segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

UMA "FRENTE ÁFRICA" NOS BRICS

Raúl M. Braga Pires | Diário de Notícias, opinião

A Nigéria foi anunciada enquanto Parceiro Oficial dos BRICS, a 17 do corrente, pelo presidente em exercício do bloco emergente, Lula da Silva, que este mês tomou posse, na rotatividade estatutária deste “reverso da medalha”, que federa os verdadeiros fortes, contra os verdadeiros fracos. E a África, pode dizer-se, está a ganhar força e dianteira no seio dos BRICS. Porquê? Porque tem sempre duas “coisas”. Riquezas, no sentido lato, geralmente hidrocarbonetos, mas também e sempre, população, mercado, escala!

Foi nesse sentido que a antecâmara BRICS foi aberta à Nigéria, com a criação deste estatuto de Parceiro Oficial, onde o Uganda também marca presença. A Nigéria representa a força do petróleo, já que em 2024, conseguiu um feito em décadas: o de o maior produtor africano de petróleo, refinar o seu próprio crude, não dependendo da Europa para tal.

Por outro lado, tem escala, com mais de 200 milhões de habitantes/pares de sapatos! E esta grandeza abre mais terreno para o cumprimento de uma demanda chinesa. Baixar a importância/valor do dólar nas transacções financeiras. Como? Criando um novo Sistema SWIFT! Tendo África comprometida, o sistema será implementado.

E, neste âmbito, da grandeza e potencial desta “Frente Africana” nos BRICS, a verdade é que quatro dos cinco maiores PIB de África, fazem parte do bloco emergente, de pleno direito (África do Sul, Etiópia, Egipto) ou enquanto Parceiro Oficial (Nigéria). Deste Top-5, só falta a Argélia, outro gigante dos hidrocarbonetos que, no entanto, integra o Novo Banco de Desenvolvimento, o “Banco dos BRICS”, cola que se tornará num absorvente que rapidamente sugará este parceiro magrebino, para o seio deste bloco.

A não-dependência da refinação do (próprio) crude, trata-se de um objectivo central dos BRICS e, em África, parece haver uma “dança das refinarias”, com algumas a serem desactivadas na África do Sul, dando força à desejada Refinaria do Lobito, em Angola, na mesma medida que a Nigéria também fez de 2024 um ano histórico nesse sentido.

No cenário “africano dos BRICS”, mas em macro, só fico com “uma pulga atrás da orelha”! A Etiópia, “um BRIC sénior há um ano”, com mais de 120 milhões de pares de sapatos e não tem acesso ao mar?

Quis perceber mais e, de forma compacta, quem manda no Corno de África são as grandes operadoras portuárias. O Djibuti “está pela hora da morte”, nem pensar e desta forma rapidamente se afunila para a solução, “e se negociássemos a independência da Somalilândia, resolvia a Etiópia, não resolvia”? Resolvia, mas não era a mesma coisa e seria sobretudo a legitimação de um califado em África, durante a “Quaresma Trump”. E ainda a procissão vai no adro!

Politólogo/arabista

www.maghreb-machrek.pt

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