Artur Queiroz*, Luanda
As televisões do mundo ocidental
mostram dois jovens ucranianos casando numa igreja
Ao longo da minha carreira profissional cobri várias guerras. Uma delas foi na Roménia. Quando começaram os movimentos armados contra Nicolae Ceaușescu fui para lá mas já não existiam voos e todas as fronteiras estavam fechadas. Fui de avião até Sófia e lá apanhei um comboio até à fronteira. Atravessei a grande ponte que liga os dois países, a pé, fazia um frio de rachar. Era Dezembro. A sorte do repórter é fundamental nestas circunstâncias. Do lado romeno os comboios estavam paralisados e não existiam autocarros. Encontrei um “guia turístico” que falava francês. Prontificou-se a levar-me até Timișoara onde os Media mundiais diziam que as forças de Ceausescu estavam a massacrar manifestantes, aos milhares.
Tudo mentira. Não existiam massacres mas verifiquei na morgue da cidade estavam os cadáveres de algumas dezenas de homens fardados, os famosos guardas que protegiam Ceausescu. O guia explicou-me que forças estrangeiras estavam na cidade e neutralizaram as tropas de elite. Segui para Bucareste mas quando lá cheguei, já o golpe de estado tinha triunfado. Era a confusão total. Os jornalistas foram todos enviados para o Hotel Intercontinental. Eu fui para um pequeno hotel indicado pelo meu guia, que tinha um cunhado na guarda presidencial. A sorte do repórter. Esse oficial contou-me tudo o que tinha acontecido e falou-me num autêntico massacre entre a guarda presidencial.
Fomos à morgue e lá estavam centenas de homens estendidos no chão. Causa da morte: Tiros na nuca. Algum tempo depois executaram Ceausescu e a esposa. Os membros da Junta Militar deram uma conferência de imprensa e eu perguntei: Onde estão as vítimas civis de Tmisoara e Bucareste? Na morgue só vi guardas presidenciais com tiros na nuca! A resposta foi muito eficaz. Dois matulões foram ter comigo e pediram-me que os acompanhasse. Meteram-me à força numa viatura da polícia e só parámos no aeroporto. Fiquei preso numa sala até sair o primeiro voo de Bucareste, por sorte com destino a Paris, onde fui enfiado à bruta.
Os franceses tinham dado o golpe de estado a Ceausescu. Primeiro inundaram o mundo de mentiras e depois ajudaram os golpistas. Escrevi tudo isso no Jornal de Notícias, na época o maior jornal português. Hoje é apenas um jornaleco da turma dos alunos da quarta classe. O que fui fazer! Crucificaram-me. Quase um ano depois, o jornal Libération denunciou exactamente aquilo que eu tinha denunciado. Ninguém reagiu. Hoje fizeram-me chegar um vídeo terrível. Membros do Batalhão de Azov apanharam um soldado russo e crucificaram-no entre gritos lancinantes do crucificado. Cuidado com os russos! Afinal não se converteram ao Imaculado Coração de Maria.