segunda-feira, 10 de abril de 2023

Angola | O Golpe dos Racistas e Mentirosos Compulsivos – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O golpe de estado militar em 27 de Maio de 1977 tinha na sua direcção política, maioritariamente, quadros oriundos da I Região Político-Militar do MPLA, depreciativamente chamados de “nambuas”. O comandante era César Augusto (Kiluanje). Até 1968, resistiram a várias operações militares de grande envergadura. Mas o isolamento quase total ditou o fim das actividades guerrilheiras ofensivas. O alto comando da Região Militar de Angola organizou a Operação Nova Luz e os guerrilheiros foram obrigados a refugiar-se nas impenetráveis matas dos Dembos.

Entre 15 de Março e Setembro de 1961 toda a região dos Dembos esteve libertada do colonialismo. Mas com a Operação Viriato tudo mudou. Foi desencadeada em 10 de Julho de 1961 e o objectivo era tomar Nambuangongo. Participaram as seguintes unidades portuguesas: Esquadrão de Cavalaria Nº 149, Batalhão de Caçadores Nº 96 e Companhia de Sapadores Nº 123. Uma coluna avançou na rota de Bessa Monteiro a Nova Caipemba já no Vale do Loge. 

As tropas que participaram na Operação Viriato chegaram ao teatro de operações depois da palavra de ordem do ditador Salazar “Para Angola Depressa e em Força”. Até 4 de Fevereiro de 1961, Portugal tinha em Angola 1.500 militares “metropolitanos” e 5.000 de recrutamento local (serviço militar obrigatório). Após 15 de Março de 1961 o governador civil, Silva Tavares, foi substituído pelo general Venâncio de Deslandes. Para melhor enfrentar a guerra de libertação dirigida nesta fase pelo MPLA e pela UPA, mais tarde FNLA.

No dia 10 de Julho de 1961 o Batalhão de Caçadores 96, o Batalhão de Caçadores 114 e o Esquadrão de Cavalaria 149 avançaram na rota de Nambuangongo e Quipedro. Desimpediram as vias Caxito-Úcua-Quitexe, Caxito-Nambuangongo e Ambriz-Nambuangongo-Quitexe. Concluídas essas missões as três colunas militares entraram em Nambuangongo. Os centros urbanos (e as roças de café) foram todos ocupados pelas tropas portuguesas mas os heroicos guerrilheiros do MPLA continuaram a dominar as matas.

As tropas de ocupação não conseguiam sair dos seus quartéis. Eram atacados impiedosamente sempre que se moviam. O alto comando português desencadeou então as operações Centauro Grande e Marfim Negro, em 1962 e início de 1963. Resultados escassos e muitas baixas. Foi então que em meados de 1963 foi lançada a Operação Quissonde, comandada pelo coronel Totobola (Alves Pereira).

Em 30 de Agosto de 1963, a Companhia de Artilharia 522 atingiu Quipedro e aí montou a sua base. Outra coluna seguiu para Nambuangongo. As tropas de infantaria (batalhão 1866) e engenharia avançaram “a varrer” em direcção ao Encoje. Nesta operação já participaram soldados da OPVDCA (Organização Provincial dos Voluntários da Defesa Civil de Angola). Tropas estacionadas no Úcua deram protecção às forças de engenharia na abertura de uma picada até ao rio Dange, tornando mais próximas as vilas de Úcua, Nambuangongo e Quicabo.

No rio estava uma unidade de fuzileiros. A operação durou mais de dois meses. Os guerrilheiros do MPLA não deram descanso aos ocupantes. Mas ficaram mais enfraquecidos. Porque nesta operação o inimigo já tinha começado a retirar das zonas operacionais as populações civis que eram internadas nas “sanzalas da paz”. Guerrilheiros sem o apoio do povo têm muitas dificuldades para lutar. Mesmo assim os guerrilheiros do MPLA atacaram uma coluna militar inimiga perto do rio Zenza e causaram-lhe muitas baixas. 

As condições de vida estavam mesmo difíceis. Os sucessivos ataques em toda a região dos Dembos levaram o alto comando português a lançar a Operação Nova Luz. Corria o ano de 1968. Desta vez foram mobilizados vários batalhões de infantaria, artilharia e tropas especiais (comandos e paraquedistas). A aviação bombardeou, dias e dias seguidos, toda a região dos Dembos. Usaram bombas de napalm e desfolhantes (armas químicas). 

A artilharia bombardeava todo o dia. As tropas helitransportadas atacavam as bolsas de guerrilheiros instaladas nas áreas das fazendas Maria Fernanda e Maria Manuela, rio Dange e o Piri. Militares estacionados no Ambriz avançaram a ferro e fogo para Zala, Onzo e Nambuangongo. O inimigo registou muitas baixas mas as bases da guerrilha foram abandonadas. A população foi internada nas “sanzalas da paz”. O comandante Kiluanje ainda reuniu forças para atacar o quartel da companhia de artilharia 1469 estacionada no Piri. Mas foi a última grande operação da guerrilha.

Na retirada, os guerrilheiros atacaram uma coluna militar. Com uma bazucada atingiram um “unimog” que se incendiou. Os ocupantes morreram. O inimigo sofreu oito mortos e sete feridos. Ficou sem o rádio e a metralhadora Breda. Os nossos combatentes da I Região Político-Militar do MPLA foram mesmo Heróis Nacionais. Não mereciam ser infiltrados por tanto vigarista e oportunista, como Nito Alves.

O alto comando português alugou dezenas de camiões civis para abastecer as tropas que participaram na Operação Nova Luz. Foram dois meses seguidos de combates. Mas no fim, a guerrilha teve de abandonar todas as suas bases e os guerrilheiros esconderam-se nas impenetráveis matas dos Dembos. E assim ficaram até 25 de Abril de 1974. 

Nessa altura, o bispo Emílio de Carvalho (Igreja Metodista) foi à região. Em declarações à TPA disse que encontrou as populações civis muito depauperadas e “as mulheres ficaram escondidas no capim porque nem tinham roupa para vestir”. Foi uma resistência heroica pela sobrevivência. Porque as acções ofensivas tinham terminado depois da Operação Nova Luz.

Nito Alves diz que aderiu ao MPLA em 1968, nos Dembos. Quando já não existiam acções guerrilheiras. Mesmo assim dizia-se comandante. O Tonet também diz que chegou a “comandante militar” com apenas 16 anos! Mas como nasceu em 1959, com essa idade corria o ano de 1975. Nessa altura já existiam as FAPLA. Estes artistas nem sabem mentir. Com a mesma idade afinal era pioneiro do MPLA e nessa qualidade esteve presente na cerimónia da Proclamação da Independência Nacional. Mentirosos compulsivos!

Os “comandantes” da I Região Político-Militar do MPLA nasceram quase todos depois de 1968! E eram mais do que aqueles que lutavam no Leste e na II Região (Cabinda). Pode? Claro que não. Mentirosos, usurpadores, oportunistas. Deram o golpe de estado porque queriam mesmo ser comandantes, como o Zé Van-Dúnem que nem concluiu o curso de sargentos milicianos na tropa portuguesa! Conseguiram aldrabar porque os antigos presos políticos, ligados às células clandestinas de Luanda, fizeram “uma aliança” que deu no golpe de estado do 27 de Maio.  

Nos golpes armados há sempre excessos e morre gente inocente. De quem é a responsabilidade desses danos irreparáveis? Dos golpistas! Nunca ninguém disse que não existiram excessos. Quem tenta tromar o poder pela força e perde, sabe quais são as consequências. Tanto mais que Angola estava em guerra contra os invasores estrangeiros e os golpistas decapitaram o Estado-Maior Geral das FAPLA. 

Os membros da direcção política e militar do golpe foram todos levados a tribunal marcial no Ministério da Defesa. E condenados à pena capital, O Tonet queria filmar o julgamento de militares por militares! A irmã do Zé Van-Dúnem e o irmão da Sita Vales queriam que o julgamento fosse transmitido na televisão. Mesmo sabendo que na época Angola ainda nem sequer tinha Tribunais civis a funcionar. Porque não existiam juízes, agentes do Ministério Público, funcionários judiciais. E advogados contavam-se pelos dedos das mãos.

O Presidente João Lourenço condecorou António Carlos Jorge, um Herói Nacional. Os golpistas foram a sua casa para matá-lo. Arrombaram a porta e entraram a disparar. Atingiram a sua esposa, que ficou com um braço inutilizado para toda a vida. Daquela longa lista de agraciados se há alguém que mereceu a distinção, foi ele. Mabecas e mabecos ficaram possessos. Pagaram muto dinheiro a falsários como Carlos Pacheco, Dalila Cabrita ou um velho rábula chamado Américo Cardoso Botelho, que emprestou o nome a um livro chamado “Holocausto em Angola”.

Do Pacheco não falo mais. A Dalila Cabrita (adorava ser o aumentativo de cabra!) pegou nos arquivos da PIDE e com eles escreveu aquilo a que chama História. Como se as declarações de prisioneiros tenham algum valor. Ou os relatórios dos esbirros da polícia politica sejam fontes limpas e credíveis. A desgraçada Cabrita, depois de recolher os materiais dos seus mentores (se não foi agente da PIDE pensava assim…) foi falar com aldrabões da estirpe do Tonet. Deu uma falsificação nojenta.

O velho rábula chamado Américo Cardoso Botelho não escreveu nada. Apenas deu o nome porque o material era tão falso, tão asqueroso que os “historiadores” não podiam assumir. Sabem quem era esse velho rábula?

Chegou a Angola no dia 10 de Novembro de 1975, na qualidade de delegado do Governo Português na Diamang (ENDIAMA). Partiu nesse dia para o Dundo e lá ficou. O seu superior era Rui Castro Lopo (comandante Muxima). Após a independência nacional, alguns meses antes do 27 de Maio de 1977, o velho rábula Américo Cardoso Botelho foi preso acusado de corrupção e espionagem. Rui Castro Lopo também foi preso acusado de corrupção.

O comandante Eurico Gonçalves tinha feito treino militar com Rui Castro Lopo na Coreia do Norte. E quando ele veio preso para Luanda, fomos visitá-lo na Casa de Reclusão. Uma maka. Recebemos muitas críticas! Seu irmão foi meu companheiro na direcção do Sindicato dos Jornalistas. Outro mano (Juleca) era magistrado judicial e nessa qualidade foi nomeado pelo Governo Português director da Polícia Judiciária em Angola. Tenho profunda admiração pelo Pai Castro Lopo. Foi ele que me abriu o caminho para o estudo do fabuloso Jornalismo Angolano, que estudo desde 1963. Tenho um trabalho sobre a Imprensa em Angola. As duas primeiras máquinas de imprimir foram instadas em Luanda e Banza Congo. No mundo existiam poucas e em África, nenhuma.

Rui Castro Lopo rejeitou todas as acusações. Disse-nos que estava a ser alvo de um ataque desferido por oportunistas que queriam o seu lugar na Diamang (ENFDIAMA). Foi libertado mais tarde e ficou a viver na praia da Corimba. Era um grande craque em economia e finanças por isso não precisou dos favores de ninguém para viver a sua vida. 

O velho rábula Américo Cardoso Botelho ficou preso na cadeia de São Paulo quando veio do Dundo. Provavelmente as acusações também eram falsas. Após o golpe militar foi libertado. E muitos anos mais tarde apareceu com o livro “Holocausto em Angola”. Leiam e logo percebem que aquele lixo não saiu da cabeça dele. Nunca tinha estado em Angola até ao dia 10 de Novembro de 1975. Ele é que diz na sua apresentação. Não sabia nada de Angola. Ele é que diz. Estava preso quando aconteceu o golpe de estado militar do 27 de Maio. E muitos anos depois escreveu um calhamaço em que fala dos problemas no seio do MPLA, do golpe de estado e muito mais! Um mentiroso, um canalha, um leproso moral. 

Pacheco, Cabrita (não tinha dimensão para cabra) e o velho rábula são mentirosos compulsivos e falsários. Venderam a alma aos derrotados no golpe de estado. Mas são os seus livros que contam! Quem lhe pagou continua apostado em denegrir a imagem de Agostinho Neto e destruir Angola.

O Club K também recebeu algum para a festa dos bandidos do 27 de Maio que este ano começou mais cedo. Dizem eles, citando o livro da Cabrita (caganitas de cabra disfarçadas de palavras), que o capitão do MFA Costa Martins foi torturado. Mas ele nunca disse isso a ninguém em lado algum! O Almirante Rosa Coutinho e o Marechal Otelo Saraiva de Carvalho pediram-me para eu interceder na sua libertação. Falei com Hermínio Escórcio, na época uma espécie de vice-presidente da República que socorria todos os camaradas em dificuldades. Pedi-lhe para convencer o Presidente Neto a mandar libertar Costa Martins que se exilou em Angola depois do golpe militar do 25 de Novembro de 1975 em Portugal.

Resposta: “Artur, já viste alguém deitar fora um limão antes de lhe espremer o sumo? Diz aos teus amigos que ninguém o vai tratar mal. Mas ele tem que dizer o que sabe. É um dos mentores do golpe. Quando disser tudo vai para casa”. Foi isso que aconteceu. Os Media portugueses entrevistaram-no mas ele nunca disse uma palavra sobre o que aconteceu em Angola. A Cabrita escreveu uma página inteira onde pôs os aldrabões a dizerem que ele foi torturado! E não teve o cuidado de confirmar isso junto do próprio.

O mesmo aconteceu com Vergílio Frutuoso, um homem de mão da Sita Vales. Foi ele que assumiu a direcção do Diário de Luanda quando Luciano Rocha e eu fomos demitidos pelos bandoleiros de Nito Alves. Fomos acusados de “sabotadores do processo produtivo” que na época dava Bentiaba ou fuzilamento. No dia 27 de Maio de 1977 foi preso, contou tudo o que sabia e partiu para Portugal. Nunca ninguém lhe arrancou uma palavra sobre o que aconteceu. No golpe de estado entrou gente honesta. Enganada. Nem todos eram assassinos, oportunistas e mentirosos compulsivos.  

* Jornalista

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