Artur Queiroz*, Luanda
A alternância é a trave mestra do regime democrático. Os partidos políticos são os seus pilares. A democracia em Angola tem uma trajectória singular. Ainda dava os primeiros passos, incertos, titubeantes, já o partido UNITA tentava matá-la. Cinco dias depois da assinatura do Acordo de Bicesse, Jonas Savimbi, com o apoio da inteligência militar do apartheid e dos EUA escondeu milhares de militares e as melhores armas em bases secretas criadas no Cuando Cubango. Eram elas Licua, Girafa, Palanca e Tigre.
A primeira proposta de golpe militar contra a nascente Democracia Angolana ocorreu na casa de Jonas Savimbi, no Miramar e foi apresentada ao subsecretário de Estado Herman Cohen. O criminoso de guerra foi surpreendido com uma recusa. O político norte-americano insistiu na necessidade de serem realizadas as primeiras eleições multipartidárias e respeitados os resultados. Savimbi argumentou: “As Forças Armadas Angolanas não existem e o Governo está desarmado. Eu tenho tropas para tomar o poder, as eleições não interessam nada”. Herman Cohen disse não ao golpe e exigiu que a UNITA respeitasse o que foi acordado em Bicesse.
Leiam o livro de memórias do político norte-americano. Está lá tudo. Herman Cohen até refere que sob a capa das acções de propaganda na campanha eleitoral, Jonas Savimbi espalhou os seus homens armados por todo o país. Estava em marcha a segunda tentativa de golpe militar. A ONU divulgou os resultados oficiais das eleições, a UNITA rejeitou-os e partiu para a tomada de poder pela força. A aventura belicista do Galo Negro durou dez anos! Terminou no Lucusse em 22 de Fevereiro de 2002. Para trás ficou um rasto de morte e destruição. Mas também ficaram os seguidores de Jonas Savimbi, que transformaram o partido numa seita apostada em imolar o regime democrático, custe o que custar ao Povo Angolano.
A rebelião armada da UNITA teve um efeito destruidor nos pilares da Democracia Angolana. Os novos partidos ficaram sem base social de apoio. Porque face ao golpe de estado militar do Galo Negro, o eleitorado, em massa, dirigiu o seu apoio ao MPLA. Nas primeiras eleições multipartidárias, o partido ganhou as eleições com 53,7 por cento. Nas segundas, em 2008, o MPLA registou 81,76 por cento dos votos. Os novos partidos desapareceram ou registaram votações residuais. A UNITA, na versão seita savimbista, chegou aos impensáveis 10,36 por cento. Os matadores do Povo Angolano e da Democracia ainda conseguiram votos!
É verdade. Mas confirmaram a versão seita. A alternância democrática faz-se entre partidos e não entre partidos e seitas. A bipolarização é evidente e inultrapassável nos tempos mais próximos. Isto significa que ainda vamos ter pelo menos mais duas décadas sem alternância. E com os partidos, os alicerces da Democracia, seriamente instáveis. Basta olhar para os resultados das últimas eleições. Partidos importantes como a FNLA e o PRS registaram votações diminutas e tiveram de fazer uma aliança pós eleitoral, para conseguirem formar um grupo parlamentar. A CASA-CE, que surgiu como uma alternativa à seita, desapareceu da Assembleia Nacional porque o seu fundador, Abel Chivukuvu, regressou à UNITA.
A Oposição é chefiada por uma seita satânica que desconhece as regras básicas da democracia. Como só conhece a linguagem da morte e da destruição, não é capaz de dialogar no Parlamento nem na sociedade. Ainda que dê jeito às autoridades fingirem que os actos de vandalismo, os atentados à vida, a destruição de equipamentos sociais não são da responsabilidade da UNITA, a seita só sabe fazer política matando, destruindo, vandalizando.
A seita resolveu lavar a cara com a Frente Patriótica Unida. O logro produziu efeito. A seita capitalizou o voto de protesto e aumentou o número de deputados. As soluções demagógicas dão apoios imediatos mas de curta duração. Em 2027 se verá. Mas a tal Frente Patriótica Unida nunca existiu. Não existe. Não vai apresentar-se às próximas eleições. Para salvar a face da UNITA, a direcção do Bloco Democrático destruiu o partido. Se for às eleições é extinto por falta de votos. Abel Chiivukuvuku pode apresentar um novo número, uma pirueta diferente mas já ninguém vai acreditar que pense diferente da seita. Nunca pensou.
Hoje a seita dedica-se a números muito parecidos com as velhas coboiadas. Os deputados eleitos, em vez de fazerem o seu trabalho de legisladores, vão fazer confusões nas províncias. Começaram no Cuando Cubango. Agora em Malanje, o deputado Carlos Xavier, munido da sua escolta, diz que foi baleado. Mentira.
Mais grave é a posição do “bispo”
da seita, Abílio Camalata Numa. Sobre a coboiada de Malanje escreveu isto:
“Carlos Xavier, seguindo Abel Chivukuvuku, passou a militar na CASA-CE,
posteriormente no Projecto Político PRA-JÁ SERVIR ANGOLA que com a UNITA, o
Bloco Democrático e a Sociedade Civil dão corpo a Frente Patriótica Unida - FPU
que ganhou as Eleições Gerais em Angola em
A seita e seus acólitos, segundo
Abílio Camalata Numa, ganharam as eleições! Vai mal quem pensar que isto não é
grave. Sem alternância, a democracia está coxa. Com uma seita a liderar a
oposição, a democracia fica adiada. Ao porem em causa os resultados eleitorais,
desde
Abílio Camalata Numa, dirigente da seita e mentor de Adalberto da Costa Júnior, escreveu mais isto, depois de elogiar o deputado não baleado mas assustado de morte, Carlos Xavier: “O trio maravilha nacional, assim conhecido, formado por Adalberto Costa Júnior, Abel Epalanga Chivukuvuku e Filomeno Vieira Lopes, tem tirado sono ao MPLA. Há dados que revelam, durante as eleições de 2022, ter sido arquitectado, caso o povo de Luanda se manifestasse para comemorar a victória eleitoral, o assassinato de Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku, Filomeno Vieira Lopes, Kamalata Numa e mais uns poucos, terminando esta bárbara acção com uma cerimónia de Estado para se lamentar dessas mortes”.
Esta acusação mostra o que
podemos esperar da UNITA. Nada. A confirmação vem no próximo dia
* Jornalista
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