Artur Queiroz*, Luanda
Um amigo tem como divisa de vida “o bem faz-se em silêncio, o resto é teatro” que pode ser péssimo, mau, medíocre ou bom. Há actores para todos os desgostos. O corredor do Lobito, recordista de todas as corridas, desde a velocidade à maratona, é péssimo actor e a sua quadrilha de bajuladores ainda pior. João Lourenço é uma macha. Um borrão que alastra imparável. Uma nódoa que põe em risco a existência de Angola livre e independente.
Hoje libertaram alguns reclusos indultados e puseram Ana da Silva Miguel (Neth Nahara) a dizer ante as câmaras da TPA, que João Lourenço, o corredor vertiginoso do Lobito, “é um homem de Deus, ouviu o Espírito Santo, quem tem ouvidos para Deus é um homem de Deus”. Vai outra vez presa.
Menina Neth Nahara! O vertiginoso
corredor do Lobito, campeão de todas as corridas pedestres e motorizadas, é
mesmo Deus. O Altíssimo é que ouve João Lourenço. Pede-lhe conselhos para
governar o Paraíso como ele governa Angola. O Espírito Santo é que se abastece
de santidade
Continuando no espírito
natalício, venho informar que os processos e toda a documentação respeitantes
ao golpe militar em 27 de Maio, 1977, desapareceram. Ficou um comunicado do
Bureau Político do MPLA emitido na época e outro, tornado público após a
assinatura do Acordo de Bicesse, quando começou a operação de transformar os
golpistas em vítimas e as vítimas
Após a entrega do seu depoimento aos juízes do Tribunal Marcial, Nito Alves ainda se lembrou que não respondeu à pergunta “quem mandou matar os Comandantes das FAPLA e o ministro Saidy Mingas?” Pediu mais uma folha e respondeu. Atirou com a responsabilidade para José Van-Dúnem e Sita Vales. Um herói da delacção! Em cima do acontecimento publiquei no jornal português “Página Um” todos os depoimentos dos golpistas, excepto os depoimentos de José Van-Dúnem e Sita Alves, porque ainda não tinham sido presos. Fontes oficiais. Cópias autênticas dos depoimentos.
No dia 5 de Junho de 1991, os serviços secretos militares da África do Sul e a Casa dos Brancos decidiram esconder em bases secretas no Cuando Cubango, milhares de militares da UNITA e as suas melhores armas, inclusive artilharia e os mísseis Stinger. Uma traição sem nome ao Acordo de Nova Iorque. E a prova de que os EUA não são fiáveis. Pediram ao Presidente José Eduardo dos Santos para assinar um acordo com Jonas Savimbi e não apenas um perdão. Porque ao perder o apoio dos EUA e de Pretória, a sua organização podia causar muitos danos na região, como faziam os “senhores da guerra” na Somália.
O Arquitecto da Paz, na sua infinita generosidade, aceitou. Apenas cinco dias depois da assinatura do Acordo de Bicesse, a direcção da UNITA estava a esconder militares para tomar o poder pela força, caso perdesse as eleições como perdeu. O General Zé Maria conseguiu obter os documentos secretos que confirmam essa operação. Foi julgado, condenado e preso por não entregar esses documentos à turma do corredor vertiginoso do Lobito, sempre atrás do dinheiro. Queriam fazer desaparecer tudo para se arrastarem aos pés da Casa dos Brancos.
O General Zé Maria não lhes entregou os documentos! Mas eu tive acesso a essas provas e publiquei no Jornal de Angola o texto que se segue:
“Operação Secreta lançou Guerra Suja
Isaías Samakuva, na época tratado por “coronel” pelos dirigentes sul-africanos, foi um dos executores da operação que consistiu em esconder 20.000 soldados da UNITA, para o seu partido tomar o poder pela força, caso Savimbi perdesse as eleições de 1992, como perdeu.
Uma das bases está aí, com as coordenadas e tudo:
As instruções foram dadas pelo
Chefe do Estado-Maior da Inteligência Militar da África do Sul, comandante De
O comandante De
A ordem de operações enviada à
direcção da UNITA é detalhada. O comandante sul-africano de
A ordem a Savimbi e seus
ajudantes tinha um detalhe: “escolher os melhores comandantes”. A direcção da
UNITA cumpriu a ordem do chefe, sem qualquer hesitação. O comandante De
A parte final da mensagem secreta do Chefe do Estado-Maior da Inteligência Militar sul-africana ordenava a transferência para as bases Girafa, Palanca, Tigre e Licua, de “todas as armas pesadas”. O que foi também integralmente cumprido.
A Inteligência Militar de Pretória continuava a apoiar a guerra suja da UNITA, mesmo depois dos Acordos de Nova Iorque. Adalberto da Costa Júnior, dirigente e deputado do Galo Negro, revela um dado que torna este comportamento normal: “Em 1995, Jonas Savimbi recebeu um importante convite para visitar a África do Sul, dirigido por Nelson Mandela, então Presidente da República. Nelson Mandela recebeu o Dr. Savimbi e a sua delegação na sua aldeia natal, em Qunu, dia 17 de Maio de 1995. Os africanos sabem o que significa receber alguém na sua própria aldeia”.
O autor desta afirmação tem pouca
credibilidade, mas se é verdadeira, está explicado o envolvimento da
Inteligência Militar da África do Sul, na preparação da guerra depois das
eleições de 1992, nas quais a UNITA foi estrondosamente derrotada. O acto
eleitoral foi blindado e as eleições fiscalizadas pela ONU e pela Troika de
Observadores, o que tornava impossível qualquer fraude. Informações credíveis
dão conta que Nelson Mandela mandou Savimbi parar com a guerra e aconselhou-o a
respeitar os resultados eleitorais.
Primeira Tentativa de Golpe
Jonas Savimbi e os seus homens nunca tiveram a intenção de respeitar o Acordo
de Bicesse. Por isso, logo no dia 5 de Junho de 1991 foi montada a operação de
esconder 20.000 homens em bases secretas do Sudeste de Angola. Quando o
comandante De
A primeira tentativa de golpe
militar foi proposta por Savimbi ao subsecretário de Estado Herman Cohen, na
sua casa do Miramar,
Savimbi argumentou: “as FAA não existem e o Governo está desarmado. Eu tenho tropa para tomar o poder, as eleições não interessam para nada”. Herman Cohen recusou. Exigiu que a UNITA respeitasse o que estava acordado. O próprio, anos depois, revelou este encontro com todos os detalhes.
A direcção da UNITA fez outras
tentativas de impedir as eleições para tomar o poder pela força. Estão
registadas documentalmente e foram recusadas pela representante do
Secretário-Geral da ONU em Angola, Margareth Anstee, pelos membros do Conselho
Nacional Eleitoral (CNE) e por quase todos os partidos concorrentes.
Denúncia de Puna e Tony
Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes abandonaram a UNITA em conflito directo com
Savimbi. E eram fundadores do partido. O assassinato de figuras importantes do
movimento ditou o divórcio. Jorge Sangumba, padre Camilo Cangombe, a família
Chingunji, quase toda dizimada, António Vakulukuta, Wilson dos Santos e tantos
outros provocaram a cisão.
Tony e Puna já não estavam nos segredos da organização. Mas souberam que a UNITA tinha escondido um grande exército e armamento, para tomar o poder pela força caso perdesse as eleições. Margareth Anstee foi apanhada de surpresa. E garantiu que a ONU ia investigar se a denúncia dos dois generais de Savimbi eram verdadeiras. Poucos dias depois saiu o veredicto: Não há indícios de existência de tropas escondidas em Angola!
Mas existiam 20.000 homens, entre eles os melhores comandantes, que dispunham de anti-aéreas incluindo Stingers e armas pesadas. E não tardou a chegar a segunda tentativa de golpe militar.
O coronel Samakuva concluiu a operação secreta e partiu para outras missões, no estrangeiro. Abílio Numa ficou e acabou por ser uma peça importante nos acontecimentos que se seguiram. Houve um momento em que a tensão era tal que foi colocada ao Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Onofre Martins dos Santos, a hipótese de um adiamento das eleições.
Os membros daquele órgão
assumiram as suas responsabilidades e decidiram prosseguir com o processo
eleitoral. Onde a UNITA não permitiu a presença de delegados dos outros
partidos, as eleições faziam-se na mesma. Um avião ao serviço do CNE foi
atacado na província do Uíje. Noutros locais os funcionários da instituição
eram impedidos de trabalhar. Mas houve mesmo eleições em 29 e 30 de Setembro de
1992. O segundo golpe foi então posto em marcha.
Acordo de Bicesse Rasgado
No dia 31 de Maio de
Apesar das demonstrações de força em Luanda e noutras cidades do país, a UNITA não conseguiu travar o processo eleitoral. O Bairro do Miramar estava sitiado por “comandos” da UNITA que nem sequer respeitavam diplomatas e membros do Governo que habitavam a zona. Existia uma efectiva ocupação militar dos centros urbanos, patrulhados pelas famosas “GMC”. Mas nos dias 29 e 30 de Setembro houve mesmo eleições e os eleitores falaram alto.
O MPLA venceu com maioria absoluta. A UNITA disse que houve fraude, usurpando o papel dos árbitros que eram a ONU e a Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA). Savimbi decidiu ser ao mesmo tempo jogador e árbitro. Quando em nome da comunidade internacional Margareth Anstee proclamou os resultados eleitorais e considerou as eleições “transparentes, livres e justas”, Savimbi partiu para a rebelião armada.
Salupeto Pena, Ben-Ben, Jeremias
Chitunda, Alicerces Mango, Abel Chivukuvuku e outros altos dirigentes da UNITA
lançaram a segunda tentativa de golpe militar
A base de Licua
Uma das bases onde foram escondidos os militares da UNITA era a de Licua. No
Cuando Cubango há uma aldeia Licua, entre Luenge e Dirico. Há outra aldeia
Licua entre Mavenge e Lumeia, na estrada para Xamavera.
A Licua da operação secreta foi inventada pela Inteligência Militar da África do Sul. Fica na confluência dos rios Luenge e Lumuna, na reserva do Mucusso. Tem as seguintes coordenadas: Latitude, 17 graus e um segundo Sul. Longitude, 21 graus e 17 segundos Este. Quem quiser verificar a traição pode ir lá ver os restos.
As outras bases que
serviram para pulverizar o Acordo de Bicesse, estavam localizadas entre a
fronteira da Zâmbia e da Namíbia, no Sudeste de Angola, mas longe da Jamba para
não levantar suspeitas. Savimbi e toda a direcção da UNITA foram responsáveis
directos pela rebelião armada contra a democracia, depois das eleições de
Setembro de
Chegou a hora de pôr o corredor
do Lobito a correr para bem longe do poder
* Jornalista
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