Artur Queiroz*, Luanda
Nas terras do Lóvua ainda há memória dos guerreiros que se bateram pelas suas comunidades até à morte. Este território sagrado, até ao Cassai, é uma parte única do fabuloso Mosaico Cultural Angolano. Bem-haja quem desenhou este mapa chamado Angola. No dia 27 de Junho de 1927 foi assinado o Tratado de Loanda (grafia de Luanda nessa época) entre Portugal e a Bélgica. Ficaram então definidas, até hoje, as fronteiras angolanas. Os belgas cederam a Angola a chamada Bota do Dilolo, um imenso território que compreende a Lunda, desde o Lau até à vertical de Saurimo e depois um imenso espaço que acaba no saliente do Cazombo.
Aviso aos incultos, ignorantes e sabotadores da integridade territorial. Esta parte da colónia de Angola (imensa!) integrou o território angolano do Império do Muata Iânvua que se colocou sob protecção de Portugal, quando seu primo congolês quis submeter o imperador pela força das armas. Henrique de Carvalho, então major mas chegou a general, foi defendê-lo e fixou residência na cidadela real como chefe militar mas também diplomata. Leiam a sua obra para ver se aprendem alguma coisa. Chama-se DESCRIPÇÃO DA VIAGEM À MUSSUMBA DO MUATIANVUA e foi editado em 1892.
A descrição da viagem é feita em quatro volumes. O primeiro volume intitula-se "De Loanda ao Cuango", o segundo "Do Cuango ao Chipaca”, o terceiro "Do Chipaca ao Luembe” e o quarto “Do Luembe ao Calanhi e regresso a Lisboa”. O quinto e sexto volume são dedicados à história da Lunda. O sétimo trata da língua Côkwe. Sisenando Marques, farmacêutico, integrado na expedição, ainda escreveu um volume sobre a flora e o clima.
Os guerreiros do imperador tinham rituais fabulosos, que incluíam dança, música e poesia. Untavam-se com uma poção mágica que os tornava imortais. Mas os belgas armaram os inimigos do Muata Iânvua com material moderno e estavam a esmagar o legítimo senhor do império que tinha mais de 80 por cento do território no Estado Livre do Congo, a colónia Congo Belga que era propriedade privada do rei Leopoldo. Adalberto e todos os sicários da UNITA tomem nota deste cântico dedicado ao guerreiro Xambumba, o mais valente de todos:
Canta o solista: Xambumba eh! O coro responde: Uó! De novo o solista: Xambumba eh! E o coro responde com as palavras sublinhadas pelos instrumentos de percussão: Muéssuè matussunga/Tuloze nenhe é eh. Tradução: Ninguém se meta connosco senão atiramos fogo em quem nos incomodar.
O coro é exclusivamente masculino. Os instrumentos musicais são um txinguvo (baptizado por Sun Ra como nome de bateria infinitiva), três micupela, três micundo e um micacala. Por vezes o coro é misto e as mulheres marcam o compasso com palmas.
Cânticos guerreiros existem em todo o país nas diferentes línguas africanas de Angola. A expressão máxima da criatividade de um povo é a sua Língua. No mapa de Angola cabem muitas línguas, como expressão de cada elemento do fabuloso Mosaico Cultural Angolano. Comunicar é a prova mais eloquente do amor aos outros. O Povo Angolano esbanja afectos na comunicação.
Adalberto da Costa Júnior é o mais perigoso belicista da UNITA. Tentaram destruir Angola e o Povo Angolano. Não conseguiram. Foram estrondosamente derrotados em todas as frentes, da militar à cultural. Agora querem destruir o nosso mosaico cultural promovendo o tribalismo e a amputação da ditosa Pátria Angolana, nossa amada. O líder de um partido político que diz, alto e bom som, ante centenas de seguidores que Angola não é um só povo e uma só nação mas muitos povos e muitas nações, quer com as palavras e os votos fazer o que os inimigos de Angola não conseguiram com exércitos invasores e apoiados pelos traidores do Galo Negro.
O chefe da UNITA insiste que os votantes do partido devem ocupar os locais onde funcionam as mesas e assembleias de voto. Muito bem. Daqui lanço o desafio ao mentiroso compulsivo, ao semeador de ódio contra Angola e o Povo Angolano, ao retornado raivoso que só descansa quando vir restaurado o colonialismo e o regime racista de Pretória: É legítimo ocupar os locais de voto? Pois bem. Então Adalberto da Costa Júnior acaba de votar, logo na abertura da sua mesa de voto, e senta-se no local. Os seus familiares directos ficam com ele.
Não desafio Abel Chivukuvuu a fazer o mesmo porque todos sabemos quem é este sicário da UNITA. Assassino, torturador, destruidor de Angola. Quando o fogo lhe chegou às pernas traiu imediatamente os donos e passou-se para o lado contrário. Viveu em grande na pele de traidor. Ganhou mundos e fundos. Ficou milionário, à custa do Estado Angolano. Depois de 2002 regressou à UNITA mas não lhe deram dinheiro. Traiu de novo e fundou a CASA-CE.
Na nova formação política encheu-se de dinheiro e enriqueceu os seus familiares directos. Os parceiros tiveram de expulsá-lo. Traidor e corrupto. Voltou para a UNITA e agora é candidato a vice-presidente da República. Tem a missão de reduzir Angola a pó, quando o Galo Negro for esmagado pelos eleitores. É ele que, mais uma vez, vai tentar somalizar Angola. Vão levar no focinho! Kuabu maka.
Acabo com uma trova do Cassai: A sinfonia do txissanje/suaviza o som estridente/ do kixixi anunciando morte. Oremos blasfémias na txianda/sunga ié nguenzo, Calemba!/Não te percas na noite do nada/ nunca abandones o corpo ao muia/agita o guizo para que seja ouvido/desde o rio Uhamba ao fim do mundo.
Tudo o que somos/cabe no voo breve da vida/e no beijo de amor/ que a memória guarda sem sabor.
Enterremos penas e tristezas/antes do crepúsculo mergulhar/nas águas sagradas do Cassai/e derramar sombras no caminho do luar:
Sunga ié nguenzo, Calemba!/Agita o guizo eternamente/para que mesmo assim perdido/
eu nunca te perder, meu amor!
Cultura Angolana, senhor Adalberto! Que os retornados como vossa excelência odeiam de morte. Mas a luta continua até aprenderem a amar o Povo Angolano.
*Jornalista