J. Bazeza, Luanda
A vida é mesmo muito bela. Os velhotes da Sanzala estão protegidos pela Constituição da República. Os do Muceque vivem cabalmente as delícias do Éden. Assim falou Mafioso, quando batia um papo, num dos turengues do Bairro Paraíso.
O Mafioso soltou estas falas quando um velhote, rodeado pelos seus netos, bisnetos e amiguinhos, num total de dez, chupavam baleizão e comiam pipocas. Gulosavam doces de ginguba e coco. Os príncipes da parakuka!
Os inocentes netos, netinhos e seus amiguinhos, enquanto papavam, ouviam o velhote contar como garantiu a felicidade deles. Trabalhou na frente da produção. Pegou na AKM para tundar invasores e exploradores. A independência foi conquistada pelos velhotes vivos ou mortos.
Seja qual for a riqueza que sai da terra e das nossas mãos, todos têm de viver com dignidade. Ninguém pode viver abaixo da linha da pobreza. Os netos, bisnetos e seus amiguinhos ouviam, brincavam e comiam os doces.
O Boca Azul só acreditou parcialmente porque se declarou vítima do imperialismo e sofredor de guerra. Em voz muito baixa, ao ouvido do Mafioso informou: A fome chegou aqui mesmo. O bairro está faminto de comida e água tratada!
Mafioso ficou pensativo como se fosse deputado e ministro pensante. Mas num gesto de justiça comparada reconheceu que na Sanzala os velhotes não são mimados. Só eles é que mimam os netuchos. Boca Azul, sempre bem informado, avisou que vem aí muita protecção social e Dona Vera Daves vai ser levada de castigo para o Bairro Paraíso.
Mafioso foi ainda mais justo e atribuiu a protecção social aos que escreveram e aprovaram as leis. Todos bons filhos da pátria. Todos escolhidos pelo povo para lhe representar na Assembleia Nacional
Boca Azul respondeu que não sabe bem se na Constituição da Sanzala há algum artigo que dá protecção aos ngavives mesmo muito gastos ou se há um ministério que deve tomar conta destes mortos que se aguentam em pé.
Mafioso ficou admirado e assustado porque se tudo correr bem, todos chegamos a ngavives. Quem morre antes da velhice é mesmo azarento. Perdeu tudo até a protecção constitucional. Boca Azul encheu o peito e desabafou: Os velhotes são abandonados, muitas vezes pelos próprios filhos que os consideram de ngapa. Feiticeiros sem feitiço porque não têm nada para dar. Ficam só a mobilizar os netos e bisnetos, nos últimos anos que nganazambi ainda lhes quer aqui. Uma maka que mete religião e longevidade no Bairro Paraíso, onde estão vizinhando as diarrumbas aguadas.
Os velhotes sobrevivem de arroz bichado e pão rijo. Bebem água da lagoa. Não têm um zacula para combater o cauele. Com a idade, o frio fica mesmo frio até quando cheiramos a calor. A comida, como diz Boca Azul, é privilégio dos desenrascados. No Muceque, esses heróis pensam nos ngavives abandonados, muitos pelos próprios filhos que têm altos cargos na Administração do Estado.
Mafioso não acredita no que diz Boca e adverte que brincadeira tem hora. Boca Azul justifica dizendo que se a brincadeira tem hora é a hora do Executivo cuidar os velhotes do Bairro Paraíso e de toda a Sanzala.
Boca Azul aproveitou a trégua do Mafioso para dizer que no Paraíso os velhotes vivem com dignidade. Seus netos e bisnetos vão beneficiando da luta pela independência. Infelizmente, na República da Sanzala, os velhotes, estão na lista de espera para a protecção social, quando Dona Vera Daves pagar as dívidas todas, mais as dela.
Aí o Mafioso não se conteve e
informou que os velhotes antigos combatentes recebem pensões de
Boca Azul foi mais cordial. Zuelou em voz baixa que alguns auxiliares do chefe podem ser gatunos, bandidos, cínicos e vaidosos. Mas ninguém os pode acusar de saberem administrar o país e proteger o povo que vive mal.
A mentira comparada à verdade tem sempre perna curta e precisa de óculos para ver onde está o cofre com o dinheiro dos impostos. A mentira pode ser comparada aos barris de petróleo. Está tudo falido menos os muadiês das privatizações e do combate à corrupção.
A economia de mercado trocou a mentira comparada pela verdade arruinada. Assim também eu triunfava!
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