fosse a conversa consequência de uma tragédia e até podia ter graça. Já imaginou um país, com um problema grave de povoamento do seu interior, apostar e financiar a reconstrução de casas inabitadas e/ou em ruínas? Impossível? Nem por isso, mas o assunto não é para brincadeiras. Na sessão de ontem do julgamento às irregularidades no processo de reconstrução das casas afetadas pelos fogos de Pedrógão Grande houve quem testemunhasse a reconstrução de casas em que não se conheciam moradores, mas onde “silvas já saíam do telhado” bem antes do fogo lá chegar. Podia ou não dar para rir? Na verdade, não dá: foram 66 os mortos e cerca de 500 as casas destruídas no incêndio, hoje são 28 os arguidos.

As frases

“Há algumas indicações, caso as vacinas continuem a chegar a um bom ritmo, de que essa meta (a imunidade de grupo) possa ser atingida mais no início do verão do que no final”,

Diogo Serras Lopes, secretário de estado da saúde, na inauguração de um novo centro de vacinação.

“Estamos a pensar apresentar uma proposta que limite os mandatos de deputados a três",

Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS, na apresentação de propostas do partido para o combate à corrupção.

“Portugal está na cauda do Mundo em transportes. No resto da Europa fazemos tudo de comboio”,

António Zambujo, músico, em entrevista ao Posto Emissor

O banco atrás de Novos bancos?

Na próxima semana entram mais de 400 milhões de euros nos cofres no Novo Banco. Chegam do Fundo de Resolução – o tal financiado pela banca nacional, mas com impacto no défice estatal – e ainda não poderão ser utilizados a bel-prazer de quem comanda a instituição. Ciente disso, António Ramalho, aproveitou a entrevista à Antena 1, para traçar as prioridades da instituição bancária – o financiamento da economia nacional – mas também apontar ao futuro, esse que começa em 2022 quando caírem as limitações impostas por Bruxelas ao banco por ter recorrido a ajudas estatais. Nessa altura, garante o Presidente Executivo, o Novo Banco poderá ir a jogo na compra de outras instituições financeiras. Na linha da frente para a compra do Eurobic, banco de que Isabel dos Santos ainda é a principal acionista? “Nunca falarei de operações antes de serem concretizadas”, palavra de Presidente Executivo.

Está a chegar o passaporte para europeus vacinados

A discussão será amanhã no parlamento europeu e os imbróglios legais prometem dar trabalho, mas o objetivo está traçado: em junho deverá estar a funcionar um certificado para facilitar as viagens entre estados-membros de cidadãos vacinados. Para já parece certo que apenas as vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento serão consideradas e ainda em cima da mesa está a generalização dos testes gratuitos à covid-19, uma forma de evitar desigualdades entre europeus. "Em países como França e Alemanha os testes são gratuitos. Noutros países vigoram preços que variam em função de interesses comerciais e ouvi falar de 240 euros, o que é proibitivo", denunciou ontem a eurodeputada holandesa Tinek Strik.

Ainda se lembra dos Óscares?

Parece, mas não foi assim há tanto tempo que a entrega dos Óscares alimentava jornais, televisões e muita internet. Primeiro discutia-se a escolha do apresentador, depois o respetivo passado, ainda se discutiam os antecessores, depois eram debatidos pontos fortes e fracos dos candidatos ao galardão e, finalmente, na noite da cerimónia, farpelas, piadas, vencedores e derrotados. Tempos houve em que, nas redes sociais, se faziam apostas e comentários quase em tempo real. Os críticos dirão que sobre cinema pouco se discutia, mas poucos colocarão em causa o impacto que a cerimónia carregava. E em 2021, depois de quase um ano de salas fechadas, ainda se lembra dos Óscares? Foram na madrugada de segunda-feira e, segundo o nosso crítico Jorge Leitão Ramos, já “não são para velhos”Aqui, para que possa ver o que lhe escapou, deixo-lhe a lista completa dos vencedores, mas também a história de Nomadland, uma ficção que não o é, vencedor dos prémios para melhor filme, realização e atriz principal.

O que ando a ler

Há fases assim, em que acabamos entre livros, ora bisbilhotando de um lado, ora despachando capítulos do outro, mas sem nunca conseguirmos realmente embalar. Assim, enquanto espero que os dois que me têm feito companhia – KG A to Z, a autobiografia de Kevin Garnett escrita por David Ritz, e Kansas City Lightning, The rise and times of Charlie Parker, de Stanley Crouch – me prendam a atenção, é da última edição do Expresso a reportagem que aqui quero recomendar: Moçambique a Ferro e Fogo, do Ricardo Marques. É mesmo das imperdíveis, das que nos fazem viajar ao local e, neste caso, sentir um misto de emoções entre a angústia e o choque da impotência. Estava mesmo tudo distraído? Era mesmo inevitável ter deixado a situação escalar ao nível da crise humanitária? Será que uma das regiões com o solo mais rico do país tem mesmo de ser a sua maior fonte de problemas? É mesmo verdade que ainda não se vislumbra solução? É de ler e, em caso de sentir alguma irritação, não estranhe. É bem possível que aconteça, porque a reportagem é mesmo muito boa e porque o cenário retratado é mesmo trágico.

O que ando a ouvir

Nasceu Timóteo Santos, mas foi como NBC que se apresentou entre os precursores do hip hop nacional. Os anos passaram, a voz revelou-se demasiado grande para ficar limitada a versos e rimas e NBC, sem nunca se afastar das raízes, cresceu para discos onde a soul e o R&B se impuseram. Em tempos de pandemia, num registo acústico e despido de grandes truques de produção, lançou Epiderme, um disco que merece bem mais que uma visita.

Num registo bem diferente, editado com o carimbo da Blue Note e assinado por Lonnie Smith, Breathe é outro dos discos que tenho andado a ouvir. Está lá o órgão e o jazz fusão que fizeram o autor famoso, mas também Iggy Pop, esse, o punk de tronco nu, a dar voz a duas covers. Uma deliciosa misturada.

Tenha um bom dia

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