Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião
“A escalada da violência em Gaza exacerbou o sofrimento das crianças cujas vidas já têm sido insuportavelmente difíceis há vários anos” (...). “O fornecimento mínimo de energia em Gaza perturbou os serviços de água e saneamento, reduzindo gravemente a disponibilidade de água potável”. Este apelo da UNICEF em defesa das crianças que (sobre)vivem na faixa de Gaza poderia ter sido divulgado ontem. Não foi, tem a data de outubro de 2017. Noutro comunicado mais recente, de maio de 2021, lê-se: “Vidas foram perdidas e famílias despedaçadas, com impactos devastadores nas crianças. Em Gaza, escolas e instalações de saúde foram danificadas, casas e escritórios foram destruídos e famílias inteiras foram deslocadas”. É este, há vários anos, o quotidiano dos palestinianos, homens, mulheres e crianças, encurralados numa pequena faixa de território. No local mais densamente povoado do Mundo, tendo uma das populações mais jovens, cresce-se ao som de bombas - que atingem civis de “modo cirúrgico”.
A tragédia que acontece em Gaza, em resposta a um hediondo ataque a Israel, agora só tem uma maior dimensão, está mais concentrada, pois tem em vista a aniquilação total do Hamas. De um lado e de outro do conflito, as vítimas são as mesmas. Do lado palestiniano, milhares de civis são forçados a fugir num curto espaço de tempo. Não é fácil esquecer as palavras de um palestiniano a justificar a sua decisão em ficar: “Morrerei de qualquer maneira, prefiro morrer na minha casa”. Nesta como noutras guerras, o chamado direito internacional parece servir apenas para iludir o impacto das bombas. No conflito que se vive agora em Gaza, não há sequer o mínimo pudor. Israel quer aniquilar o opositor, nem que para tal tenha de destruir, à revelia de todas as regras (a guerra tem as suas regras), um povo, perante a quase completa indiferença da comunidade internacional. Sem água, sem eletricidade, sem alimentos, flagelada pelas bombas, que outro nome se poderá chamar a esta prisão a céu aberto, como a qualificou, há uns anos, Sarkozy?
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