Domínio do MPLA, inaugurações e acusações de fraude marcam campanha
29 de Agosto de 2012, 09:29
Eduardo Lobão, da agência Lusa
Luanda, 29 ago (Lusa) - Os 30 dias de campanha para as eleições gerais de sexta-feira em Angola, que hoje termina, foram marcados pelo domínio absoluto do partido no poder, com dezenas de inaugurações e as acusações de fraude da UNITA contra o órgão eleitoral.
A dinâmica do MPLA, que governa Angola desde a independência, em 1975, confundiu-se com a governação do país e beneficiou, de forma evidente, de parcialidade na cobertura da imprensa estatal.
As inaugurações, agendadas convenientemente para este mês, foram um complemento da campanha eleitoral propriamente dita, com os partidos mais importantes da oposição, como a UNITA, PRS e CASA-CE a questionarem a equidade de tratamento e a parcialidade informativa.
Outra diferença entre o MPLA e as demais oito forças concorrentes foi visível nos tempos de antena na televisão pública, com o partido no poder a apresentar uma produção cuidada e apelativa.
Nas primeiras duas semanas de campanha, além da presença constante no terreno, com múltiplas atividades envolvendo todos os quadros do partido, do lado da oposição destacou-se a acusação à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de preparação de fraudes no escrutínio.
O tema estendeu-se até ao fim da campanha, marcada na segunda quinzena pela continuação de múltiplas iniciativas do MPLA, reforçadas agora com a participação do seu líder, e Presidente da República, José Eduardo dos Santos, acompanhado da mulher, Ana Paula, em comícios realizados, no cômputo geral em 10 das 18 províncias do país.
A subida de tom das acusações de fraude feitas contras a CNE culminou com a realização de manifestações promovidas pelo partido do "Galo Negro" em todas as capitais provinciais, com o líder deste partido a manifestar disponibilidade para o adiamento por 30 dias das eleições, para ultrapassar as irregularidades alegadas.
A questão foi abordada logo no primeiro dia de campanha pela organização não-governamental Human Rights Watch, que manifestou em comunicado "sérias preocupações" em relação ao ambiente dos direitos humanos em Angola, que considerou "não ser favorável a eleições livres, justas e pacíficas".
Com um terço da campanha eleitoral cumprida, o MPLA acusou em conferência de imprensa a UNITA, o PRS e a coligação CASA-CE, da preparação de atos de perturbação da ordem pública.
Fora da luta eleitoral, mas tentando condicionar a campanha, o anúncio da realização de manifestações de rua pelos ex-militares angolanos chegou a provocar alguma ansiedade, mas o tema esgotou-se a si próprio, com os antigos combatentes a desistirem de sair à rua para protestar contra os alegados atrasos no pagamento de pensões, subsídios e vencimentos.
As notícias acerca da regularização destes pagamentos, poderão ter-se traduzido na desmobilização dos ex-militares em cumprirem as ameaças.
Os atrasos no credenciamento de jornalistas estrangeiros e de observadores eleitorais, incluindo o corpo diplomático acreditado em Luanda, motivaram, neste último caso, um contundente comunicado da embaixada dos Estados Unidos.
Na nota distribuída à imprensa, o embaixador Christopher McMullen interpelou a CNE sobre o atraso relativo aos observadores, urgindo-a a emitir de imediato os competentes credenciamentos.
A 48 horas da votação, o favoritismo do MPLA é ponto assente, ameaçando novamente remeter a oposição para o papel de ator secundário do regime.
EL.
Analistas divididos sobre comportamento dos partidos na campanha
29 de Agosto de 2012, 09:29
Luanda, 29 ago (Lusa) - A campanha que hoje termina para as eleições gerais em Angola teve mais envolvimento dos partidos, em relação às legislativas de 2008, segundo analistas contactados pela Lusa, que fazem porém leituras diferentes sobre o papel da maioria do MPLA.
"Os partidos conseguiram fazer campanha em todo o país e ter alguma qualidade nos tempos de antena em relação ao que se verificou em 2008", observa Belarmino van-Dúnem, colunista do estatal Jornal de Angola", numa opinião partilhada pelo economista e político Filomeno Vieira Lopes, para quem houve "mais oportunidades" de as nove forças concorrentes contactarem as populações, relativamente há quatro anos.
Os dois observadores da atualidade política angolana divergem, no entanto, em relação à forma como os partidos se comportaram na campanha iniciada há um mês para as eleições gerais de sexta-feira, com Filomeno Vieira Lopes a referir-se a uma apropriação do partido no poder, MPLA, dos órgãos de comunicação públicos e do aparelho de estado.
"Não houve contenção dos órgãos de comunicação social do estado", critica Filomeno Vieira Lopes, dirigente do Bloco Democrático, que não concorre a estas eleições, apontando-lhes "uma campanha de propaganda ativa" a favor do MPLA, "que retira competitividade" aos outros partidos.
Belarmino van-Dúnem destaca por sua vez a "mensagem comum a todos os partidos de dar continuidade ao desenvolvimento do país", um consenso que conduziu a um "discurso no sentido de melhoria" de Angola, mas que levou as forças de oposição a "ir a reboque" da maioria e a que se tenha perdido "uma certa agressividade" na campanha.
O analista esperava "mais barulho, cor e movimentação de pessoas", mas o último mês foi marcado por "uma calma muito grande, para quem anda em Luanda e em todas as províncias, maior do que seria normal" neste período, "não obstante o que se tenta fabricar lá fora, como se houvesse uma guerra civil".
Já Filomena Vieira Lopes salienta como "facto marcante" a diferença de meios dos partidos, referindo-se à forma como o Presidente da República e cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos, utilizou "ostensivamente", numa "campanha milionária", os recursos do estado e o erário público, "não distinguindo a posição de candidato da de chefe de estado".
"Gasta-se mais numa viagem do Presidente a uma província do que o dinheiro entregue aos outros partidos para a campanha toda", aponta. "Nem parece uma campanha de um país do terceiro mundo, tudo a expensas públicas mas também do setor privado ao qual o Governo faz as suas encomendas a troco de financiamentos."
O economista lamenta que estes assuntos não sejam explorados pelos media públicos em Angola, bem como a pobreza e a corrupção, "o que leva a oposição a explorá-los, em vez de se concentrar na exposição dos seus programas".
Belarmino Van-Dúnem insiste que a realidade é vista de formas diversas, se for a partir de Angola ou do exterior, porque, "ao contrário do que muitas vezes se veicula, a maioria da população tem beneficiado do desenvolvimento - há mais escolas, mais pessoas e mais pessoas a circular" - e o custo de vida no país "é diferente para um estrangeiro ou para um angolano".
A campanha também fica marcada pelas críticas à Comissão nacional Eleitoral (CNE), lideradas pelo maior partido da oposição, UNITA, que denunciou irregularidades relacionadas com os cadernos eleitorais, credenciamento dos delegados, atas síntese após a votação e divulgação dos resultados.
A atuação da CNE "demonstrou que as eleições não vão ser transparentes nem seguramente justas", diz Vieira Lopes, atribuindo "nota negativa" ao órgão eleitoral, que "não soube colocar-se de acordo com a sua posição".
Van-Dúnem reconhece que "alguns dos pressupostos da CNE já deviam estar implementados", mas adverte que as acusações só poderão ter fundamento a partir do dia da eleição. "Não podemos ver fraudes que ainda não se verificaram", observa.
HB
Agenda frenética e muitas inaugurações na campanha de Eduardo dos Santos
29 de Agosto de 2012, 09:29
Henrique Botequilha, da Agência Lusa
Luanda, 29 ago (Lusa) - O presidente do MPLA realiza hoje em Luanda o seu décimo comício, no fim da campanha para as eleições gerais de sexta-feira, durante a qual o também Presidente da República protagonizou cerca de duas dezenas de inaugurações.
No primeiro dia de campanha, em 31 de julho, José Eduardo dos Santos disse, em Viana, arredores de Luanda, que "o mais difícil já foi feito", referindo-se aos investimentos em infraestruturas, dando o mote ao 'slogan' da campanha do seu partido "crescer mais e distribuir melhor".
As energias do presidente do partido do governo estavam porém reservadas para a segunda quinzena de agosto, cumprindo uma agenda que, depois de Luanda, o levou a nove províncias.
Perto de conseguir a legitimação política, ao fim de 32 anos como chefe de Estado, o perfil de líder discreto deu lugar a aparições quase diária, lançando também os principais quadros do partido para o terreno, a começar por Manuel Vicente, o ex-administrador da Sonagol e novo número dois do MPLA.
Em todas as suas viagens aéreas, de ida e volta a Luanda no mesmo dia, Eduardo dos Santos desempenhou o duplo papel de presidente do partido, nos comícios, entre as inaugurações realizadas enquanto Presidente da República, a somar a outras dezenas por membros do seu governo.
No dia 16, em Saurimo, exibiu a experiência governativa para indicar que alternância seria "comprometer o futuro". Na capital da Lunda Sul, procedeu à primeira inauguração da campanha, o estádio das Mangueiras, e visitou as obras do aeroporto da cidade, cuja conclusão estava prevista para o fim deste mês.
No dia seguinte, partiu para Luena, onde fez cinco quilómetros de comboio na primeira viagem da reconstruída linha dos Caminhos-de-ferro de Benguela e inaugurou a estação da cidade. "Agora que vencemos a etapa mais difícil de reconstrução do nosso país, os novos avanços serão muito mais rápidos", prometeu.
O enclave de Cabinda foi a paragem reservada para o dia 20, quando inaugurou a nova Central Térmica em Malembo e questionou, na província onde persiste um movimento separatista, onde se encontravam os ex-combatentes "que hoje só falam de divisão" quando nos anos 60 "viviam como irmãos".
As obras mais emblemáticas estavam reservadas para os dias seguintes, com a inauguração da unidade de produção de gás liquefeito Angola LNG, o maior empreendimento industrial desde a independência, a 21 no Soyo, província do Zaire, e, um dia mais tarde, na Caala, com a barragem do Gove, construída pela brasileira Odebrecht, que vai abastecer energia elétrica ao Huambo e Cuíto, no Bié.
No Huambo, José Eduardo dos Santos assumiu "o compromisso de reforçar o apoio de todo o tipo aos empresários angolanos para que eles tenham empresas fortes" no mercado interno. "Não são só as grandes empresas estrangeiras, como a Teixeira Duarte, a Odebrecht, a Total-Elf, a Chevron, etc., que devem prosperar e levar grande parte do dinheiro que ganham para os seus países", declarou.
A agenda social voltou a dominar o discurso do presidente do MPLA no Lubango, onde disse ser o primeiro a reconhecer as dificuldades de muitas famílias e prometeu não cruzar os braços "enquanto existirem situações de enorme desigualdade", e se dirigiu aos "mentirosos" que terão "a resposta nas urnas", em alusão aos protestos da UNITA contra alegadas fraudes em curso no processo eleitoral.
A visita à capital da Huila, terminou com a inauguração de uma mediateca.
O palácio da justiça de Menongue, província de Cuando Cubango, e a estação ferroviária, na mesma cidade, da linha reconstruída dos Caminhos-de-ferro de Moçâmedes, foram as inaugurações seguintes, a 25.
Um dia mais tarde somou-se a abertura do aeroporto internacional de Catumbela, província de Benguela, num investimento de mais de 200 milhões de euros, e uma mediateca, logo após um comício no Lobito para várias dezenas de milhares de pessoas, um dos mais concorridos da campanha.
Na terça-feira, dia em que celebrou 70 anos, o Presidente angolano fez inaugurações em série na capital, começando pela segunda fase da baía de Luanda, o cartão-postal da cidade, numa requalificação liderada pelo consórcio português Mota Engil/Soares da Costa, o Hospital Municipal do Sambizanga, com capacidade para 75 camas, e mais uma mediateca.
A campanha do MPLA encerra hoje com um comício no estádio 11 de Novembro, em Luanda.
HB
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
Leia quase tudo sobre Angola (símbolo na barra lateral)
Sem comentários:
Enviar um comentário