PORTUGAL
Grupo invadiu casa no Porto onde vive uma dezena de migrantes para os agredir e outros dois ataques ocorreram na última noite, segundo o “JN”. SOS Racismo refere um grupo organizado com “ataques planeados e devidamente organizados”. Além do Governo, vários partidos já condenaram os ataques
Um grupo de seis homens invadiu uma casa no Porto onde vivem cerca de dez migrantes, sobretudo de origem argelina, e agrediu-os, além de ter destruído o interior da habitação. A notícia foi avançada este sábado pelo “Jornal de Notícias”, que refere ainda outros dois ataques racistas a imigrantes ocorridos na sexta-feira. Segundo o jornal, uma das vítimas saltou pela janela do primeiro andar para fugir das agressões, tendo sido internada num hospital do Porto.
Segundo o SOS Racismo, trata-se de um grupo organizado que perpetrou ataques racistas contra imigrantes residentes na cidade.
“Nos últimos dias, um grupo organizado de pessoas constituiu uma milícia para invadir casas e atacar imigrantes na cidade do Porto. Com recurso a bastões, paus e facas, este grupo espancou vários imigrantes, dentro das suas casas. Os ataques foram planeados e devidamente organizados, para espalhar o terror e atacar o maior número de imigrantes. As habitações foram destruídas e várias pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar”, lê-se na nota de imprensa, citada pela agência Lusa.
Algumas horas depois, registou-se outro ataque na zona da Batalha, com um cidadão marroquino a ser agredido por um grupo armado com bastões, descreve o “JN”.
O primeiro-ministro escreveu uma mensagem este sábado na rede social X condenando os ataques. “Condeno veementemente, em meu nome pessoal e do Governo português, os ataques racistas desta noite no Porto. Exprimo a nossa solidariedade com as vítimas e reafirmo tolerância zero ao ódio e violência xenófoba. E elogio o trabalho das nossas forças de segurança.”
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, também já condenou os ataques. Em declarações aos jornalistas depois da sua intervenção nas comemorações do 50.° aniversário da Juventude Socialista (JS), o secretário-geral do PS foi questionado sobre a violência contra imigrantes que se registou na última noite, no Porto.
"Desde logo, condenar de forma veemente, sem hesitação, e apelar ao combate a todas as formas de violência. É de facto preocupante, é mesmo até assustador e não acontece só em Portugal", afirmou, no concelho de Almada, distrito de Setúbal.
Pedro Nuno Santos considerou existir "um discurso e uma atmosfera que incita ao ódio, à divisão, ao ressentimento", o que "torna o terreno fértil depois para a violência", que tem de ser "combatida sem hesitação".
"Portugal é um país que sempre respeitou o outro e nós temos de saber respeitar o outro. Portugal é um país de emigração e nós devemos tratar quem escolheu Portugal para viver e trabalhar como nós exigimos que os nossos portugueses sejam tratados lá fora", defendeu.
Questionado se a ideia de Portugal como um país seguro pode estar ameaçada, o líder socialista rejeitou essa possibilidade e sustentou estar em causa "violência com motivação racial".
"É uma violência, uma criminalidade específica que deve ser combatida por todos nós e não só pelas forças de segurança, mas do ponto de vista discursivo, por todos os que têm responsabilidade política e pelos cidadãos", salientou.
Também a coordenadora do BE pediu uma "punição exemplar dos agressores", defendendo "nem um dia de silêncio contra a política de ódio". Mariana Mortágua considerou que "quando o racismo flui no parlamento, a violência flui até às ruas".
"Quem censura a memória do colonialismo abre a porta à violência no presente", escreveu a bloquista.
Na mesma rede social, a porta-voz do PAN repudiou "os atos de xenofobia e racismo que ocorreram ontem [sexta-feira], na cidade do Porto, bem como o planeamento de assassinato de uma pessoa em situação de sem-abrigo e a sua transmissão em direto".
"O ódio não representa os valores humanistas da nossa sociedade", salientou Inês de Sousa Real.
SOS RACISMO CRITICA PASSIVIDADE DO ESTADO
O SOS Racismo anuncia para este sábado, às 22 horas, no Campo 24 de agosto, no Porto, uma ação de solidariedade para com os imigrantes agredidos.
“Legitimados pelo discurso de ódio da extrema-direita e por narrativas e discursos populistas e racistas de altos responsáveis políticos, que têm vindo a fazer associações falsas entre a criminalidade e a imigração, fornecendo o combustível necessário para alimentar a violência contra imigrantes e legitimar milícias racistas e xenófobas”, denuncia o SOS Racismo.
O movimento critica ainda a "passividade do Estado no combate ao racismo e à xenofobia" que se "verifica nos crónicos problemas da Justiça neste capítulo, aos quais acresce a inoperância da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que está sem funcionar desde outubro de 2023".
Exigem, por isso, "a todos os responsáveis políticos que condenem estes atos e que condenem todos os discursos de ódio que os sustentam, ao Ministério da Administração Interna que atue de imediato, fornecendo proteção policial necessária para proteger as pessoas, ao Ministério Público que atue rapidamente para deter e levar a julgamento este grupo de criminosos que cobardemente atuam encapuzados".
Ao Presidente da Republica, à Assembleia da República e ao Governo, prossegue o movimento, exigem que "condenem inequivocamente toda esta violência e que tomem as medidas necessárias para que as instituições democráticas funcionem, e, em especial, para que a Comissão Para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial funcione".
Expresso | Lusa
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