Artur Queiroz*, Luanda
Hoje é o dia do MPLA. Faz 66 anos, sempre na luta pela dignidade e a liberdade do Povo Angolano. Os adversários dizem que é um Partido Estado. Estão enganados. É o partido que dirigiu a luta armada de libertação até à Independência Nacional. É o Povo Angolano. É Angola. Criou o Estado Angolano. Neste 66º aniversário do MPLA recordemos alguns grandes vencedores, ao ritmo da poesia de Agostinho Neto.
À frente do povo em armas estiveram grandes líderes. Agostinho Neto esteve aos comandos do primeiro grito de revolta até à morte. Em 1962, foi eleito Presidente de Honra do MPLA e desde então, até falecer, teve uma vida sem tréguas. Derrotou os exércitos estrangeiros do Zaire (hoje República Democrática do Congo) e da África do Sul. Em Março de 1976, quando os últimos soldados do apartheid abandonaram o solo sagrado da Pátria, Neto proclamou o Carnaval da Vitória.
O Presidente Agostinho Neto conseguiu unir o MPLA em 1974, quando surgiram as chamadas “revoltas”. E no ano de 1975, proclamou a Resistência Popular Generalizada contra os invasores estrangeiros, os mercenários, os fascistas do Exército de Libertação de Portugal (ELP) e as forças da FNLA e UNITA que serviram de capa às invasões estrangeiras.
Em Ndalatando, com os mercenários e as tropas zairenses no Lucala, Agostinho Neto fez um discurso que ficou gravado nos anais da História de Angola: “Nós somos milhões e contra milhões ninguém combate”. O inimigo não ouviu o seu aviso e acabou derrotado.
(A quitanda. / Muito sol / e a quitandeira à sombra / da mulemba. / – Laranja, minha senhora, / laranjinha boa!)
Agostinho Neto proclamou a Independência Nacional e fez tudo para aliviar o cerco a Angola, um autêntico bloqueio não declarado. De Pretória surgiu uma proposta de acordo que garantisse a segurança de Angola e África do Sul. No Grande Hotel da Huíla houve uma reunião de alto nível, em 1976. Magnus Mallan, ministro da Defesa, e Pick Botha, ministro das Relações Exteriores da África do Sul chefiaram a delegação que foi negociar ao Lubango. A delegação angolana era chefiada por Iko Carreira, ministro da Defesa.
As conversações terminaram e os sul-africanos confirmaram a sua proposta: Segurança na fronteira do Sul de Angola e proibição de actividades em solo angolano dos combatentes do ANC e da SWAPO. Os angolanos renegados eram impedidos de qualquer actividade política na África do Sul. Agostinho Neto teve conhecimento da proposta e a resposta foi dada num comício no Estádio da Cidadela: “Angola é uma trincheira firme da revolução em África. A nossa luta prolonga-se na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul”. Ele é um dos vencedores do 10 de Dezembro.
Comandante VitoriosoA seu lado, estiveram sempre homens extraordinários, como o comandante Xietu, chefe do Estado-Maior Geral das FAPLA. Lúcio Lara o homem que pensava e respirava o MPLA. José Eduardo dos Santos, um político sagaz e com conhecimentos profundos do xadrez político mundial.
Xietu foi o comandante que soube dirigir as FAPLA nas Grandes Batalhas da Independência: Ntó (Cabinda), Kifangondo (Luanda), Ebo (Cuanza Sul) e Luena (Moxico). Neste 10 de Dezembro ele é um dos grandes vencedores.
“Com a aproximação da data da independência, a FNLA e a UNITA recusaram-se a participar na proclamação da independência, que estava marcada para 11 de Novembro de 1975, em Luanda”, disse ao nosso Jornal de Angola o general Xietu, quando há alguns anos recordou as Grandes Batalhas da Independência. “Os invasores dividiram-se em duas frentes. Uns vinham do sul do país, liderados pela UNITA, e outros vinham do norte, liderados pela FNLA”, recordou o General Xietu que, enquanto chefe do Estado-Maior Geral das FAPLA, tinha a função de coordenar as operações militares que se desenrolavam em todo o país.
A palavra ao General Xietu:
“A 23 de Outubro de 1975,
numa quinta-feira, as forças invasoras, compostas por um batalhão do ELNA,
braço armado da FNLA, mercenários portugueses, três companhias de outros
exércitos e um pelotão regular sul-africano de canhões de 130 e
Agostinho Neto não viveu o tempo
suficiente para ver a vitória da Frente Patriótica no Zimbabwe, do ANC na África
do Sul e da SWAPO na Namíbia. Morreu em 1979. E num clima de tragédia nacional
a direcção do MPLA elegeu José Eduardo dos Santos para o seu lugar.
(A luz brinca na cidade / o seu quente jogo / de claros e escuros / e a vida brinca / em corações aflitos / o jogo da cabra-cega. / A quitandeira / que vende fruta/vende-se.)
Lúcio Lara foi o pai do amplo
movimento que nasceu no dia 10 de Dezembro de 1958. Dele apenas podemos dizer
que esteve em todas as grandes decisões e presente em todas as vitórias, desde
a fundação do MPLA até à sua morte. Os vindouros não fizeram tudo para merecer
este gigante do Povo Angolano. Este grande vencedor.
Do Liceu ao Exílio
José Eduardo dos Santos fez o ensino secundário no Liceu Salvador Correia.
Iniciou a sua actividade política nos grupos clandestinos, nos bairros
suburbanos da capital, no fim dos anos 1950. Aderiu ao MPLA logo que foi
fundado, em 1958. Abandonou Angola em Novembro de 1961para se juntar à
guerrilha do MPLA. Integrou, em 1962, o Exército Popular de Libertação de
Angola (EPLA) e em 1963 foi o primeiro representante do MPLA
Depois de terminados os estudos, José Eduardo frequentou um curso militar de Telecomunicações que o habilitou a exercer funções nos Serviços de Telecomunicações na II Região Político-Militar do MPLA, em Cabinda.
( – Minha senhora / laranja,
laranjinha boa! / Compra laranjas doces / compra-me também o amargo / desta
tortura / da vida sem vida. / Compra-me a infância do espírito / este botão de
rosa / que não abriu / princípio impelido ainda para um início. / –
Laranja, minha senhora!)
Derrota dos Sul-Africanos
Em Setembro de 1974, José Eduardo dos Santos foi eleito membro do Comité
Central e do Bureau Político do MPLA. Em Junho de 1975, passou a coordenar o
Departamento de Relações Exteriores do movimento. Com a proclamação da
Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975, foi nomeado ministro das
Relações Exteriores.
Com a morte do Presidente Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos foi eleito presidente do MPLA, a 20 de Setembro de 1979, e investido, no dia seguinte, nos cargos de presidente do MPLA-Partido do Trabalho, de presidente da República Popular de Angola e de comandante-em-chefe das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola).
A partir de 1981 comandou as FAPLA na defesa da soberania nacional e integridade territorial. As forças armadas da África do Sul voltaram a penetrar em Angola e começaram a organizar a guerrilha das FALA, braço armado da UNITA, com os Estados Unidos a poiar.
De
Sobre as grandes Batalhas da Independência, Ndalu recordou ao Jornal de Angola:
“Em Kifangondo ouvimos, pela Emissora Oficial de Angola, Agostinho Neto proclamar a Independência Nacional. Foi uma sensação estranha que era um misto de felicidade, imensa alegria, mas ao mesmo tempo grande tristeza. Naquele momento tinha-se concretizado aquilo pelo qual fizemos tantos sacrifícios, a Independência Nacional. Mas recordei todos os nossos camaradas que ficaram pelo caminho. Embora aquele momento também fosse deles, ainda mais deles do que nosso”.
Sobre o que se passava em Angola naquela data, “Ndalu” recordou:
“O que mais nos preocupava era a
situação no sul. Os sul-africanos entraram no Cunene, tomaram o Lubango,
Benguela, Lobito, Sumbe, chegaram ao rio Keve. Nós estávamos reduzidos a um
território entre o rio Bengo e o Keve, que se prolongava até Malanje. Era muito
pouco. Mas o inimigo também foi derrotado na batalha do Ebo e acabámos por
ficar numa posição privilegiada”.
Ebo e a Política Externa
A Batalha do Ebo teve tanta importância como a Batalha de Kifangondo? O General
Ndalu respondeu:
“Claro que sim, se o inimigo
tivesse passado, chegava facilmente a Luanda. Mas houve outra batalha
fundamental, que foi a do Ntó,
“Ndalu” foi o chefe do Estado-Maior Geral das FAPLA que derrotou os sul-africanos na Batalha do Cuito Cuanavale. Ele é um dos grandes vencedores deste 10 de Dezembro.
(Esgotaram-se os sorrisos / com que chorava / eu já não choro. / E aí vão as minhas esperanças / como foi o sangue dos meus filhos / amassado no pó das estradas / enterrado nas roças / e o meu suor / embebido nos fios de algodão / que me cobrem.)
O Presidente José Eduardo dos Santos derrotou os sul-africanos, conseguindo romper o cerco externo. O bloqueio a Angola não declarado foi levantado. Começou a aproximação aos EUA e às grandes potências ocidentais.
No dia da Independência da Namíbia, em Windhoek, o líder aceitou um pedido de Washington: dar uma mão à UNITA, órfã duplamente: Primeiro do colonialismo e depois do regime de apartheid. Aceitou e consolidou a posição externa de Angola. O Acordo de Bicesse permitiu arrumar a casa. O MPLA liderou o processo de adesão à democracia representativa. As primeiras eleições gerais aconteceram em 29 e 30 de Setembro de 1992.
As grandes potências ocidentais esperavam que a UNITA vencesse. Mas subestimaram a grande implantação popular do MPLA. A ONU proclamou a vitória eleitoral dos que estavam destinados a perder. Savimbi voltou à guerra, deixando mal os EUA e todos os outros apoiantes.
O MPLA tinha uma maioria absoluta
na Assembleia Nacional e os deputados tomaram posse. O Presidente José Eduardo
dos Santos dirigiu pessoalmente uma intensa actividade diplomática que culminou
no reconhecimento do governo angolano pelos EUA, em 19 de Maio de 1993. Todas
as outras grandes potências ocidentais seguiram o mesmo caminho. O
Comandante-em-Chefe que derrotou o apartheid no Triângulo do Tumpo, também
triunfou na frente diplomática. Ele é um dos vencedores deste 10 de Dezembro,
66º aniversário do MPLA.
(Como o esforço foi oferecido / à
segurança das máquinas / à beleza das ruas asfaltadas / de prédios de vários
andares / à comodidade de senhores ricos / à alegria dispersa por cidades / e
eu me fui confundindo / com os próprios problemas da existência. / Aí vão as
laranjas / como eu me ofereci ao álcool / para me anestesiar / e me entreguei às
religiões / para me insensibilizar / e me atordoei para viver.)
A Vitória Definitiva
A guerra terminou em 2002 quando, a 22 de Fevereiro, o criminoso de guerra
Jonas Savimbi morreu no Lucusse, numa operação dirigida pelo chefe do
Estado-Maior General das FAA, general Armando da Cruz Neto. Tinha terminado o
pesadelo das ocupações e agressões estrangeiras. A assinatura dos Acordos de
Paz no dia 4 de Abril de 2002, coroou o trabalho militar, político e
diplomático do Presidente José Eduardo dos Santos e seus companheiros de luta.
Sempre sob a bandeira do MPLA.
Outro militar distinto, o General João de Matos, comandou as FAA desde 1992, até dar “uma monumental tareia militar à UNITA”. Em 14 de Setembro de 1999, o general Armando da Cruz Neto lançou a maior ofensiva contra a tropa de Savimbi. Em Dezembro, 80 por cento da capacidade combativa da UNITA tinha sido destruída. As melhores armas e os melhores soldados e comandantes escondidos nas bases secretas do Cuando Cubango estavam fora de combate. Os generais João de Matos e Armando da Cruz Neto são hoje grandes vencedores.
(Tudo tenho dado. / Até mesmo a minha dor / e a poesia dos meus seios nus / entreguei-as aos poetas. / Agora vendo-me eu própria. / – Compra laranjas/minha senhora!/ Leva-me para as quitandas da Vida / o meu preço é único: sangue. / Talvez vendendo-me eu me possua. / – Compra laranjas!)
O Presidente José Eduardo dos Santos é o arquitecto da paz, defendeu o regime democrático e foi o líder vitorioso do MPLA em todas as eleições, desde 1992 até 2017, ano em que o partido repetiu as suas vitórias eleitorais, agora elegendo o Presidente João Lourenço. Hoje, dia 10 de Dezembro, é o dia mais belo de Angola. O dia dos vencedores.
*Jornalista
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