Paulo Gaião –
Expresso, opinião, em Blogues
Duzentos anos
depois de perder as suas colónias latino-americanas no exacto momento em que
tinha de abrir mão da sua soberania política para Napoleão, a Espanha está à
beira de perder a Catalunha (e não só) no momento em que, tudo indica, vai ter
de renunciar formalmente à sua soberania financeira (e também política) para o
FMI através de um pedido formal de resgate.
Mariano Rajoy bem
tentou resistir até à última hora ao resgate, certamente consciente de como ele
podia agravar os perigos imensos a que Espanha estava sujeita, talvez os
maiores da sua História porque é de destintegração total de um país que se
trata.
Mas, como parecia
óbvio, de nada adiantou disfarçar as misérias. A Espanha foi mesmo a chacota
europeia nos últimos dois meses. Os espanhóis diziam que não eram o Uganda para
serem resgatados a ferros. Mas foi mais um sinal da sua decadência.
Esta semana, o rei
Juan Carlos apelou aos espanhóis (catalães) para não perseguirem quimeras, não
caírem na tentação de atirarem culpas uns aos outros, galgos e podengos (sempre
as gaffes da caça). Se queria pacificar, é capaz de ter acirrado os ânimos dos
independentistas catalães. Ele que é descendente dos Bourbon, os coveiros da
independência da Catalunha.
A Catalunha disse
ao que vinha mesmo antes do resgate formal. Primeiro quer a soberania fiscal
catalã, depois já se percebeu o que quer a seguir: a independência política.
Talvez a ser sufragada nas urnas já nas próximas eleições autonómicas. Para que
a República Catalâ seja proclamada logo a seguir. É a quinta tentativa catalã
para ser independente mas, desta vez, pode ser irreversível.
As condições
políticas para a Catalunha ser hoje independente não podiam ser melhores. Em 1640,
em 1873, 1931 e 1934, datas das breves Repúblicas Catalãs até hoje, a Espanha
ou era pujante ou adivinhava-se que tinha ainda muito caminho histórico a
percorrer. Como veio a acontecer, até ao pacto autonómico de 1977.
Hoje, há a sensação
que a Espanha chegou ao fim da estrada. Que não tem nada para oferecer. Que se
esgotou a sua História, o seu modelo, o seu mosaico de povos
A integração da
Espanha na Europa facilita a concretização dos anseios da Catalunha. Esta sai
de Espanha, sem sair da União Europeia.
A crise económica,
que tudo avassala, leva à desvalorização das brechas políticas. Não podia ser
melhor panorama para a Catalunha.
Os catalães abrem o
caminho. A seguir virá, certamente, o País Basco. E a Galiza, Andaluzia...
Como deve Portugal
reagir? É impossível não dar a mão à independência da Catalunha. Foi ela quem
nos permitiu restaurar a nossa em 1640, quando Madrid apostou tudo em matar a
rebelião catalã e renunciou a Portugal.
Mas não se deve
afrontar Madrid. Portugal pode ser, aliás, o grande mediador entre Madrid e
Barcelona para conter todos os perigos... E ganhar um papel central na
Península Ibérica.
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