sexta-feira, 19 de maio de 2023

Angola | FÉRIAS DE LUXO E O MITO PARTIU – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um homem não é de ferro mas eu esqueci-me disso e estou um nadinha enferrujado. Por isso decidi aprontar o meu avião privado e fui fazer umas férias num destino de luxo só para milionários. Quando regressei os lacaios queriam levar-me para casa de limousine. Não me apeteceu. Regressei à mansão de helicóptero e uma assistente de bordo preparou-me um gim tom collins, bebida que muito agrada aos fígados mais exigentes. Está explicado o motivo da minha ausência durante dois dias. Mas no regresso encontrei tantos problemas que tive ganas de voltar à boa vida. A realidade é terrível e não me poupa!

O artista que recebe ordens de Madalenos e Sobrinhos no Novo Jornal diz em editorial que tem vergonha do que se passa na Justiça. O problema dele é o venerando conselheiro presidente do Supremo Tribunal. Eu pensava que o rapazola tem vergonha da impunidade do senhor Álvaro Sobrinho. Mas estava equivocado. Tenho um conflito insanável com os patrões. O artista às ordens de Sobrinhos e Madalenos devia ter vergonha de publicar notícias falsas às ordens dos donos. Vou dar um exemplo.

No mesmo número em que manifesta vergonha com o que se passa na Justiça, o director de Álvaro Sobrinho & Madalenos dá uma notícia falsa que muito o devia envergonhar. A propósito de uma notícia sobre o empresário Carlos São Vicente é escrito: “o empresário está a cumprir pena de prisão por peculato, fraude fiscal e branqueamento de capitais”. Na mesma “notícia” várias aldrabices, das quais duas são gravíssimas. 

O empresário Carlos São Vicente não está a cumprir penas de prisão. Está em regime de prisão preventiva. Porque a sentença que o condena ainda não transitou em julgado. Existe sim uma ilegalidade gritante. Há quase um ano que devia estar em liberdade porque o prazo de prisão preventiva já acabou. A outra aldrabice. Foi condenado por peculato. Mas noutro ponto da notícia dizem que o empresário era o proprietário da AAA Seguros em mais de 90 por cento. Peculato sobre o seu património? Só os criados de Sobrinhos e Madalenos acreditam nessa aldrabice.

A minha mansão doce mansão é muito acolhedora, muito confortável. Mas as notícias que me entram pelo sistema informático rebentam com a minha boa vida. Zenaida Machado, investigadora sénior para África da Human Rights Watch, denunciou excessos das autoridades angolanas na província de Cabinda. Diz a olheira da CIA que já foram detidos “100 activistas pró independência”. 

A olheira da CIA exige que o governo ponha termo “às detenções abusivas e respeitar os direitos da população de Cabinda a manifestar-se e a protestar de forma pacífica”. Como se sabe, todos os países do ocidente alargado ou estreito têm ”activistas” exigindo a independência das suas bualas, cheirem ou não a petróleo. 

Entre os “activistas” que exigem a independência da província de Cabinda estão estes heróis da Human Rights Watch: Alexandre Kwanga, Alberto Macosso, Gomes Tangui, Francisco Lufuilo, Mateus Gimbi e Wilfrido Gomes. A olheira da CIA Zenaida afirma: “Entre 28 de Janeiro e 1 de fevereiro de 2019, a polícia deteve 63 ativistas pró-independência de Cabinda. Muitos eram membros do Movimento Independentista de Cabinda, um grupo separatista pacífico”.

A olheira Zenaida não manifestou qualquer preocupação nem se manifestou quando o seus amigos “activistas” mataram soldados das FAA e dois trabalhadores brasileiros no Miconge. Mas quando a polícia prender os matadores els grita que nem uma cabra faminta contra as autoridades e o governo de Angola. 

Rui Verde, “editor” do portal Maka Angola, foi condenado em Portugal a quatro anos de prisão pelos crimes de abuso de confiança, falsificação, burla e fraude fiscal. Era vice-reitor da Universidade Moderna, encerrada pelo Governo português por graves irregularidades. Hoje escreve sobre a corrupção em Angola por conta de George Soros e outros donos. É a “pena” de Rafael Marques porque o condecorado pelo Presidente João Lourenço do ABC só ainda consegue escrever metade do “a”. Angola está assim. Qualquer abutre merdoso vem debicar e depois arrota-nos na cara.

Mão amiga enviou-me um documento intitulado Revisão e Extensão da Estratégia de Longo Prazo (ELP) 2025 para 2050 (ELP Angola 2050). Eu estava de férias e ainda não consegui estudar. Tenho defendido que séculos de colonialismo e décadas de guerra deixaram tão graves e profundos problemas em Angola que precisamos de pelo menos mais 50 anos para recuperar. E mesmo assim duvido que seja possível enquanto existir a organização de malfeitores UNITA. 

Este documento (ELP Angola 2050) é prova de que existe essa consciência na direcção do MPLA e no Executivo. A discussão pública começou hoje. Se todos colaborarem, o Povo Angolano tem tudo a ganhar. Depois de estudar o documento volto a falar no assunto.

Hoje faleceu Guilherme Espírito Santo, o nosso Mito ou “Espírito”. Fomos colegas no Liceu Salvador Correia. Um dia, no estádio dos Coqueiros ainda sem relva, assisti a uma final épica entre as equipas de futebol do Liceu e da Escola Industrial. Na nossa baliza estava o Mito. A defesa era de luxo: Assunção, Nicola e Justino Fernandes. Lá na frente o Adérito Raquel, o Leandro e o Zé Eduardo (Presidente José Eduardo dos Santos). 

Eu vi, com estes que a terra há-de comer, o Mito voar de um até ao outro poste da baliza. Não estava liambado nem bêbado. Vi mesmo. O Nicola dava pau impiedosamente, pelo Justino ninguém passava, o Zé Eduardo marcou dois golos. Olha a malta do Liceu. Olha a malta sempre fixe. Quem não pensar como eu que se lixe!

No final do encontro nós cantámos: Ai rapa o tacho rapa o tacho rapa o tacho! O Liceu em cima e a Escola em baixo! Sim éramos um nadinha elitistas. Mas no futebol ninguém nos batia. Na Escola Comercial jogava o Couto Cabral, um mestiço ruivo e meu amigo de Camabatela! 

Hoje faleceu o Mito. O mundo da minha juventude está a desmoronar-se. Tanto tempo, tanto vento, tanto sonho a naufragar. Não te digo adeus meu amigo, meu camarada, meu ídolo do futebol e do andebol. Um dia havemos de voltar aos Coqueiros. E tu a sorrir. Sempre a sorrir. Nunca te vi triste, meu irmão. Mas todos sabíamos do imenso sofrimento que nos destruía os dias sonoros e luminosos. Fomos vítimas do colonialismo. Somos vítimas do imperialismo. 

* Jornalista

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