quarta-feira, 12 de outubro de 2011

BLOGUEIRO DETIDO PELOS MILITARES VIRA SÍMBOLO DA LUTA PELA DEMOCRACIA NO EGITO





O blogueiro egípcio Maikel Nabil Sanad está na cadeia porque criticou os militares do país. Em sinal de protesto, ele iniciou, há 50 dias, uma greve de fome.

A última vez em que Nabil Sanad viu seu filho Maikel foi num sábado, há cerca de duas semanas. Era o aniversário de 26 anos dele, mas não havia motivos para celebrar. Acompanhado de outro filho, Mark, o pai de Maikel foi até a penitenciária de Al Marg, no Cairo.

Desde o final de março o blogueiro Maikel Nabil Sanad está na prisão. Há alguns dias, ele escreveu "como é triste passar o aniversário na prisão. Mas o que me faz mais triste ainda é ver meu país reagindo sem visão, sem ética e sem humanismo".

Maikel está em greve de fome há cerca de 50 dias e perdeu mais de 15 quilos neste período. Desde a quarta-feira passada, ele parou também de ingerir líquidos, em sinal de protesto pelo adiamento, por mais uma semana, da reabertura de seu processo.

Nesta terça-feira, o tribunal militar aceitou um recurso apresentado pelos advogados do blogueiro e ordenou que o processo vá de novo a julgamento. A decisão trouxe esperanças para os defensores de Maikel, mas ele permanece detido.

O pai de Maikel declarou que o estado de saúde do filho é crítico. Ele já apresenta um quadro de falência renal e deficiência em outros órgãos. Maikel não consegue mais se levantar e tem dificuldades para falar. Tudo indica que ele pode morrer a qualquer momento.

Três anos de prisão por criticar os militares

Maikel está detido há mais de seis meses, tendo sido condenado a três anos de prisão em função de um post no seu blog. No comentário, ele acusa as Forças Armadas de não terem se posicionado do lado do povo durante a Revolução, atacando um fundamento da ordem pós-Mubarak no país.

Para o Conselho Militar, as Forças Armadas mantiveram-se o tempo todo do lado do povo. Na sentença, o tribunal acusa o blogueiro de ter "ofendido as Forças Armadas" e "disseminado informações errôneas".

No post em questão, Maikel também denuncia que os militares torturaram mulheres ativistas com testes de virgindade. Um fato real, mas que só foi assumido pelos militares semanas depois do julgamento do blogueiro.

Maikel sente-se injustiçado e por isso iniciou em agosto último uma greve de fome. "Muitas vítimas já morreram em outros países até que os direitos humanos fossem reconhecidos. A liberdade tem o seu preço e devemos pagá-lo", escreve Maikel.

O blogueiro está disposto a morrer pela liberdade do Egito. Com sua greve de fome, ele quer acima de tudo chamar a atenção para a arbitrariedade da justiça militar. Pois, segundo dados divulgados pela organização Human Rights Watch, somente neste ano, desde fevereiro, cerca de 12 mil civis já foram julgados por tribunais militares – mais gente do que nos 30 anos do regime de Mubarak.

Os processos são sumários: juízes, promotores e testemunhas são todos militares. Um advogado de defesa para os réus não há. Somente 800 dos acusados foram absolvidos, a maioria policiais ou pessoas que se mantiveram fiéis aos regime militar.

Pouco apoio a Maikel no Egito

No Egito, também outros ativistas e blogueiros lutam pela liberdade individual e pela do país. Desde que o Conselho Militar tomou o poder, alguns deles foram interrogados e detidos. A condenação de Maikel Nabil Sanad é também simbólica: com isso, o Conselho Militar quer mostrar que criticar os militares é tabu.

A maioria dos blogueiros, contudo, não se deixa intimidar, como é o caso de Ali Rigel. "Resistimos a uma violência maciça por parte de Mubarak e seu regime. Se tivéssemos medo agora, não faria o menor sentido", diz ele, que quer continuar lutando até que o Egito se transforme num país democrático.

Fato é que os blogueiros continuam em atividade e Maikel prossegue com sua greve de fome. Para o Conselho Militar, ele é uma vítima fácil. Outros blogueiros foram libertados rapidamente, pois uma detenção mais longa poderia mobilizar as massas. Maikel conta apenas com um pequeno círculo de apoio no Egito. Ele semrpre foi um outsider com suas posições políticas, tendo criado, com isso, inimigos dentro da sociedade egípcia.

Maikel é ateu num país no qual a religião determina a vida cotidiana da maioria da população. E defende uma postura pró-Israel, prezando especialmente a liberdade de opinião e os valores democráticos do Estado. Além disso, costuma expressar seu pesar por vítimas israelenses de atentados terroristas. Como se não bastasse, desertou oficialmente do serviço militar.

São palavras e atos que a grande maioria dos egípcios detesta, o que impede as pessoas de irem às ruas protestar contra sua detenção. Eles simplesmente deixam a questão nas mãos do Conselho Militar.

Nabil Sanad, o pai de Maikel, está desesperado. Ele já perdeu as esperanças e teme ter visto seu filho pela última vez no dia do aniversário. "Espero a todo momento o telefonema de alguém me dizendo que Maikel está morto e que devo ir até lá buscar seu cadáver", desabafa.

Autora: Viktoria Kleber (sv) - Revisão: Alexandre Schossler

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