Artur Queiroz*, Luanda
Hoje venho falar-vos de paciência e tolerância. Estou cansado de escrever sobre a infinita estupidez humana. Começo pela raiz. Estamos em franco declínio mas não é o fim da picada. Depois de 2027 pode ser muitíssimo pior. O primeiro Presidente da República, Agostinho Neto, era médico. Quando se licenciou, os médicos estavam no topo da escala social dos profissionais. Acima deles, ninguém. Os colonialistas odiavam-no profundamente. E ele respondia com tolerância e infinita paciência.
O segundo Presidente da República, José Eduardo, era engenheiro. Mas antes foi estudante brilhante no Liceu Salvador Correia. Nesse tempo 99 por cento dos alunos eram brancos. Era craque no futebol. Vestia com elegância. As meninas chamavam-lhe “Tyrone Power”, o actor mais elegante naquela época, que andava sempre impecavelmente vestido.
O terceiro Presidente da República é filho de enfermeiro, condição inultrapassável na escala social. Um extra terreste. Ninguém lhe chega aos calcanhares. Para a sua luz não nos cegar, teve que se rodear de figuras mais baças, como o sipaio da Damba, o Queiroz da CIVICOP ou Pita Grós, o recuperador de fortunas alheias. Depois de 2027 arriscamos ficar com a nossa Evita, o sipaio da Damba ou mesmo o procurador reciclado. Ele é pau para bater todo o pirão, todo funje e todas as costas.
Só com tolerância às carradas e
infinita paciência conseguimos tolerar a fauna do 27 de Maio. Uma casta
especial que vive há anos desse negócio. Uma chegou a ministra no estrangeiro,
mas aquilo era disfarce para os mundos e fundos que pingam do 27 de Maio. Comem
e bebem do 27 ded Maio, Viajam à custa do 27 de Maio. Os seus empregos são o 27
de Maio. As suas contas bancárias são recheadas à custa do 27 de Maio. Meia dúzia
de oportunistas fazem do 27 de Maio uma virtude. Transformam criminosos em
vítimas e vítimas
O Pacheco acaba de publicar isto: “Arrepia-me continuar a ver Angola nas mãos de mestres da farsa e da teatralidade”. Pensei que estava arrependido. O qual não! Continua no mesmo registo de sempre. O que ele quer é ver Angola com o governador-geral. Um dia foi à varanda do Palácio da Cidade Alta garantir aos colonialistas que a juventude angolana estava com Portugal do Minho a Timor.
A Angola de Carlos Pacheco nada tinha de farsa. Era uma tragédia. Um drama sangrento, Ele massacrou civis indefesos quando era alferes dos “Comandos”. Um dia perguntei-lhe por que razão tinha ido para as tropas especiais. Ele respondeu repisando as sílabas: “Para os massacres!” Essa é a Angoa que ele quer. É dessa Angola que ele tem saudades. Mas fica sabendo que o filho de enfermeiro vale mil vezes mais do que todos os governadores juntos, desde a chegada dos portugueses à foz do rio Zaire.
O funcionário da Procuradoria-Geral da República, Álvaro João, abusa permanentemente da nossa paciência e da tolerância que lhe dispensamos. Quando tem que falar fica calado. Quando devia estar calado fala como um bêbado da valeta inundado de kapuka.
Os Media do chefe Miala soltam “notícias” sobre o Tribunal Supremo, invocando fontes da Procuradoria-Geral da República. São ataques soezes a titulares de um órgão de soberania. Falsidades com estatuto de difamações. Álvaro João fica calado, bem sabendo que o seu silêncio é consentimento. Todos podemos concluir que ele é a origem dessas falsidades. Sobre a viagem de Pita Grós à Suíça, ele desmente. Inventa. Gaba-se. Mais valia estar calado. O senhor Álvaro João sabe que o Decreto Presidencial da “recuperação de activos” foi declarado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional. E dessa decisão não há recurso. Todas as sentenças na sua vigência valem zero.
Comprar sentenças por dez por cento ou mais não adiantou nada. O Acórdão do Tribunal Constitucional faz jurisprudência. O Processo dos 500 Milhões morreu. Os outros, igualmente. Vão ter de devolver tudo, ainda que já tenham começado a gastar por conta. Aquela senhora da Procuradoria de Genebra que colaborou no esbulho dos fundos do empresário Carlos São Vicente também vai ter de devolver o kumbu. Um dia destes falo-vos dessa personagem sinistra. Está ao nível de Hélder Pita Grós.
Paciência infinita. Tolerância inesgotável. As lideranças no ocidente alargado ainda não compreenderam que todos os impérios acabam com um qualquer Nero. O império português foi à vida quando o seu Nero, um tal Sebastião, arregimentou uns loucos e foi espadeirar para o Norte de África. Ficou lá e lá começou o desmoronamento do império português. Só se desmoronou definitivamente, em África, quando o padrinho do Tio Celito foi derrubado. Os EUA têm dois Neros, Biden e Trump. O império vai ao fundo não tarda nada, Mas antes de ruir definitivamente, os Neros ianques vão fazer muito mal ao mundo. Olhem para a Palestina.
Portugal acaba de anunciar que autoriza os ucranianos a usarem as suas armas contra território da Federação Russa. Esta foi uma declaração, em Bruxelas, do ministro dos negócios com o estrangeiro. O matraquilho fanhoso disse aos jornalistas que se sente “muito confortável” com essa decisão. É o que dá escolherem matraquilhos para cargos que devem ser desempenhados por humanos. Mas a declaração era escusada. Um “drone” português atacou a rede de radares russos que detecta mísseis balísticos intercontinentais. Alguém avise o matraquilho que se isto der para o torto, Portugal é um alvo. Desde hoje, está em guerra com a Federação Russa. Decisão dos heróis do bar que substituíram os heróis do mar.
No início da minha carreira todos os dias procurava notícias no piquete da Polícia de Segurança Pública, da Polícia Judiciária, no Tribunal, nos bombeiros, no banco de urgência do Hospital Maria Pia e na morgue. Repórter informador. Quando comecei a escrever reportagens, uma das primeiras foi na barragem da Matala. Hoje Chefe de Estado inaugura a Barragem da Matala! O Jornal de Angola testou a minha tolerância e infinita paciência publicando um texto onde afirma que “o Presidente da República, João Lourenço, desloca-se esta sexta-feira, à província da Huíla, onde vai inaugurar o aproveitamento Hidroeléctrico da Matala”.
Já se sabia que Angola antes de João Lourenço nunca existiu. Eu nunca existi, não existo nem vou existir. Aquela reportagem na Matala é ficção. Só hoje foi inaugurada!
* Jornalista
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