Artur Queiroz*, Luanda
Fui desafiado. Chamaram-me à pedra. Então o que dizes do discurso sobre o Estado da Nação? Fala! Agora critica o presidente! Estás encostado à parede! As palavas nunca me meteram medo. O seu peso é sustentável. E quase sempre agradável. Mas só respondo no fim a tão palpitante desafio.
O jogo das palavras é fascinante. Alguém escreveu no muro da sinagoga do Porto (pertinho da minha casa) “Liberdade para a Palestina”. Esta frase abriu noticiários. Serviu de tema a comentários de politólogos, peritos em relações internacionais. Condenação do terrorismo. Título bombástico: Sinagoga do Porto vandalizada! Na cidade de Gaza as bombas da aviação de Israel reduziram a a maior mesquita a escombros. Nem um adjectivo. Nem um gritinho de entusiasmo. Nada. Silêncio é uma palavra pesadíssima quando os Media têm o dever indeclinável da imparcialidade.
Um menino palestino foi
assassinado à facada pelo senhorio da casa onde vivia com a mãe, numa cidade
dos EUA. Título: Criança esfaqueada até à morte. O autor está detido e pode ser
acusado por crime de ódio. Crianças israelitas foram assassinadas nas suas casas
O Hamas é umam organização terrorista dizem os Media do ocidente alargado. Lá vou eu para as palavras de Brecht. Chamam violento ao rio que tudo arrasta na correnteza. Mas ninguém chama violentas às margens que o oprimem. Os sionistas de Telavive numa semana mataram mais de 7.000 pessoas. Feriram mais de 15.000. Um médico palestino avisou: Debaixo dos escombros das casas e dos prédios estão milhares de mortos. Quem faz isto não é terrorista. Apenas usam bombas como câmaras de gás. Matem os palestinos até onde for preciso. Israel tem o direito a defender-se. Tem o dever de exterminar palestinos.
Combatentes do Hamas fugiram da
prisão de Gaza e entraram a matar
Os Media do ocidente alargado, transformados em amplificadores da propaganda sionista e filiais dos serviços secretos de Israel, dizem que vários governos imploram aos militares israelitas para não entrarem na Faixa de Gaza por terra. Poupem os civis! A hipocrisia destes políticos é muito pior do que terrorismo. Todos sabem que quando cai uma bomba no norte da Faixa de Gaza morrem civis inocentes. Têm essa certeza. Se as bombas caem (como estão a cair) na populosa cidade de Gaza matam centenas de civis. Mas eles não pedem que parem os bombardeamentos!
A tal operação terrestre é uma
impossibilidade, por isso, um truque baixo. Os tanques não podem avançar porque
está tudo
A África do Sul viveu durante décadas sob o regime que os sionistas impuseram na Palestina. Chama-se apartheid. Alguém ouviu um só líder do ocidente alargado condenar o racismo e a segregação impostos aos palestinos? Ninguém. Pelo contrário, apoiam. O Povo Heroico e Generoso ouviu a voz de comando do seu líder, Agostinho Neto; Só seremos livres quando forem livres os povos da Namíbia, Zimbabwe e África do Sul.
Os longos anos da Guerra pela Soberania Nacional e Integridade territorial podem ser resumidos assim: Morte ao apartheid! Os angolanos libertaram os povos irmãos e abriram as portas da prisão a Nelson Mandela. Os Heróis que se bateram em todas as frentes hoje são tratados como inimigos. Abandalhados. Ignorados. Os mimos, as mordomias são para os sicários da UNITA. Os nossos têm sorte por não serem rotulados de terroristas. Menos mal!
Ninguém me venha acusar de antissemitismo. Não sou. Nunca serei. Mas aproveito para esclarecer um ponto importante. No ocidente alargado usam a expressão antissemitismo para qualificar quem é contra os judeus. Mais uma manifestação de superioridade dos esclavagistas e colonialistas. Para eles, só o sargento dos EUA no Médio Oriente, Israel, é habitado por semitas. Os outros são inferiores. Terroristas. Matem-nos até onde for preciso.
Na actualidade os semitas são judeus e árabes, como por exemplo os palestinos. Na antiguidade eram também os fenícios, os babilónicos, os arameus e os assírios. Estes povos, há quase 4.000 anos emigraram da Península Arábica para a Mesopotâmia, onde corria o leite, o mel e a vida era fácil. Nesse paraíso, os sumérios inventaram a roda e daí nasceram os carros que transportavam cargas e pessoas. Uma maravilha! Como posso ser antissemita se luto há décadas pela libertação dos palestinos e pelo fim do apartheid a que estão subjugados?
A TPA está a cometer um crime
contra a liberdade. Escondem as imagens dos deputados da UNITA fazendo na
Assembleia Nacional, uma cena igual à que os seus militantes fizeram nas ruas
de Luanda, quando destruíram as instalações de um Comité do MPLA e incendiaram
um autocarro do Ministério da Saúde. Queriam fazer cair o poder na rua. Os
eleitores têm que ver como se comportaram aqueles que colocaram no Parlamento.
Para nunca mais lhes confiarem o voto. Começaram por fazer uma política de
cadeiras vazias. Agora optaram pela arruaça. A manifestação dos deputados da
UNITA foi antecedida de várias manobras dos embaixadores dos EUA e de Israel
Então o discurso do Estado da Nação? Muito simples. O Presidente João Lourenço esteve horas a falar e gastou milhares de palavras. É por isso que tenho pena dos políticos. É tão fácil definir o Estado da Nação em três palavrinhas Aí vai: Está tudo fodido!
* Jornalista
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