A RTP não é apenas
uma empresa. Faz parte de Portugal. É património e uma parte da vida de muitas
gerações
João Adelino Faria* – Dinheiro Vivo, opinião
Em criança, foi
através dela que descobri que havia um mundo imenso para lá da vila onde nasci.
Quando chegou a cor, era adolescente e foi através dela que aprendi as
primeiras lições de vida. Como jovem, foi com ela que viajei e sonhei. Como
universitário, foi com ela que tive a certeza de que queria ser jornalista.
Quando entrei para a SIC, foi nela que procurei inspiração. Hoje, é nela que
trabalho e com orgulho apresento o Telejornal.
A RTP não é apenas
uma empresa! É uma casa que faz parte de Portugal enquanto Nação, Pátria, País,
Cultura e História. É um património e uma parte da vida de muitas gerações. Foi
instrumento da ditadura e da democracia. Foi escola para milhares de
profissionais e universidade para muitos que hoje trabalham, do jornalismo à política.
Foi o último reduto para combater injustiças, ajudar os que não tinham outro
meio para contar as suas histórias e companhia para quem não tinha mais
ninguém. Foi com ela que rimos e chorámos todos, muito, ao longo das nossas
vidas. Não há português que não tenha a sua história com a RTP. Foi durante
muito tempo o orgulho de todos nós e não apenas dos que nela trabalham.
Por tudo isto, é
com grande tristeza que vejo por estes dias esta casa ser atacada na rua e nos
jornais sem piedade e sem razão. Um ataque generalizado e fácil, por vezes
movido por interesses egoístas, implacáveis, ou simplesmente por objetivos
incendiários de quem gostaria de a ver desaparecer. Indigna-me sobretudo ver
como alguns jornalistas que aqui trabalharam atacam com ódio a casa onde,
ironicamente, aprenderam quase tudo e graças à qual são alguém na vida!
Na RTP cometemos
erros ? Sim. Há muita coisa a mudar? Sem dúvida. Mas ignorar a história, o
trabalho e o esforço que diariamente são aqui feitos por milhares de
profissionais não é cegueira, é pura maldade!
Sei que o mundo
mudou muito e concordo que a RTP tem, urgentemente, de se adaptar aos tempos
difíceis que vivemos. Também aqui, e por maioria de razão, há muitos
sacrifícios a fazer! Não conheço ainda, sinceramente, qual o melhor modelo para
a transformar. Mas, seja qual for a solução encontrada, espero que tenha sempre
em conta que a RTP existia muito antes de nós e que deve continuar a existir
muito para além das nossas vidas. Mais do que me preocupar com quem e como vai
ser gerida no futuro esta casa desejo que a sua essência, a sua matriz, o seu
espírito e a sua alma nunca desapareçam. Só quem aqui trabalha e contacta com
quem nos vê, em Portugal e no mundo, percebe como isto é importante e especial.
Esta é uma crónica
daquilo que sinto, mas creio ser também o sentimento de muitos dos milhares de
trabalhadores desta casa. Em especial dos mais velhos que por vezes encontro na
cantina da RTP. É enternecedor ver que, mesmo depois de reformados, muitos aqui
regressam. Não conseguem cortar o cordão! Estão preocupados com o futuro da sua
televisão como se de um neto se tratasse. Fazem-me perguntas para as quais não
tenho resposta. Pedem-me ajuda para salvar o que foi construído por milhares de
pessoas. Não tenho esse poder. Mas é por eles e para eles que escrevo esta
crónica.
* Pivô e jornalista
da RTP - Escreve ao sábado
QUANDO MORDEM A MÃO
DE QUEM LHES DEU O QUE VER E COMER
Para o Página
Global o artigo de opinião de João Adelino Faria que acabaram de ler é
enternecedor, pungente, objetivo e recheado de verdades. A RTP é Portugal
e Portugal é a RTP. Os seus profissionais ao longo de décadas tudo fizeram para
proporcionar o melhor aos telespetadores portugueses. A RTP (exemplo) não é só
a pioneira mas sim o símbolo do esforço e do sacrifício de imensos
profissionais que passaram as estopinhas para levar a casa de cada português a
Volta a Portugal em bicicleta quando quase isso era quase impossível devido a enormes
carências e deficiências técnicas, para além dos limitados meios (não só técnicos)
humanos. A RTP, mais recentemente, (outro exemplo) apesar de quase nunca ter feito a
cobertura de uma prova de Fórmula 1 foi eleita pela FIA a melhor realização daquele
ano (1984, no autódromo do Estoril,
a 21 de Outubro) em que se registou a primeira prova
em Portugal depois de um interregno de mais de 20 anos. Inumeros exemplos poderiam aqui ser citados.
Várias televisões
internacionais que trabalharam em co-produções com profissionais da RTP saíram de
Portugal encantados e a elogiar os profissionais daquela “casa”. Estão nesse
cardápio e a servir de referência a RAI (italiana), a BBC (inglesa), a TVE (espanhola),
entre muitas outras, da Europa e do resto do mundo. A maior parte das vezes com equipamentos “obsoletos” a
RTP, pelo profissionalismo e entrega dos seus profissionais, fazia milagres. Esse foi e é o espírito dos
que nasceram e viveram naquela “casa”.
Foi na RTP que a
vasta maioria dos atuais profissionais das televisões ditas independentes
adquiriram formação desde meados dos anos 80 e até praticamente o inicio das
emissões da SIC (a primeira “independente” a estrear-se e que agora comemora 30
anos).
Foi a RTP que
afinal proporcionou a muitos dos seus atuais detratores e revelados inimigos a aprendizagem,
a experiência e a sabedoria para que prosseguissem a profissão com êxito. A RTP
foi a mão que lhes proporcionou o que comer ao exercerem a profissão e
a serem devidamente remunerados pela mais valia do seu trabalho de excelência.
Daí não se compreender que - comportando-se como mastins - mordam a mão dos que abriram
os seus horizontes e lhes deram o que comer, em vez de serem solidários com os
seus ex-colegas e amigos, com a “casa” onde nasceram para a profissão e
apontarem que os verdadeiros erros que existem na RTP devem-se à
governamentalização partidária que tem consumido aquela exemplar e gloriosa estação
nacional de televisão.
Muito haveria para dizer. João Adelino Faria até o diz melhor que nós. Só queremos associar-nos à razão e ao orgulho de todos os portugueses que - mesmo sem o saberem - são a RTP, porque a RTP é Portugal. (PG)
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