A entrevista concedida pelos advogados de Carlos São Vicente ao “Africa Intelligence” foi indigesta para o porta-vos da Procuradoria-Geral da República. E é tão extensa que não coube nos Media públicos ou privados de Angola. A TPA deu horas de antena aos vigaristas do “Banquete” alimentados pelo chefe Miala. Mas nem um segundo dispensaram às declarações da “outra parte”. Aqui deixo o texto publicado no Africa Intelligence, na íntegra:
Selecionado por Artur Queiroz*
Pergunta: Luanda não consegue pôr as mãos nos activos suíços do magnata Carlos São Vicente?
Resposta: O "Sr.
Anticorrupção" angolano deslocou-se a Genebra para tentar convencer as
autoridades locais a descongelar os bens suíços do magnata luso-angolano. Mas a
justiça suíça continua a considerar injusto o julgamento do empresário. A 14 de
maio de
Carlos São Vicente é acusado pela justiça angolana de branqueamento de capitais e desvio de fundos públicos através da sua seguradora AAA Seguros. O ex-presidente José Eduardo dos Santos (1979-2017) concedeu-lhe o monopólio dos seguros no sector petrolífero em 2001. Desde Setembro de 2020, o empresário está detido na prisão de Viana, nos subúrbios norte de Luanda. Ele foi condenado a nove anos de prisão em Março de 2022.
Helder Pitta Groz, o "Sr. Anticorrupção" de Angola, luta há mais de três anos para pôr as mãos nos cerca de 900 milhões de dólares bloqueados em contas bancárias suíças do empresário, como revelou o meio de comunicação social suíço Gotham City. Mas o Tribunal Federal Suíço – o mais alto órgão judicial do país – rejeitou repetidamente os pedidos da justiça angolana. Com efeito, o Direito suíço não oferece a possibilidade de negociar a recuperação de activos. Este sistema está sujeito a regras muito rigorosas e está sujeito ao respeito dos direitos fundamentais pelas autoridades estrangeiras.
Arbitrariedade
O Tribunal Federal manifestou
dúvidas sobre a "independência do poder judicial [angolano] em
relação ao poder executivo" e o respeito deste pelos direitos da defesa, e
sujeitou a assistência mútua a rigorosas garantias diplomáticas. No entanto,
tendo a justiça angolana condenado o Sr. Carlos São Vicente sem prestar essas
garantias, o Tribunal Federal recusou a assistência mútua, num acórdão de 31 de
agosto de
Este caso é um revés para João
Lourenço, que prometeu no início do seu primeiro mandato, em 2017, melhorar o
combate à corrupção
Contactados pela Africa Intelligence, os advogados de Carlos São Vicente denunciaram o confisco e distribuição dos bens do empresário ainda antes do julgamento. Por exemplo, o Ministério da Justiça angolano tomou posse de alguns edifícios pertencentes a Carlos São Vicente antes de este ser condenado. Pouco depois da abertura do processo, o Decreto Presidencial número 69/2021 tinha também atribuído 10 por cento do valor dos bens confiscados à justiça angolana. A cadeia hoteleira IKA, anteriormente propriedade do empresário, está em processo de privatização. As suas propriedades em Luanda também foram apreendidas, incluindo o famoso IRCA, em homenagem à sua esposa, Irene Neto, filha do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto.
* Jornalista
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