Martinho Júnior, Luanda
1 – A Marinha de Guerra Angolana cumpriu 36 anos e a efeméride foi lembrada, aproveitando-se para se fazer um ponto de situação sobre esse tão importante ramo das FAA em época de paz.
A ANGOP, entre as diversas publicações sobre o assunto, lembrou (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/6/28/Marinha-Guerra-comemora-hoje-anos-existencia,4ea98d80-6065-45a8-b2ad-d2ea5f48e490.html):
“A Marinha de Guerra Angolana (MGA), um dos ramos das Forças Armadas (FAA) para a garantia da defesa das águas territoriais, comemora terça-feira, 10 de Julho, 36 anos de existência.
A Marinha foi fundada em 1976 por altura da visita do primeiro Presidente e fundador da nação angolana, António Agostinho Neto, à base naval de Luanda, facto que coincidiu com o fim do período de instrução dos primeiros militares do ramo, pós independência do país.
A partir do convés da lancha Escorpião, herdada do exército colonial português, António Agostinho Neto salientara o papel da marinha de guerra na preservação da integridade territorial.
Na ocasião, o fundador da Nação angolana advogou que, com a protecção das águas territoriais (…) neutralizaremos aqueles que querem, de qualquer maneira, roubar o que existe no nosso país.
Em 36 anos, grandes transformações se registaram no ramo, apesar de se considerar ainda insuficientes os navios a sua disposição, para fazer face a um patrulhamento eficaz das águas territoriais, incluindo a Zona Económica Exclusiva (ZEE).
O comandante da MGA, almirante Augusto da Cunha Silva, Gugú, garante que os seus efectivos vão manter invioláveis as fronteiras fluviais, antes, durante e depois da realização das eleições gerais marcadas para 31 de Agosto próximo”.
2 – As declarações dos altos dignitários angolanos a propósito da data, responderam neste caso em conformidade com os interesses nacionais, em contraste com as declarações que foram feitas pelo Comandante da Marinha de Guerra Angolana (MGA), Almirante Augusto da Silva Cunha, segundo minha compilação (“Na esteira dum navio pirata” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/07/na-esteira-dum-navio-pirata.html).
De acordo com a ANGOP (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/6/28/Governante-exorta-efectivos-Marinha-aperfeicoarem-arte-militar-naval,385cca2b-d320-4c59-98ed-2c376c7882ad.html) “o Ministro da Defesa Cândido Pereira Van-Dúnem, exortou os quadros militares da Marinha de Guerra Angolana para continuarem a aperfeiçoar a arte militar naval, num contexto em que a observância da prontidão e da disciplina, são factores decisivos para o cumprimento cabal da sua missão”.
Por seu turno (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/6/28/General-Nunda-realca-papel-MGA,223f0db4-dfa7-4128-a785-523db2b8e7a3.html) “o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), general Geraldo Sachipengo Nunda, realçou hoje (terça-feira), na Base Naval do Soyo, província do Zaire, a missão da Marinha de Guerra Angolana na protecção dos recursos económicos no mar.
O oficial general, que discursava no acto central das comemorações do 36º Aniversário do ramo, que hoje se assinala, sublinhou que este órgão das FAA tem cumprido com zelo a sua tarefa de protecção do mar, dos recurso hídricos, do ambiente, bem como o combate à pirataria, tráfico de droga e outras mercadorias.
Advogou a contínua formação de quadros neste ramo e a aquisição de navios e armamento, no âmbito do plano da reedificação das FAA em curso.
Atenção especial deve ser dada às estruturas orgânicas para racionalmente traçarem os cursos de especialidade, criarem estruturas para a basificação e a manutenção dos navios e aquartelamento, sublinhou”.
Por fim “o comandante da Marinha de Guerra Angolana, MGA, almirante Augusto da Cunha Silva, Gugú, garantiu hoje, sexta-feira, na cidade do Lobito (Benguela), que os efectivos vão manter invioláveis as fronteiras fluviais, antes, durante e depois da realização das eleições gerais marcadas para 31 de Agosto próximo.
De acordo com o dirigente militar que falava à imprensa durante a visita do chefe do Estado Maior da Armada Portuguesa, José Saldanha Lopes efectuou a escola de formação de especialistas navais, na Catumbela (Benguela), os efectivos da MGA estão atentos de modo a evitar a entrada de gente estranha aos interesses dos angolanos.
As regiões da zona norte, pela sua complexidade de fronteiras fluviais, de acordo com a fonte, estão a constituir maior atenção dos especialistas da MGA” (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/6/27/Comandante-MGA-garante-inviolabilidade-nas-fronteiras-durante-eleicoes,1ac8bd1e-1afd-4da5-b068-ad93e954d9e5.html).
3 – A Marinha de Guerra Angolana é em época de paz um dos ramos que mais atenção deve merecer, uma vez que é a parte mais atrofiada das Forças Armadas Angolanas, quando crescem os encargos e responsabilidades nacionais geo estratégicos no Atlântico Sul e nas águas interiores de Angola.
No Atlântico Sul há que referir:
- A necessidade imperativa de cobertura, controlo, fiscalização e vigilância das 200 milhas que compõem a Zona Económica Exclusiva e para além dela.
- A interligação com as armadas dos países da SADC, levando em consideração particular o papel e o raio de acção da Marinha Sul Africana.
- A interligação com as Marinhas de Guerra dos países da América do Sul, Brasil em especial, tendo em conta os desenvolvimentos que estão a ocorrer na “Amazónia Azul”, o pré-sal do Brasil, assim como o seu papel de emergência e preponderância, inclusive no âmbito da CPLP.
- A interligação às Marinhas de Guerra Africanas no Golfo da Guiné, tendo em consideração a importância geo estratégica e os relacionamentos de Angola.
No interior e em relação à riqueza aquífera vital:
- A fiscalização, vigilância e controlo urgente da região central das grandes nascentes, uma vez que é aí que existe a maior reserva natural de água interior do país; neste caso e na ausência de Parques Naturais em cada uma das principais nascentes, deveria a Marinha de Guerra, de forma expedita, fazer deslocar subunidades de Fuzileiros com a tarefa de controlar e impedir que os garimpeiros que andem à procura indiscriminada de diamantes aluviais causem maiores danos para além daqueles que já causaram aos ambientes envolventes.
- A fiscalização, vigilância e controlo dos cursos intermédios dos principais rios, tendo em conta o mesmo tipo de necessidades, acrescendo-se o facto de que é ao longo dos rios onde se fixa uma parte da migração ilegal para efeitos vários e sobretudo por causa do garimpo de diamantes, um fenómeno que se correlaciona sensivelmente com a evolução da situação nos Grandes Lagos.
- Por fim a fiscalização, vigilância e controlo dos cursos terminais, ou fronteiriços, tendo em conta suas especificidades e levando em consideração o tipo de migração ilegal que afecta Angola, o comércio existente, assim como os compromissos ambientais transfronteiriços.
É evidente que é urgente estabelecer a partir do Ministério do Ambiente e no âmbito do estabelecimento duma geo estratégia integrada com economia de recursos (fora da lógica capitalista), se estabeleçam, as bases para a sustentabilidade da “Visão 2050” , conforme ao que tenho vindo a evidenciar (“Visão 2050 para o Mundo e a SADC – I” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/06/visao-2050-para-o-mundo-e-sadc-i.html; “Visão 2050 para o Mundo e a SADC – II” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/06/visao-2050-para-o-mundo-e-sadc-ii.html).
Os estrategas militares e os da Marinha de Guerra Angolana em particular, quantas vezes “entorpecidos” pelos conceitos dominantes dos países que compõem a NATO, inclusive quando apenas existem relações bilaterais, precisam acordar para a premente necessidade de se estabelecer uma geo estratégia nacional capaz de responder aos desafios que se apresentam (“Navio pirata na baía de Luanda” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/07/navio-pirata-na-baia-de-luanda.html).
4 – É enorme o esforço que se deve desenvolver no âmbito da Marinha de Guerra Angolana, desde a implantação de estruturas em terra, até à multiplicação dos meios, que todos reconhecem ser insuficientes, ou em alguns sectores mesmo inexistentes.
A Marinha de Guerra Angolana precisa de mais implicação dos organismos da Educação a todos os níveis, até por que, o que há a realizar em termos de hidrografia, oceanografia e estudos ambientais em terra e no mar, para além das outras missões, é por si uma imensidão de tal ordem que obriga os recursos humanos a serem muito mais ousados do que têm sido até aqui.
É imperativo que uma geo estratégia integrada que vise o estudo e a investigação a fim de cobrir uma economia de recursos, seja imediatamente desencadeada começando com a atenção que se deve dar aos recursos humanos que vão activar todo esse expediente em prol duma “Visão 2050” com tal carácter.
Isso terá implicações ao longo de todo o século XXI e nas gerações que se seguirão.
PAZ SIM, NATO NÃO! - CUBA PARA A CPLP!
Foto:
- Secção de Combate de Fuzileiros na Ilha Cazanga, instrutor (o internacionalista português Eduardo Cruzeiro) e instruendos em princípios de 1976; essa primeira experiência, realizou-se sob os auspícios do 1º Ministro da Defesa de Angola, Coronel Iko Carreira, antes da fundação da Marinha de Guerra Angolana. Esse efectivo, formado a partir do GOE da Segurança do EMG das FAPLA, embarcou na Base Naval de Luanda e desembarcou com pessoal, combustível, logística vária e meios rolantes (BRDM e BTR 152), utilizando uma das LDG da classe Alfange, uma LDM e uma LDP (embarcações deixadas pela Marinha de Guerra Portuguesa), em Ambrizete, a fim de impulsionar quer a coluna dos “Corvos ao Embondeiro” (que tomou Quinzau e o Soio), quer a coluna que tomou Casa da Telha e Tomboco, que chegou a Quiende e só não atingiu MBanza Congo por que as pontes foram destruídas e não houve engenharia capaz de vencer os torrenciais cursos de água entre Quiende e a capital da actual Província do Zaire.
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