sexta-feira, 15 de março de 2024

OTAN acessa um suicídio estratégico para a Suécia

Historicamente neutra, a Suécia participa agora num possível conflito global, apoiando a NATO contra a Federação Russa.

Lucas Leiroz* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Depois de quase dois anos, o processo de admissão da Suécia à OTAN foi finalmente concluído. Agora, o país faz parte formalmente da aliança militar ocidental, submetido às obrigações do bloco e, em teoria, protegido pelo seu guarda-chuva de defesa. Alguns analistas afirmam erroneamente que a admissão da Suécia foi uma espécie de “vitória” do Ocidente contra a Rússia, mas, investigando o caso a fundo, é possível concluir que tal análise é tendenciosa, uma vez que para Moscovo este movimento não tem relevância – em além de parecer um verdadeiro “suicídio estratégico” para os próprios suecos.

A admissão da Suécia era discutida desde 2022. Após o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, a Suécia e a Finlândia, alimentadas pelo medo e paranóia anti-russa fomentados pelos EUA, foram solicitadas a aderir à aliança militar. A Finlândia foi rapidamente aceite, mas a Suécia enfrentou vários obstáculos, como a oposição turca e mais tarde húngara. Após várias negociações, a Turquia permitiu o acesso sueco, tal como os húngaros foram forçados a retirar as suas objecções depois de sofrerem coerção económica directa dos parceiros europeus. Agora, sem oposição interna no bloco, a Suécia tornou-se finalmente membro da NATO – mas isso não parece ser qualquer motivo real para comemorar.

Em primeiro lugar, a Suécia adere à NATO no pior momento possível. Os países membros da aliança estão no seu momento mais provocativo contra a Rússia, com as relações Moscovo-Ocidente prestes a resultar num conflito aberto. Todos os especialistas concordam que uma guerra entre a NATO e a Rússia, se não resultasse num conflito nuclear global, resultaria pelo menos numa catástrofe humanitária sem precedentes, com muitas perdas humanas no campo de batalha. Neste sentido, a Suécia está simplesmente a colocar-se voluntariamente na posição de alvo legítimo se tal guerra realmente ocorrer – o que torna a decisão do país de aderir à NATO um verdadeiro suicídio estratégico.

Rússia continua sequência de vitórias contra os principais equipamentos da NATO

ELIMINAÇÃO DE  ATACANTES NO OBLAST DE BELGOROD

DragoBosnic* | South Front | # Traduzido em português do Brasil

Não importa como termine o conflito na Ucrânia, os primeiros meses deste ano serão lembrados pelo desempenho absolutamente desastroso das armas e equipamentos da OTAN. Centenas de peças da melhor armadura, artilharia, sistemas de defesa aérea ocidentais, etc. já foram destruídas durante a tão alardeada contra-ofensiva do ano passado. E, no entanto,  o início de 2024 não parece ser menos deprimente para a junta neonazi e os seus mestres demarionetas  em Washington DC e Bruxelas. No final de Janeiro, perderam vários tipos dos mais recentes sistemas de defesa aérea da OTAN, incluindo o SAMP-T e o “Skynex”. O preço relatado de ambas as armas é de 182 milhões de euros (quase 200 milhões de dólares). Depois houve a blindagem de fabrico ocidental, com o “Challenger 2” de fabrico britânico, dezenas de tanques “Leopard 2A4” de fabrico alemão e, por último mas não menos importante, o M1 “Abrams” de fabrico americano, todos destruídos em poucos dias.

Ainda assim, isso é apenas a nível táctico, uma vez que o regime de Kiev está a perder rapidamente equipamento estrategicamente importante, como o “Patriot” e as defesas aéreas NASAMS. Em 22 de fevereiro, o primeiro foi detectado em Chernobaevka, no oblast (região) de Kherson. Logo teve um “encontro imediato” muito desagradável com duas bombas aéreas russas FAB-500 M-62 equipadas com módulos planadores MPK. No entanto, isso não foi o fim dos problemas para as defesas aéreas do regime de Kiev. Em 26 de fevereiro, várias fontes militares relataram que o NASAMS (Sistema Avançado de Mísseis Superfície-Ar da Noruega) também foi destruído na área ao redor da vila de Malyshevka, no oblast de Zaporozhye, a aproximadamente 50 km de distância das linhas de frente. Foi inicialmente relatado que o sistema SAM EUA-Norueguês foi destruído pelo sistema de mísseis “Iskander”, mas o “culpado” mais provável  parece ter sido o mortal “Tornado-S” .

Este último é uma versão modernizada do BM-30 “Smerch” MLRS (sistema de lançamento múltiplo de foguetes) da era soviética que inclui vários novos tipos de foguetes, incluindo o 9M542 guiado por GLONASS com um alcance de até 130 km. Uma variante melhorada sob a designação 9M544 foi testada em 2020 e tem um alcance de 200 km. É igualmente provável que qualquer um dos dois tenha sido usado para destruir o sistema SAM fornecido pela OTAN. Entretanto, os militares russos não estão a perder o foco na artilharia da OTAN, com dezenas de tipos dos melhores obuses ocidentais destruídos por vários meios ( principalmenteos agora lendários drones kamikaze/munições ociosas ZALA “Lancet” ). Isto inclui os obuseiros autopropulsados ​​(SPH) CAESAR, de fabricação francesa, os obuseiros autopropelidos (SPH) M109A6 “Paladin”, de fabricação norte-americana, e os obuses autopropelidos “Archer”, de fabricação sueca, representando perdas que serão impossíveis de substituir,  já que o Ocidente político simplesmente não consegue acompanhar a produção.

França, Alemanha e Polónia prometem não escalar guerra mas doam armas a Kiev

Os três países dizer estar "unidos, determinados" e "resolvidos a nunca deixar a Rússia vencer". Esta tomada de posição foi transmitida após uma reunião entre os três governantes.

França, Alemanha e Polónia garantiram esta sexta-feira que não vão tomar a iniciativa de fazer escalar a guerra lançada pela Rússia na Ucrânia, poucos dias depois de Emmanuel Macron admitir enviar tropas europeias e da NATO para território ucraniano.

França, Alemanha e Polónia estão "unidas, determinadas" e "resolvidas a nunca deixar a Rússia vencer", afirmou esta sexta-feira o Presidente francês em Berlim, ao lado do chanceler alemão, Olaf Scholz, e do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.

"Continuaremos a fazer como fizemos desde o primeiro dia, sem nunca tomar a iniciativa de qualquer escalada", acrescentou o Macron, após semanas de tensões, nomeadamente com a Alemanha, sobre a estratégia de apoio à Ucrânia.

"Continuaremos a apoiar a Ucrânia e o seu povo enquanto for necessário", garantiu à imprensa após uma cimeira a três, em Berlim, para coordenar a ajuda à Ucrânia.

Antes do encontro a três, Macron e Scholz mantiveram uma reunião de cerca de duas horas, já que a questão da possível utilização da NATO na Ucrânia causou tensões sobretudo entre estes dois países.

Scholz disse acreditar que a reunião a três é especialmente apropriada neste momento, em que a Ucrânia está a sofrer de escassez de munições e na defensiva ao longo de toda a frente, mas continua à espera que um pacote de ajuda de 60 mil milhões de dólares (cerca de 55 mil milhões de euros) seja desbloqueado pela Câmara dos Representantes do Congresso norte-americano.

Macron afirmou em fevereiro que a possibilidade de envio de tropas ocidentais para a Ucrânia não podia ser excluída, um comentário que suscitou o protesto de outros líderes e levou Moscovo a avisar que isso levaria a um conflito direto entre a NATO e a Rússia e poderia desencadear uma guerra nuclear global.

A reunião tripartida serviu também para anunciar ter sido estabelecido um acordo entre os aliados da Ucrânia relativamente a artilharia de longo alcance, armas exigidas por Kiev para se defender do agressor russo.

Os três países decidiram "adquirir imediatamente" mais armas para a Ucrânia no mercado mundial, além de criar uma nova coligação para doar foguetes de longo alcance.

Diário de Notícias | Lusa | Imagem: EPA/HANNIBAL HANSCHKE

Mais de 100 Palestinos Mortos e Feridos no Novo ‘Massacre da Farinha’ em Gaza

Pela equipe do Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

O Hamas responsabilizou a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, e a comunidade internacional pelos contínuos massacres cometidos pela ocupação israelita.

‘Crimes Horríveis’

As forças de ocupação israelenses abriram fogo na sexta-feira contra multidões de palestinos que aguardavam ajuda humanitária na rotatória do Kuwait, na cidade de Gaza, matando pelo menos um e ferindo dezenas, informou a Al-Jazeera.

Isto ocorre depois de outro “massacre de farinha” cometido por Israel na noite de quinta-feira, quando pelo menos 20 palestinos foram mortos e 155 feridos.

O Ministério da Saúde palestino em Gaza emitiu um comunicado dizendo que o incidente ocorrido na Rotunda do Kuwait demonstrou “a intenção premeditada de Israel de levar a cabo um novo e horrível massacre”.

A agência de notícias oficial palestina WAFA confirmou que muitos palestinos foram mortos e feridos.

Hamas: Biden é responsável

O Movimento de Resistência Palestiniana Hamas responsabilizou a administração do Presidente dos EUA, Joe Biden, e a comunidade internacional pelos contínuos massacres cometidos pela ocupação israelita.

“Responsabilizamos a administração Biden pelos contínuos massacres cometidos pelo exército de ocupação nazista com armas abertas e apoio americano”, disse o Hamas em um comunicado na quinta-feira.

“O fracasso da comunidade internacional e das Nações Unidas em tomar medidas contra o exército de ocupação foi efectivamente uma luz verde para cometer crimes mais horríveis, que fazem parte do genocídio e da limpeza étnica contra o nosso povo palestiniano, totalmente apoiado pela administração do Presidente Biden, que protege a entidade criminosa de qualquer processo internacional”, acrescentou.

O Hamas apelou às Nações Unidas e à Liga Árabe para intervirem urgentemente para parar o genocídio e tomarem medidas para trazer ajuda.

Navio Open Arms com 200 toneladas de ajuda humanitária aproxima-se de Gaza

A embarcação espanhola está a menos de cinco quilómetros da costa palestiniana, confirma a agência France-Presse.

VER VÍDEO AFP EM X

O barco da organização não-governamental espanhola Open Arms, que transporta cerca de 200 toneladas de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, já está na costa da Cidade de Gaza, disse hoje um jornalista da agência de notícias AFP.

As imagens captadas pelo jornalista da AFP mostram a forma característica do navio da ONG espanhola e da embarcação com ajuda humanitária que reboca desde o Chipre.

Segundo o portal especializado Vessel Finder, o navio está a menos de cinco quilómetros da costa.

Alguns habitantes de Gaza reuniram-se na costa para esperar pelo barco, segundo imagens da AFP.

A hora de chegada do navio e de desembarque da ajuda não foi comunicada pelas duas ONG responsáveis pela operação e nem pelas autoridades israelitas.

Depois de Nuland, as chances de paz na Ucrânia

Medea Benjamin e Nicolas JS Davies esperam que a saída do alto funcionário do Departamento de Estado abra a porta para um Plano B extremamente necessário para a Ucrânia.

Medea Benjamin  e  Nicolas JS Davies | Common Dreams | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

O Presidente Joe Biden começou o seu discurso sobre o Estado da União com um aviso apaixonado de que não conseguir aprovar o seu pacote de armas de 61 mil milhões de dólares para a Ucrânia “colocará a Ucrânia em risco, a Europa em risco, o mundo livre em risco”.

Mas mesmo que o pedido do presidente fosse subitamente aprovado, apenas prolongaria, e aumentaria perigosamente, a guerra brutal que está a destruir a Ucrânia. 

A suposição da elite política dos EUA de que Biden tinha um plano viável para derrotar a Rússia e restaurar as fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 provou ser mais um sonho triunfalista americano que se transformou num pesadelo. A Ucrânia juntou-se à Coreia do Norte, ao Vietname, à Somália, ao Kosovo, ao Afeganistão, ao Iraque, ao Haiti, à Líbia, à Síria, ao Iémen e agora a Gaza , como mais um monumento destruído à loucura militar da América .

Esta poderia ter sido uma das guerras mais curtas da história, se Biden tivesse acabado de apoiar um acordo de paz e neutralidade negociado na Turquia em março e abril de 2022, que já tinha rolhas de champanhe a estourar em Kiev, segundo o negociador ucraniano Oleksiy Arestovych. Em vez disso, os EUA e a NATO optaram por prolongar e escalar a guerra como forma de tentar derrotar e enfraquecer a Rússia.

Dois dias antes do discurso sobre o Estado da União de Biden, o secretário de Estado Antony Blinken anunciou a reforma antecipada da vice-secretária de Estado interina Victoria Nuland , uma das autoridades mais responsáveis ​​por uma década de desastrosa política dos EUA em relação à Ucrânia.

[Veja:  Vídeo Nuland-Pyatt restaurado para o YouTube ]

Duas semanas antes do anúncio da reforma de Nuland, aos 62 anos, ela reconheceu numa palestra no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) que a guerra na Ucrânia tinha degenerado numa guerra de desgaste que ela comparou à Primeira Guerra Mundial. Guerra, e ela admitiu que a administração Biden não tinha plano B para a Ucrânia se o Congresso não desembolsar 61 mil milhões de dólares para mais armas.

Não sabemos se Nuland foi forçada a sair, ou talvez renunciou em protesto contra uma política pela qual lutou e perdeu. De qualquer forma, a sua viagem ao pôr do sol abre a porta para que outros elaborem um Plano B extremamente necessário para a Ucrânia. [Nuland atuava como vice-secretário de Estado interino, a posição número 2 no Departamento de Estado e uma plataforma de lançamento para se tornar secretário de Estado, mas perdeu a chance de ocupar o cargo permanente quando Kurt Campbell foi nomeado número 2 em fevereiro. .12.]

O imperativo deve ser traçar um caminho de regresso desta guerra de desgaste sem esperança, mas sempre crescente, para a mesa de negociações que os EUA e a Grã-Bretanha viraram em Abril de 2022 - ou pelo menos para novas negociações com base que o Presidente Volodymyr Zelenskyy definiu em 27 de Março, 2022, quando disse ao seu povo: “Nosso objetivo é óbvio: a paz e a restauração da vida normal em nosso estado natal o mais rápido possível”.

A GREVE | Jornalistas em Portugal são injustamente atacados nos seus direitos

Ontem, 13 de Março, foi dia de greve dos jornalistas. Mais de 40 órgãos de comunicação social viram os seus jornalistas aderir à greve decretada pelo sindicato da profissão. Rádios, televisões e jornais pautaram pela inexistência de noticiários e de trabalhos relacionado com a sua profissão. Greve é greve.

O Curto que aqui trazemos foi escrito pouco antes da meia-noite de 13 de Março, Ricardo Marques, jornalista do Expresso, é o autor. Na manhã de 14 de Março, dia da greve, houve Expresso mitigado e Curto escrito na véspera em vez de na manhã de 14. Greve é greve, E na comunicação social é algo de muito grave. Sem informação de rigor a democracia definha e as portas antidemocráticas escancaram-se oportunistas. Isso mesmo é o que pretendem os que se dão mal com a democracia e ainda mais mal com o ato de formar e informar que compete aos jornalistas na sua plenitude e uso da liberdade de informação e de expressão, entre outras como a liberdade de imprensa.

Os jornalistas em Portugal são injustamente atacados nos seus direitos. Imensos são trabalhadores precários, recebem ordenados precários e miseráveis. Trabalham mais de cinquenta horas por semana mas não recebem as horas extraordinárias que anualmente ascendem a algumas centenas. É o esclavagismo, também no jornalismo. A exploração de novos ricos (sabe-se lá onde foram desencantar milhões de euros) que adquirem órgãos de comunicação social sem perceberem do negócio. O que querem é lucros rápidos e bastos… Como dizia Baptista Bastos, grande e conceituadíssimo jornalista, sobre esses abutres enricados com o fito de mais enricar. “Caga-lhes o cão no caminho, não percebem nada disto e secam a vaca, até as tetas que se soubessem lhes poderiam dar mama. Vai daí quem se lixa são os profissionais e o direito de informar e ser informado”. 

Nos dias de hoje é o que mais acontece. Há milhares de jornalistas depenados, desconsiderados, prejudicados e mal pagos. Urge dignificar a profissão, as condições de trabalho e a base remuneratória, considerando o trabalho que produzem e as horas que lhe dedicam em seu prejuízo e das suas famílias.

Aconteceu uma greve 'soft', ontem. Mas aconteceu. Ao fim 42 anos de esperar pacientemente. Poderá acontecer pior porque o desespero dos profissionais a isso pode conduzir. Nas circunstâncias justifica-se.

Olhai para os jornalistas com o respeito devido. Eles são os arautos da democracia e dos ataques que lhe movem. Recorrer aquela greve, ontem, foi o alerta de que estão a atacar a democracia em várias frentes e no jornalismo também. Por tudo isso importa não adormecermos. Discernimento e sapiência na luta. Alerta. Alerta estejam, alerta estejamos.

Uma sugestão: Acedam ao órgão oficial do Sindicato dos Jornalistas para saberem mais e melhor.

Fomos longos na prosa. Já a seguir vem aí o Curto do Expresso - é de ontem, 14, dia de greve do jornalismo. Mas foi escrito nos últimos minutos da noite de dia 13, para respeitar a greve que ocorreu em 14, ontem.

Bom dia. Não sabemos lá muito bem como poderemos ter um bom dia nestas circunstâncias… Mas é o que desejamos e por isso havemos de lutar sempre.

O Curto, a seguir. Vá ler.

MM | Redação PG

Portugal | FILA PARLAMENTAR - (para lamentar)*

Henrique Monteiro | HenriCartoon

* Redação PG

Portugal: PORQUE A DIREITA VENCEU

Cai mais um governo democrático. Face a um Ocidente cada vez mais desigual, governo do PS acomodou-se e assistiu ao avanço da desigualdade e das desilusões e abriu espaço para o neofascismo. Resultado é novo alerta ao Brasil de Lula

Antonio Martins* | Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Certas derrotas são especialmente penosas. Em abril próximo, Portugal viverá os 50 anos da Revolução dos Cravos sob um governo de direita e forte pressão de um partido neosalazarista. Por nove anos, o país foi, junto com a Espanha, um tímido oásis, numa Europa onde avançam forças políticas ultracapitalistas e xenófobas. Ontem, o experimento foi interrompido.

Em eleições parlamentares antecipadas, o Partido Socialista (PS, de centro-esquerda) e a coalizão autodenominada Aliança Democrática (AD, de direita) chegaram a um virtual empate. Cada um obteve em torno de 30% dos votos e 80 representantes na Assembleia da República1. Mas em terceiro lugar apareceu o Chega, de ultradireita, que alcançou mais de 1 milhão de votos (18%) e quadruplicou sua bancada, agora com 48 parlamentares. Já o Bloco de Esquerda (BE) e a CDU (que inclui o Partido Comunista-PCP), encolheram, receberam menos de 5% dos sufrágios e ficaram reduzidos respectivamente a 5 e 4 cadeiras. A partir desta terça-feira (12/3), o presidente Marcelo Rebelo de Sousa ouvirá os líderes dos partidos e “indigitará” [pré-indicará] o futuro primeiro-ministro, encarregando-o de formar um novo governo. Tudo indica que será o líder da AD. Ou num governo sem maioria absoluta, ou – muito pior – em aliança com o Chega.

A ascensão e o declínio do progressismo português, a partir de 2015, são consequência de uma tentativa incompleta de enfrentar as políticas neoliberais. Enquanto este enfrentamento perdurou, ele produziu vitórias eleitorais e entusiasmo. A partir do momento em que fraquejou, ficou aberto o caminho para as forças de ultradireita, que exploram em todo o mundo a crise da democracia, avançassem sobre Portugal. Por isso, há um paralelo nítido com o Brasil – onde ainda não está claro se o governo Lula poderá melhorar de modo substantivo as condições de vida da maioria, ou se atolará na busca do “ajuste fiscal” desejado pelos mercados financeiros e executado pelo Ministério da Fazenda.

Portugal | VOTAR TUDO A PERDER

Paula Cardoso* | Diário de Notícias | opinião

Estava de tal forma frustrado, zangado e desesperançado que, entre a necessidade e o engenho, se juntou ao coro crescente dos que sentem que nada têm a perder.

Observador privilegiado do contexto étnico-racial envolvente, dotado de formação académica e com acesso a informação, avançou sem nunca acreditar verdadeiramente que tudo aquilo pudesse acontecer. Escrito de outro modo, tentou a sua sorte na roleta das distorções e afeições colectivas.

No final, saiu-lhe um sucesso de vendas: alguém com poder financeiro começou por comprar a ideia, reconhecidamente abjecta, e, em menos de nada, a contaminação estava produzida.

As pessoas aderiram massivamente à narrativa, disseminada como uma realidade nua e crua, quando toda a verdade e autenticidade ali contidas nunca passaram de uma vendável ficção. Ou melhor: de American Fiction (Ficção Americana), título do filme de Cord Jefferson distinguido como Melhor Argumento Adaptado na última gala dos Óscares, que aconteceu no domingo, 10, dia de Legislativas.

Da trama hollywoodesca para a trama política, as semelhanças não são pura coincidência: nas duas situações, há uma evidente estratégia de capitalização de preconceitos e estereótipos.

Portugal | Nazis nas forças de segurança? Desnazificação, precisa-se! *

PSP apaga 'post' com foto de protesto nacionalista

Publicação na rede social tinha sido celebrada por Mário Machado, líder dos 1143, que destacou o “orgulho” em ser do grupo.

Amanda Lima | Diário de Notícias 

A Polícia de Segurança Pública (PSP) apagou uma publicação nas redes sociais em que na legenda se lia: “A nossa missão é garantir a sua segurança”. Na imagem, elementos da PSP estão junto a uma manifestação do grupo nacionalista 1143.

O post  recebeu uma série de críticas de cidadãos que questionaram o motivo da publicação. “Bandeira de marketing  impecável”, lia-se num dos comentários. Noutro, era questionado que tipo de mensagem a PSP estava a passar ao público, especialmente por ter sido feita um dia após as eleições. Ao DN, a direção nacional do órgão explicou que a decisão de apagar a foto “teve por objetivo não continuar a alimentar qualquer polémica”.

A PSP ainda afirma que “tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos de todos os cidadãos” e que “os policiamentos a manifestações são altamente dinâmicos e implicam, a cada momento, um dispositivo policial ajustado, de forma a garantir a proteção do direito de reunião, liberdades e garantias de quem se manifesta e para que cause o mínimo impacto na vida de todas as pessoas”.

Criada para Todo o Serviço – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O jornalismo está cheio de criadagem. Conheci uma criada feita de papelão na casa de obras da tipografia, coisa que já não existe e é pena porque ali se utilizavam as sobras de papel no acerto do “bacalhau” das rotativas. Conheci um criado que sabia pouco da profissão mas muito sabedor a lamber botas ao patrão. Chegou a director e ministro. Conheço uma criada para todo o serviço que faz muito jeito quando é preciso atropelar o Direito à Inviolabilidade Pessoal com “notícias” encomendadas pelo dono. Chama-se “Interesse Público”.

A criada para todo o serviço é um velho truque usado pelos salteadores dos Media quando se trata de cometer crimes contra os Jornalistas e a profissão mais velha do mundo, o Jornalismo. Ataques à honra, ao bom nome, à consideração social, à esfera privada, pessoal, segredo de pessoas e instituições são justificados com o “Interesse Público”. Carregadoras e carregadores de câmaras, microfones e gravadores violam alegremente Direitos, protegidos pela Constituição da República à boleia da criada para todo o serviço. Fazem um papelão!

Hoje no Jornal de Angola José Otchinhelo fala sobre o assunto. Quem ler aquilo fica com uma ideia perigosamente distorcida sobre a matéria. Como continuo ligado às e aos profissionais que trabalham na Empresa Edições Novembro vou escrever, mais uma vez (a milésima?) sobre o interesse público no Jornalismo.

Esta criada para todo o serviço só faz sentido no conjunto das Causas de Exclusão do Ilícito. Os Jornalistas quando produzem as mensagens informativas têm de obedecer escrupulosamente aos critérios éticos e deontológicos que suportam os conteúdos, entre os quais destaco a verdade dos factos, o contraditório e o rigor, que é a marca distintiva do Jornalismo. Volto a repetir: Jornalismo é um exercício permanente de grande rigor e só se realiza numa lógica de contrapoder.

ERRO OU TRAIÇÃO?

– Investigação sobre o fim da URSS

– Livro de Alexandre Ostrovski (Paris, Edições Delga, 2023, 797 p., €33)

Roger Keeran [*]

O poeta palestino Mahmoud Darwish disse que "há mais inspiração e riqueza humana na derrota do que na vitória". Darwish queria dizer que há uma grande poesia na derrota, mas talvez quisesse dizer que as derrotas, mais do que as vitórias, nos obrigam a refletir e a tirar lições. Este livro de Alexandre Ostrovski é uma fonte rica de lições a retirar da derrota do socialismo soviético. Escrito pelo historiador russo da Academia de Ciências de Leninegrado em 2011 e publicado em francês pelas Edições Delga em 2023, Erreur ou Trahison (Erro ou Traição) é o livro mais exaustivo sobre o colapso soviético até hoje publicado.

Ostrovski tem três objectivos:   primeiro, reconstruir os acontecimentos que levaram ao colapso; segundo, determinar se o colapso foi "espontâneo" ou "propositado"; e terceiro, descobrir o papel que os líderes soviéticos desempenharam nos acontecimentos que conduziram ao colapso.

Quanto ao primeiro objetivo, Ostrovski faz um relato minucioso dos acontecimentos desde 1985 até ao colapso soviético em 1991. Quanto ao segundo e terceiro objectivos, Ostrovski defende que o colapso não foi espontâneo nem inevitável, nem resultou de "erros" dos dirigentes. Pelo contrário, o colapso deveu-se às políticas e acções deliberadas de Mikhail Gorbachev e dos seus colaboradores mais próximos, em particular Alexander Yakovlev. Desde o início, estes homens tinham um plano geral para enfraquecer o Partido Comunista Soviético, abandonar a economia socialista planificada e introduzir uma economia de mercado com propriedade privada e um governo parlamentar liberal.

Tendo escrito um livro com Joe Jamison (que usava o pseudónimo de Thomas Kenny) sobre o colapso soviético, publicado em 2010 (um ano antes do livro de Ostrovski), estava ansioso por saber em que pontos os nossos dois livros concordavam e divergiam, e que novas informações Ostrovski, com a vantagem de ter fontes em língua russa, poderá ter descoberto. No que respeita às linhas gerais dos acontecimentos que conduziram ao colapso e à responsabilidade global de Gorbachev e dos seus aliados próximos pelo colapso, os dois livros concordam. Do mesmo modo, concordamos com Ostrovski em que a União Soviética não enfrentou qualquer crise em 1985 e que o colapso não foi inevitável nem espontâneo.

Por que os EUA não são uma democracia e não podem ser reformados


Nuvens cinzentas agourentas permanecem no horizonte da democracia dos EUA, escreve Richard Barton.

Richard Hubert Barton | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Pode ser razoável começar pela administração Trump (2016-2020), especialmente tendo em conta que é provável que ele encene um regresso nas próximas eleições presidenciais em Novembro. Quão próximo ele estava das corporações e dos muito ricos e até que ponto representava a vontade deles?

Como observou Eric Lipton no New York Times, durante a presidência de Trump (2016-2020) houve “a fusão dos interesses empresariais privados com os assuntos governamentais”.

Assim, por exemplo, o investidor bilionário Carl Icahn foi nomeado conselheiro especial do presidente. Curiosamente, como não era funcionário público oficial, não estava sujeito a requisitos de desinvestimento por conflito de interesses. Consequentemente, Icahn manteve a sua participação maioritária numa refinaria de petróleo, ao mesmo tempo que defendia uma mudança de regras que teria poupado à sua refinaria mais de 200 milhões de dólares no ano anterior.

Vamos pegar um atalho e indicar o quão plutocrático foi o governo de Trump. O gabinete de Trump tinha mais riqueza pessoal combinada do que um terço das famílias americanas, e Icahn era mais rico do que todos eles juntos.

Como salienta Liz Kennedy, do Center for American Progress, os interesses empresariais estão em posição de gastar mais do que os grupos trabalhistas ou de interesse público nas eleições. Por exemplo, em 2014, os interesses empresariais gastaram 1,1 mil milhões de dólares em candidatos e comités estaduais, em comparação com os 215 milhões de dólares que os grupos trabalhistas gastaram.

Jornalistas em greve geral de 24 horas, a primeira em mais de 40 anos

É um protesto contra os baixos salários e a degradação das condições de trabalho numa altura em que o escrutínio é ainda mais crucial. Ao longo do dia desta quinta-feira há várias manifestações em todo o país e redações paradas.

A greve dos jornalistas abriu os noticiários em algumas frequências e deixou um vazio carregado de significado noutras. Nas bancas de jornais só amanhã se vão sentir os efeitos da paralisação, mas nas edições online por muito que se actualizem as páginas, os títulos permanecem praticamente os mesmos.

Os jornalistas portugueses aderiram em bloco à primeira greve geral em mais de 40 anos. A última paralisação aconteceu em 1982.

Mais de duas dezenas de órgãos de comunicação social estão parados, estima o Sindicato dos Jornalistas.

Em Coimbra, dezenas de jornalistas estiveram reunidos em protesto no centro da cidade. No Porto, a concentração ficou marcada para os Aliados palco habitual de muitas outras lutas.

A crise recente no grupo Global Media do JN, DN, TSF e Dinheiro Vivo, pôs a nu problemas que se arrastam há muito e reavivou reivindicações antigas.

Na rede da Agência Lusa não há notícias desde a meia noite, os jornalistas da agência noticiosa tinham feito greve há menos de um ano.

Há cerca de 5.300 jornalistas em Portugal, 80% com formação superior mas que levam para casa, em média, 1.225 euros ao fim do mês.

Ao final do dia, no Largo Camões, em Lisboa, muitos jornalistas deixaram as redações paradas ou a meio gás. Mas, ao longo do dia manifestaram-se em vários pontos do país, o último foi Lisboa.

Políticos e Presidente da República solidários com protesto

No dia em que o Presidente da República recebeu a CDU no Palácio de Belém, os jornalistas estão em greve. Precisamente por esse motivo e “em solidariedade” com o protesto, Paulo Raimundo saiu em silêncio do encontro com Marcelo Rebelo de Sousa.

A coligação PCP/Verdes foi a terceira força política a reunir com Marcelo depois das eleições de domingo. No final da audiência, Paulo Raimundo preferiu não falar aos jornalistas, dizendo que não falava por respeito à greve dos jornalistas.

Mas o comunista não foi o único político a manifestar-se. Antes quer Luís Montenegro (PSD), quer Pedro Nuno Santos (PS) demonstraram solidariedade para com os jornalistas que, pela primeira em mais de 40 anos, estão esta quinyta-feira em greve geral.

O líder social-democrata dedicou uma publicação na rede social X, antigo twitter, à greve geral dos jornalistas dizendo que o “Jornalismo é essencial para a democracia”.

Na mesma rede social, o secretário-geral do PS disse que o “Jornalismo é uma das condições para termos cidadãos informados”.

O próprio Presidente da República publicou uma nota no site da Presidência na qual sublinha “o papel dos jornalistas na Democracia”. “(…) o Presidente não quer deixar de sublinhar de novo, neste dia, o papel fundamental do jornalismo e de jornalistas livres e independentes na nossa Democracia”.

“Órgãos de comunicação social fortes, com titulares plenamente conhecidos com toda a transparência, profissionais respeitados e dignificados, pois “onde não há comunicação social forte, não há democracia forte””, refere o chefe de Estado.

SIC Notícias

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