Artur Queiroz*, Luanda
Os jovens da minha geração colocavam-se em campos diversos. Uns queriam viver tranquilos na ordem colonial. Outros sonhavam com umas férias em Portugal viajando agora e pagando depois na agência de Dona Lacas D’Orey. A esmagadora maioria não tinha qualquer direito, nem a sonhar porque eram negros. Uns tantos, amalucados, sonhavam salvar o mundo, começando por restaurar a Liberdade de Cabinda ao Cuando Cubango e do Lobito ao Luau. Sempre fui mais aventureiro do que outra coisa e por isso alinhei na equipa dos salvadores. Depois de levar porrada de criar bicho, anos a fio, década após década, continuo no mesmo lugar. Burro velho não aprende línguas.
O Teatro serviu-me de linimento para as feridas no orgulho de fracassado. Por indicação do Doutor Lucas, meu professor, mergulhei na obra de Gil Vicente. Poucas vezes o génio humano chegou tão longe. O meu “auto” favorito é Todo o Mundo e Ninguém. Apaixonei-me pelo texto. A paixão foi tão assolapada que mexi os cordelinhos para ser levado à cena no Clube da Terra Nova. Mesquita Brehm era o encenador. Ilídio Alves fazia de Todo o Mundo, um senhor muito rico. Kid Kindumba era Ninguém, um homem andrajoso, pobre. O diabo Belzebu era eu e o diabrete Dinato só aparecia em voz.
O pobre Ninguém pergunta ao ricaço Todo o Mundo: Que andas tu aí buscando? E o ricaço responde enfadado: Mil coisas ando a buscar:/delas não posso achar,/porém ando porfiando/por quão bom é porfiar.
O meu nome é Todo o Mundo/e meu tempo todo inteiro/sempre é buscar dinheiro/e sempre nisto me fundo. O pobrezinho apresenta-se: Meu nome é Ninguém e procuro a Consciência!
Aqui entra o diabo Belzebu com esta fala: Esta é boa experiência/Dinato, escreve isto bem.
E o diabrete Dinato: Que escreverei companheiro? Belzebu: Que Ninguém busca Consciência/e Todo o Mundo Dinheiro.
A GALP hoje ganhou uma fortuna na Bolsa. De um dia para o outro. O milagre foi operado por uma notícia bombástica: A empresa encontrou petróleo na Namíbia. Já está! Milhões entraram nos cofres. Mas amanhã podem desaparecer por obra e graça de uma notícia negativa. O mundo da alta finança é assim. Fazem-se fortunas de um momento para o outro. Alguém explique ao Pita, grós incompetente, ao chefe Miala e ao soba grande que ganhar dinheiro não é só abafar milhões das comissões nas compras ou vender produtos nas cantinas.
A UNITEL registou milhões em lucros a prestar serviços até que Aguinaldo Jaime fez de Belzebu e rebentou com tudo. A empresa AAA Seguros SA ganhou biliões no estranho mundo financeiro. Muito desse dinheiro veio para Angola e deu para construir três redes hoteleiras com 40 unidades, todas mobiladas, equipadas e servidas por trabalhadores angolanos com formação profissional adequada. Os Belzebus rebentaram com tudo.
Todo o Mundo ama o dinheiro e odeia a liberdade. Apoia e financia graves atentados aos Direitos Humanos. Os Media públicos e privados aplaudem. Felizmente existe o Conselho dos Direitos Humanos da ONU para defender os injustiçados, proteger os Ninguém. Entre os 47 países que dirigiram a instituição até final de 2023 (apreciaram a queixa de Carlos São Vicente e tomaram medidas), destaque para os africanos Senegal e Gabão, os asiáticos República Popular da China e Paquistão, os europeus Federação Russa, França ou Reino Unido.
A República Ilhas Marshal votou contra a existência do Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Este país poderoso, com grande influência em Todo o Mundo, tem 40 mil habitantes e a moeda oficial é o dólar norte-americano (USD) A Repúblicas de Palau também votou contra a institucionalização do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que apreciou o Caso São Vicente e lhe deu razão. É parte importante de Todo o Mundo, Tem 18 mil habitantes e a moeda oficial é o dólar USD. Angola caminha para o mesmo clube grandioso.
Os EUA, mentores de Todo o Mundo, também votaram contra a existência do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O negócio deste país é promover, apoiar ou executar graves violações aos Direitos Humanos. O estado terrorista mais perigoso do mundo ganha fortunas a esmagar países e povos. O seu sargento genocida, Israel, também votou contra. Sabem porquê?
Ontem foi encontrada uma vala
comum, junto ao maior hospital de Khan Yunis, Faixa de Gaza, com dezenas de
cadáveres com as mãos amarradas atrás das costas. Palestinos assassinados pelos
nazis de Telavive. Hoje os genocidas israelitas atacaram um campo de refugiados
Os nazis de Telavive e de Washington pensam que Todo o Mundo é mentecapto e Ninguém pensa. Tomem nota: Os nazis condenados no Tribunal de Nuremberga foram acusados de um crime gravíssimo: Deportação forçada de judeus! Seres superiores. Os palestinos, coitados, são inferiores, não têm estatuto humano. Joe Biden ainda não assinou o decreto que lhes dá existência. Por isso os EUA vetaram a entrada do Estado da Palestina na ONU.
EUA, Israel, Ilhas Marshal e Palau votaram contra a existência do Conselho de Segurança da ONU para que o braço da Justiça não chegue ao antigo ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, líder do partido Yisrael Beiteinu, quando faz declarações como esta: “Vamos criar um Estado judeu puro etnicamente”. Para isso exigiu que sejam deportados todos os palestinos da Cisjordânia! Leiam a sua declaração: “Para estabelecer um Estado Judeu puro etnicamente é necessário que os israelitas ocupem totalmente a Cisjordânia”.
EUA, Israel, Palau e Ilhas Marshal votaram contra a criação do Conselho de Direitos Humanos da ONU porque querem torturar, deportar ou matar à vontade os palestinos. Israel a tem um “batalhão religioso”, o Netzah Yehuda, composto por nazis genocidas. A sua base è a norte do Vale do Jordão. Todos os dias agridem, torturam e matam palestinos na Cisjordânia.
Quatro genocidas dessa unidade foram filmados espancando violentamente dois jovens palestinos na Cisjordânia. Poucos dias antes, três soldados nazis espancaram violentamente dois jovens palestinos perto de Ramalah. Tudo em nome da pureza étnica! O alto comando israelita emitiu um comunicado onde se afirma que foram “incidentes graves e repugnantes que contradizem diretamente os valores das IDF”.
Face à sucessão de atentados aos Direitos Humanos na Cisjordânia foi aberto um inquérito. Conclusão: “Soldados do batalhão Netzah Yehuda, envolveram-se em actos extremistas de direita e de violência contra os palestinos”. Um exemplo repugnante. Omar As’ad, 78 anos, palestino com nacionalidade norte-americana, foi preso na Cisjordânia pelos nazis do batalhão. Amararam-no de pés e mãos. Foi torturado. Levaram-no para um prédio abandonado numa note gelada de Janeiro. E lá ficou sangrando até morrer.
Os EUA impuseram sanções contra o batalhão Netzah Yehuda, “por crimes contra os direitos humanos na Cisjordânia”. Uma brincadeira de mau gosto. Os criadores viram-se contra a criatura que arma, financia e apoia. Enfurecido, o ministro de Defesa de Israel, Yoab Gallant, foi conviver com a soldadesca na Cisjordânia e disse: “Ninguém no mundo vai ensinar-nos o que é a moral e o que são as normas”.
Em Angola a reacção de João Lourenço é igual face à posição do Conselho de Direitos Humanos no Caso Carlos São Vicente! Um aviso: As decisões da instituição não são vinculativas. Mas um Estado que é condenado sofre uma pesadíssima derrota moral e política. Esqueçam o dinheiro dos angolanos que está no exterior. A partir dessa deliberação ninguém mais acredita nas autoridades políticas e judiciais angolanas. Um dia vão ter de pagar em vez de receber.
Karim Khan, o empregado dos EUA no Tribunal Penal Internacional, está na Venezuela a “investigar” crimes contra os direitos humanos naquele país! O homem tem a bússola avariada. A Faixa de Gaza é mais para Oriente!
Última notícia. O parlamento britânico aprovou uma lei que permite ao governo de Londres deportar para o Uganda refugiados que procuram asilo no Reino Unido. O Conselho de Direitos Humanos Da ONU condenou a aprovação da legislação e exigiu ao governo de Londres que não deporte ninguém. Se Londres fingir que não ouve estes apelos, o Reino Unido entra para o clube dos estados párias, violadores dos direitos de indefesos refugiados que eles próprios causaram. Vítimas da OTAN (ou NATO), do neocolonialismo e das políticas de rapina.
A nova ordem mundial que está a ser forjada vai acabar com esses crimes e os criminosos vão prestar contas. Cá se fazem, cá se pagam. Todo o Mundo começa a ganhar Consciência. Ninguém fica impune.
* Jornalista
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