DIA DA MULHER
O Enxoval: tempo e espaço de reflexão, do colectivo PELE, uniu mulheres dos 14 aos 81 anos, da cidade e da serra, para um manifesto feminista sobre a luta pela igualdade de género. Neste 8 de Março, exigem que as escutem com atenção.
“Escutem-nos com atenção, somos muitas, valentes e plurais, continuaremos na luta até sermos livres e iguais.” As Bravas juntaram-se para assinalar o 8 de Março, Dia da Mulher, com um manifesto em vídeo, sobre a luta feminista. Durante um mês, escreveram, a várias mãos, palavras de luta, que ganham agora vida num poema lido por todas. “Querem-nos descomplicadas e mansas, por vezes falta-nos a coragem, mas não perdemos as esperanças”, lê-se noutra estrofe.
O manifesto foi criado no âmbito do projecto Enxoval: tempo e espaço de resistência, promovido pela PELE, estrutura artística do Porto, e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
“Muitas das mulheres mais velhas guardam ainda os objectos que fizeram parte do seu enxoval. Têm o lençol que usaram na noite de núpcias, a camisa de dormir”, começa por contextualizar Maria João Mota, membro do colectivo PELE, em declarações ao P3. A partir da memória, num espaço de partilha e intimidade, criam-se, em conjunto, objectos artísticos. “O 'enxoval' carrega uma noção conservadora do que era ser mulher. A proposta deste projeto é criar novos enxovais para mulheres do presente e do futuro, tendo as mulheres do passado como inspiração.”
Se não existisse pandemia, a vontade de Maria João Mota seria que “as bravas ocupassem as praças e os espaços públicos com os seus corpos”, uma vez que são “ocultadas nos nomes das ruas e nas estátuas das cidades”. Em confinamento, foi necessário encontrar alternativas à saída para a marcha feminista nas ruas, a 8 de Março. Por isso, o colectivo Acção 8M, da PELE, composto por mulheres dos 14 aos 81 anos, encontrou-se através das plataformas online para criar um objecto artístico para ser apresentado nesta data simbólica.
O propósito era que a criação fosse partilhada por todas, que chegasse a todas as gerações, tanto ao litoral como ao interior, “às vozes que normalmente não têm espaço de escuta”. Mesmo as mulheres que vivem nas áreas rurais, que não têm smartphones, que não sabem ler, foram chamadas a participar e integradas no processo criativo.
Além do poema, o grupo já criou a colecção de fanzines As Bravas, a partir das histórias das mulheres do nosso dia-a-dia, para contrariar a invisibilidade a que estariam destinadas. “Através da criação artística, queremos promover espaços de reflexão, discussão e criação sobre as questões de género”, explica Maria João Mota.
Carolina Amado | Público