quinta-feira, 14 de junho de 2012

“VISÃO 2050” PARA O MUNDO E A SADC! – I




Martinho Júnior, Luanda

África tem de abandonar a lógica capitalista se quiser estabelecer parâmetros de “desenvolvimento verde e sustentável” para a planificação integrada de geo estratégicas a muito longo prazo.

É essencial nesse sentido e como primeiro grande passo, o inventário e o estudo continuado dos seus imensos recursos, sobretudo os recursos vitais da água e de todos os que com ela se correlacionam: as florestas (entre elas as do segundo pulmão tropical da Terra), as savanas imensas, os Parques Naturais… (“Ecosystem services of the Congo Basin forests” – http://www.globalcanopy.org/sites/default/files/es_congobasin_0.pdf)...

É a partir daí que se tornará viável a planificação da luta contra o subdesenvolvimento em todo o mundo e em África muito em especial, mas a consciência disso não está a ser considerada e levada na devida conta!...

1 ) O Rio de Janeiro acolhe, entre 20 e 22 de Junho, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, procurando influenciar a humanidade na construção comum duma geo estratégia que vise sustentabilidade, em termos de “desenvolvimento verde”, com horizonte em 2050, o “Visão 2050” à escala planetária (http://www.rio20.info/2012/; http://www.uncsd2012.org/rio20/content/documents/607Manual%20Operativo%20-%20Ingles_%2031-05_print.pdf).

Se a realização da Conferência no Rio de Janeiro é por si significativa, uma vez que o Brasil integra o maior pulmão ambiental tropical do Globo, a Amazónia, os debates abrem oportunidade para a planificação geo estratégica com base na crítica ao modelo de desenvolvimento que tem sido seguido desde o início da Revolução Industrial, um modelo capitalista, agressivo para com a natureza e para com o próprio homem, consumista e irracional, que não leva em conta as limitações do planeta e tende a colocar em risco a vida tal qual a conhecemos (“Construamos uma Arca de Noé que nos salve a todos” – http://pagina--um.blogspot.com/2010/08/construamos-uma-arca-de-noe.html).

Leonardo Boff não é optimista em relação aos trabalhos que se vão desenrolar (“A ausência duma nova narrativa no Rio+20” – http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5621&boletim_id=1223&componente_id=19762) e fundamenta:

“O vazio básico do documento da ONU para a Rio+20 reside numa completa ausência de uma nova narrativa ou de uma nova cosmologia que poderia garantir a esperança de um “futuro que queremos” lema do grande encontro. Assim como está, nega qualquer futuro promissor.

Para seus formuladores, o futuro depende da economia, pouco importa o adjectivo que se lhe agregue: sustentável ou verde. Especialmente a economia verde opera o grande assalto ao último reduto da natureza: transformar em mercadoria e colocar preço àquilo que é comum, natural, vital e insubstituível para a vida como a água, solos, fertilidade, florestas, genes etc. O que pertence à vida é sagrado e não pode ir para o mercado dos negócios. Mas está indo, sob o imperativo categórico: apropria-te de tudo, faça comércio com tudo, especialmente com a natureza e com seus bens e serviços.


Eis aqui o supremo egocentrismo e a arrogância dos seres humanos, chamado também de antropocentrismo.


Estes vêem a Terra como um armazém de recursos só para eles, sem se dar conta de que não somos os únicos a habitar a Terra nem somos seus proprietários; não nos sentimos parte da natureza, mas fora e acima dela como seus “mestres e donos”.

Esquecemos, entretanto, que existe toda a comunidade de vida visível (5% da biosfera) e os quintilhões de quintilhões de microrganismos invisíveis (95%) que garantem a vitalidade e fecundidade da Terra.

Todos estes pertencem ao condomínio Terra e têm direito de viver e conviver connosco.

Sem as relações de interdependência com eles, sequer poderíamos existir.

O documento desconsidera tudo isso.

Podemos então dizer: Com ele não há salvação.

Ele abre o caminho para o abismo.

Enquanto tivermos tempo, urge evitá-lo.”

Por isso as suas palavras ficam aqui como uma advertência: o “desenvolvimento verde” que eu considero é o do respeito para com a Mãe Terra, não aquele que encara a Terra e a natureza como mais um produto a explorar, de forma tão nociva e desequilibrada como Leonado Boff sintetiza nessa sua intervenção.

2 ) Várias correntes de pensamento sobre a gestão ambiental, climática e humana do planeta vão-se confrontar mesmo assim, em termos de debates de ideias com fundamento nos dados adquiridos pela pesquisa em relação ao ambiente, ao clima, à própria humanidade e à Mãe Terra, todavia a necessidade de corrigir a planificação geo estratégica com vista a garantir a sustentabilidade do próprio planeta é uma questão que indicia estar já em atraso, se tivermos em conta Leonardo Boff: a humanidade chegou aos 7 mil milhões de seres vivos e, ao nível do consumo da sociedade norte americana, de acordo com os padrões ora em vigor, seria necessário um planeta com as dimensões similares às de Júpiter para satisfação de todos, a prazos não tão dilatados quanto isso… (“The future we want” - Brochura – http://www.uncsd2012.org/content/documents/189conf_brochure.pdf).

O modelo de sociedade capitalista e consumista herdado da Revolução Industrial e da recente Revolução Tecnológica, pelas suas assimetrias, desequilíbrios e um esbanjamento cada vez mais pernicioso de recursos, não serve para as gerações presentes e para as do futuro, pelo que é necessário encontrarem-se outras soluções, que influenciarão cada vez mais os conceitos que nortearão ao longo das próximas décadas a “Visão 2050”, bem como as transformações necessárias, algumas delas tendo já dado, timidamente e apesar de tudo, os primeiros passos.

É fundamental que os recursos do planeta não se esgotem, nem se tornem nocivos ao ambiente por acção do homem e com isso que os equilíbrios ambientais não sejam colocados em causa; nesse aspecto, em relação a muitos deles, há já uma corrida contra o tempo, enquanto os desequilíbrios se tornam cada vez mais evidentes!

Quantas espécies animais e vegetais não estão em risco, desapareceram ou estão em vias de extinção? Porquê?

Quantas tensões, conflitos e guerras não têm eclodido em África e no mundo, pela simples razão de que os mais fortes pretendem explorar os recursos aproveitando sua posição de domínio, senão de hegemonia, sem levar em conta os interesses dos povos, nem a finitude desses mesmos recursos, muito menos o facto da Terra ser pequena mas insubstituível para a vida tal qual a conhecemos, pelo menos por ora. (“Entenda a Rio+20 – leituras sobre os desafios” – http://rio20.net/pt-br/documentos/entenda-a-rio20-leituras-sobre-os-desafios).

A nossa “casa comum” tem de ser respeitada como nossa Mãe e a quem se devem outorgar direitos inalienáveis.

3 – Ao analisar as questões que se prendem às tensões, conflitos e guerras típicas de sociedades que (sobre)vivem no pântano do subdesenvolvimento crónico, a história do Congo, membro da SADC, é o mais gritante exemplo, sobretudo desde os tempos em que começou por ser propriedade pessoal dum colonialista tão despótico como sanguinário quanto o Rei Leopoldo II!...

Impedir o despertar do Congo tem sido um dos objectivos da hegemonia, pois um Congo vulnerável, enfraquecido, mantendo-se em subdesenvolvimento crónico, é um Congo que até em relação ao espaço do segundo maior pulmão tropical do planeta, a bacia hidrográfica do Congo, não terá voz activa… (“O coração verde de África” – http://wwf.panda.org/what_we_do/where_we_work/congo_basin_forests/).

*Gravura – Logo do Rio+20

Mais algumas pistas para abordagem:
- Keeping track of our changing environment – from Rio to Rio+20 – 1992 – 2012 – http://www.unep.org/geo/pdfs/keeping_track.pdf

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