domingo, 2 de abril de 2023

Portugal | PARQUE ESCOLAR

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Parque Escolar foi a empresa escolhida pelo governo para a construção de habitação pública com o dinheiro do PRR. Sim, leu bem. A Parque Escolar, cuja mera invocação deveria causar taquicardia ao contribuinte, que encheu os bolsos ao muito fiel amigo de José Sócrates - Santos Silva do Grupo Lena -, que também deu uma ajudinha à mui regimental Mota-Engil, que tem um dívida de 1,4 mil milhões de euros e não apresenta contas há 6 anos, que está há um ano sem presidente do conselho de administração e sem presidente do conselho fiscal. Portanto, para que serve a bazuka? Para a rede cacique e nepotista do Partido Socialista, inclusive para limpar o passivo da Parque Escolar.

Ou seja, trata-se de uma empresa criada por Sócrates, quando António Costa era o número dois do governo, que fez orgias com os dinheiros públicos - um custo inicial de 940 milhões que, em 3 anos, já estava nos 3,2 mil milhões - que (como disse a própria ministra da Educação da altura) "foi uma festa" para o país e para a arquitectura, e sobre a qual ainda decore uma investigação por suspeitas de corrupção. Trata-se de uma construtora que edificou escolas com luxos supérfluos (como candeeiros Siza Vieira ou revestimentos a mármore), inclusive com custos de manutenção e funcionamento insuportáveis.

É isto que é a Parque Escolar. A mesma que nem sequer construiu todas as escolas previstas até 2023, que deixou durante anos alunos a levarem com chuva ou outras indignidades na cabeça (quem se lembra da miséria no Monte da Caparica?) que, por exemplo, em mais de uma década, não consegue acabar a António Arroio e agora vai construir habitação pública? A mesma que justificou as suas fundas derrapagens orçamentais e de prazos com a "dificuldade generalizada na mobilização de meios"?! A culpa sempre mais solteira que a carochinha.

Bom, como há escolas em contentores provisórios há mais de 40 anos - os chamados galinheiros - também devemos ter estes fogos construídos lá por 2100. Ou 2101. Talvez agora com madeiras nórdicas e vidros italianos.

Mas alguém que esclareça: a Parque Escolar é a única disponível? Será? Certo é que, em 2022, esta empresa deu por concluída a sua empreitada, sendo agora apenas encarregue da manutenção dos edifícios escolares reabilitados, que passaram a ser propriedade da mesma, o que implica que as escolas paguem uma renda anual de 500 mil euros.

Aliás, logo lhe foi encontrada nova missão: reconstrução de escolas na Ucrânia. De resto, as histórias mirabolantes da Parque Escolar são um maná. Em março de 2018, a sede do Ministério da Educação mudava para um edifício da Parque Escolar. Depois, o governo entregou o antigo prédio ao Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior, para construção de residências universitárias e outros equipamentos. Até hoje.

Esse plano tinha previsto para uma primeira fase a disponibilização de mais de 12 mil camas até 2022 aproveitando edifícios devolutos ou do Estado. No entanto, até agora a tal ex-sede continua fechada, casa de ratos, heroínomanos e sem-abrigo. Ou seja, tudo serviu para encher mais uns bolsos, e cavar o buraco negro.

Não se admirem se, em 5 anos, o Tribunal de Contas declarar que a Parque Escolar ainda não construiu uma única casa. O esquema para o fartar vilanagem último e final está montado com os primos e amigos do Animal Feroz. Que bela maioria absoluta.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

Sem comentários:

Mais lidas da semana