sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Angola | BALANÇO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A informação que nos servem está cada vez mais falsificada com doses latifundiárias de propaganda. Isso chama-se censura, mas pelos vistos ninguém quer saber. Há uma Redacção Única que à boleia da globalização impõe à Humanidade um pensamento único. Mas ninguém teme este Hitler sem rosto. A mentira é cada vez mais a base dos noticiários e das elucubrações mas redes sociais. Os preceitos éticos e deontológicos que obrigam todos os jornalistas, são ignorados ou ainda pior, espezinhados.

A direcção do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, depois de fazer mil fretes à UNITA antes e durante a campanha eleitoral, descobriu agora que os salários das e dos profissionais são rastejantes. As condições de trabalho são abaixo de péssimas. Os Media privados foram tomados de assalto por forças antidemocráticas e tornaram-se autênticos atentados à Liberdade de Imprensa. Mesmo assim, Teixeira Cândido diz-se preocupado, porque não existem canais privados de televisão!

Um jornalista que desconhece em absoluto o que se passa no sector, não pode liderar o sindicato. Qualquer estagiário de primeiro ano sabe que um canal de televisão vive da publicidade (a mais cara…) e o mercado publicitário angolano nem chega para sustentar um jornal de bairro. Pequenos anúncios e necrologia não funcionam no audiovisual. Ainda bem para o Jornal de Angola. A TPA vive da publicidade institucional e da Sonangol. Mas no final de cada ano, a factura fica pesadíssima ao Estado. Tanto quanto sei, as receitas nem cobrem 20 por cento das despesas. 

Todos sabem que o projecto Medianova (Televisão, Rádio e Imprensa) era privado mas, segundo a PGR, os fundos saíam dos cofres públicos. Teixeira Cândido quer saber quem são os investidores da Rede Girassol. Privados não são. E acrescento: Ainda bem. O balanço deste ano na área da comunicação social é péssimo. Merece largamente o nosso descontentamento. O Sindicato dos Jornalistas Angolanos leva a taça e arrisca-se a ser condecorado pelo Presidente João Lourenço. O Rafael Marques também cospe na medalha que ele lhe deu.

África está a sacudir, às vezes com violência, os colonialistas de sempre. A República Popular da China e a Federação Russa apoiam esses movimentos libertários. Como apoiaram as antigas colónias portuguesas antes e depois das independências nacionais. Hoje os presidentes da Angola e Moçambique estão em Washington dando uma mão aos ladrões e corruptos de sempre. O balanço só pode dar em descontentamento ilimitado. Em Washington o Presidente João Lourenço teceu rasgados elogios ao FMI. Aqueles que nos roubam um porco e depois emprestam-nos um chouriço e cobram mais 100 porcos.

Os líderes de Angola e Moçambique não querem um mundo multipolar, apesar de saberem que o povo moçambicano e o povo angolano sofreram horrores com os senhores do mundo unipolar. Ao Presidente João Lourenço não tenho nada a dizer. Isso fica para a direcção do MPLA e os seus secretários na Presidência da República. 

Ao Presidente Filipe Jacinto Nyusi tenho um recado do Presidente Samora Machel: É uma loucura, querer parar o vento com as mãos. A quem dirige o MPLA tenho a transmitir um ditado muito popular de Cabinda: Só um louco sobe a montanha por subir mas se o acompanhares és mais louco do que ele. A cimeira de Washington é seguramente o expoente máximo do nosso descontentamento neste ano que chega ao fim.

A selecção de futebol de Marrocos joga com a França o acesso à final do campeonato do mundo no Catar. Finalmente os fabulosos futebolistas africanos conseguiram quebrar o cerco da roubalheira e da discriminação. É um dos feitos mais importantes do nosso contentamento deste ano. Mas os serviços secretos das selecções que foram para casa rapidamente mancharam a glória dos africanos e lançaram novas suspeitas de corrupção sobre o país organizador. Desta vez até sacrificaram uma senhora que era vice-presidente do Parlamento Europeu, Não olham a meios para cortar as asas aos africanos!

África pariu a Humanidade. Isso não interessa nada. Deu à Humanidade a álgebra, a geometria, a astronomia, a medicina. Deu os melhores futebolistas do mundo. O meu ídolo era o Barros, Chapeleta Rei do Congo, que fazia cinema a jogar futebol no campo do Negage, que parecia uma lavra de mandioca. O futebolista supremo era Sebastião Lucas da Fonseca, Matateu, que eu promovi a Mata Tudo, o matador do Belenenses. Muitos anos depois a genialidade do futebol africano chegou às meias-finais do mundial do Catar. As manobras para diminuir a prova só podem dar o nosso descontentamento. 

Portugal é um país amigo? Tem dias. Uma parte significativa das suas elites é corrupta e ignorante. Odeia Angola e os angolanos. Os governos balançam entre o partido herdeiro do fascismo e do colonialismo (PSD do Cavaco da Silva e do Tio Célito) e o PS do Mário Soares. O partido que em 1975 era comandado pelo embaixador Frank Carlucci, patrão da CIA. O partido dos bombistas e do cónego Melo, no Verão Quente de 1975. 

O partido de Mário Soares fez uma coligação com o CDS, acabadinho de votar contra a Constituição da República. E outra com o PSD, que apoiou a candidatura do general Soares Carneiro à Presidência da República. O candidato foi o criador do campo de concentração de São Nicolau, em Angola. O PS do Savimbi. O PS que agora persegue as angolanas e os angolanos milionários a pedido de uma PGR que não tem maneiras no que diz respeito a isenção, independência e respeito pelo Estado de Direito.

Magistradas e magistrados judiciais, agentes do Ministério Público, devem estar profundamente descontentes com o balanço no sector da Justiça, durante o ano que está prestes a findar. Melhores dias virão. 

*Jornalista

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