Artur Queiroz*, Luanda
Em 1992, quando a UNITA perdeu estrondosamente as eleições multipartidárias, apenas duas forças políticas que elegeram deputados, defenderam o regime de democracia representativa. O MPLA, assumindo a responsabilidade da sua maioria absoluta, e o Partido Liberal Democrático (PLD), que elegeu três deputados. Todos os outros se ajoelharam aos pés de Jonas Savimbi e apoiaram a tese da “fraude eleitoral”, pretexto para a ala belicista do Galo Negro regressar à guerra para tomar o poder pela força das armas.
A democracia tinha acabado de sair do ovo quando Salupeto Pena, Ben Ben, Alicerces Mango e Abel Chivukuvuku desencadearam a Grande Batalha de Luanda, na sua terceira edição. A primeira foi contra os esquadrões da morte dos independentistas brancos e a segunda contra as tropas zairenses ao serviço da FNLA. A capital angolana ainda foi palco de uma quarta grande batalha durante o golpe de estado militar que ocorreu em 27 de Maio de 1977. Antes que seja tarde, convém recordar aos esquecidos e a quem teve a felicidade de não viver esses tempos conturbados, que foi sempre o MPA que se opôs às forças reacionárias e golpistas. As angolanas e angolanos que integraram as forças de resistência são Heróis Nacionais.
Abel Chivukuvuku é o único líder golpista da UNITA que ainda está vivo. Ele protagonizou todos os acontecimentos, comandou operações de extermínio dos civis nas ruas de Luanda, foi baleado, ferido gravemente mas salvo da fúria popular quando a população do Sambizanga tentou linchá-lo, apesar de ter graves ferimentos. Em homenagem aos seus salvadores, tem o dever de vir a público contar a verdade. Um homem de carácter, honrado, não pode permitir que a UNITA transforme os assassinos golpistas em heróis e mártires. Muito menos pode permitir que os seus salvadores sejam tratados como assassinos.
No fim da Grande Batalha de Luanda falei com dezenas de dirigentes e militantes da UNITA mais os seus familiares. Quem me ajudou a fazer esses contactos foi o general Petroff. Logo a seguir ao calar das armas, um dos seus oficiais levou-me à antiga messe de oficiais das tropas portuguesas, por trás do Ministério da Defesa. Perguntei-lhe se ia falar com civis ou militares. E ele respondeu muito admirado: - Mas como é possível saber quem na UNITA é militar ou civil? Fiquei elucidado.