Nuno Aguiar – Dinheiro Vivo
O governo português assinou o Memorando de Entendimento com a troika no início de maio do ano passado. Desde essa altura, as condições do mercado de trabalho não melhoraram. Pelo contrário, degradaram-se ainda mais. Entre abril de 2011 e julho deste ano, o número de portugueses desempregados subiu de 685 para 852 mil. Ou seja, há mais 167 mil pessoas à procura de trabalho.
O Eurostat revelou ontem que a taxa de desemprego portuguesa se manteve nos 15,7% em julho.
O mesmo valor registado no mês anterior e mais 3,2 pontos percentuais do que há um ano. Segundo os dados do gabinete de estatística da União Europeia, Portugal continua a ser o terceiro país com a taxa mais elevada entre os parceiros comunitários, apenas superado pela Grécia (23,1%) e Espanha (25,1%).
O aumento do desemprego é especialmente sentido pelos mais novos, que não conseguem entrar e manter--se no mercado de trabalho. São responsáveis por 18% do aumento do desemprego, com mais 30 mil jovens sem trabalho.
A evolução da taxa de desemprego tem surpreendido tanto a troika como o governo PSD/CDS-PP. Quarta--feira, Passos Coelho admitiu que “nem tudo aconteceu como esperado”, acrescentando que “há comportamentos, sobretudo do lado do desemprego, que são conhecidos, que têm reflexos orçamentais quer do lado das receitas fiscais, em particular, quer do lado dos subsídios de desemprego”.
Apesar de sucessivas revisões das estimativas para a taxa de desemprego deste ano, ela está em risco de não ser cumprida. A cinco meses do fim do ano, a taxa média de 2012 está em 15,3%, apenas a 0,1 pontos das previsões da ComissãoEuropeia e a 0,2 pontos das últimas estimativas do Ministério das Finanças.
João Proença, secretário-geral da UGT, avisou ontem que no final do ano “teremos um desemprego superior a 17%”. “O desemprego não para de crescer. É evidente que não só o desemprego atinge hoje níveis nunca atingidos em Portugal”. Arménio Carlos, líder da CGTP, diz que os números “refletem o estado da economia e as políticas que têm sido desenvolvidas” e pede ao governo que “revogue imediatamente toda a legislação que está a reduzir a atribuição do subsídio de desemprego e a facilitar os despedimentos”.
Mais cortes a caminho
Também ontem o Sol noticiou que o governo está a preparar um novo programa de redução da despesa, envolvendo cortes na Segurança Social, Educação, Saúde, Defesa e Segurança. Segundo o semanário, na Saúde e Educação serão eliminados serviços e cortadas subvenções sociais. Na Defesa, Segurança e Segurança Social, a poupança tentará ser obtida com menos gastos com pessoal. O objetivo é evitar um imposto sobre o 13.oº mês de todos os trabalhadores, que substitua o corte apenas para funcionários públicos e pensionistas, que o TribunalConstitucional chumbou.
O problema com esta lógica é que os cortes teriam de ter uma dimensão maior do que os que foram feitos até agora. Compensar a eliminação de subsídios exigiria uma poupança acrescida de cerca de dois mil milhões de euros em 2013. Entre janeiro e julho deste ano, o governo conseguiu uma redução de menos de um terço desse valor na despesa efetiva. Além disso, as rescisões amigáveis deverão ter um impacto muito limitado. Ou são oferecidas indemnizações elevadas – mau para a despesa – ou poucos serão os trabalhadores interessados em abandonar o Estado e arriscar ir para um sector privado que ainda está a destruir emprego.
Ao Dinheiro Vivo, o Ministério das Finanças não confirmou a existência deste plano.
Com Luís Reis Ribeiro
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