quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A VITÓRIA DO PSUV É UMA PITADA DE MÉRITO EM BENEFÍCIO DE TODA A HUMANIDADE! – I

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Cerrou o pano sobre as eleições na Venezuela de 7 de Outubro de 2012, com a vitória do Partido Socialista Unificado da Venezuela e do seu dirigente mais carismático, Hugo Chavez.
 
Interessa agora aprofundar os ganhos alcançados até aqui em benefício de todo o povo venezuelano e para isso é importante fazer uma reavaliação do significado desta vitória.
 
A vitória deve ser avaliada a pelo menos quatro níveis:
 
- Em relação à Venezuela;
 
- Em relação a toda a América, com realce para a América Latina e Caraíbas;
 
- Em relação a África e ao resto do mundo, tendo em conta o papel da Venezuela no Movimento dos Não Alinhados.
 
2 – Em relação à Venezuela há a oportunidade de se criarem condições mais fecundas para lutar contra o subdesenvolvimento duma forma sustentável, gerando maiores equilíbrios humanos e ambientais, enveredando por uma maior harmonia social, com mais justiça, efectivo respeito pelos direitos humanos e das minorias, instalando as transformações indispensáveis para que nesses termos o crescimento seja aproveitado por todos com muito mais equidade, solidariedade e internacionalismo.
 
O nivelamento social não se pode fazer por baixo e os actuais valores que dão qualidade à classe média, constituem o padrão que se desenha no horizonte, com as necessárias correcções que se devem fazer na abrangência, exigência das transformações e na sua sustentabilidade.
 
As imensas riquezas da Venezuela favorecem as potencialidades para vencer os sucessivos desafios.
 
A melhoria da qualidade de vida das mais pobres comunidades venezuelanas é um processo que não se esgotou e mantém-se como um amplo desafio entre outros.
 
As mudanças substanciais foram ocorrendo na afirmação de direitos sociais, na distribuição de riquezas, no questionamento das antigas estruturas de poder e na afirmação das maiorias.
 
Esse processo não exige só uma melhor distribuição da riqueza, é um processo de natureza antropológica por via da qual as classes historicamente mais desfavorecidas e marginalizadas da sociedade transformam os parâmetros culturais da sua existência e colocam a energia emanada nesse esforço, na capacidade de revitalização e renascimento da própria sociedade, de todo o povo venezuelano.
 
Entre outros aspectos distintos, esse é o que mais distingue o Partido Socialista Unificado da Venezuela e o seu líder, Hugo Chavez, da concorrência, uma concorrência que todavia faz parte dos próprios desafios, até por que se vai refinando.
 
É percebendo como se move o império, os seus interesses e as elites que lhe são afins (a oligarquia indexada), por dentro do espectro filosófico-ideológico-político-institucional da sociedade venezuelana que Hugo Chavez e o PSUV poderão dialecticamente lutar contra o subdesenvolvimento e progredir de forma abrangente, não de outro modo!
 
Nesse sentido é importante saber até onde poderá ir o diálogo com os mais diversos sectores da oposição que indicia estar a tornar-se mais subtil e inteligente!
 
Assim a luta de classes na Venezuela reflecte um longo ocaso para as culturas burguesas indexadas ao poder da aristocracia financeira mundial eminentemente anglo-saxónica, por que essas culturas burguesas estão sendo suplantadas pela contra hegemonia das classes populares com culturas eminentemente ameríndias e latino americanas e com a vitalidade dos que nunca tiveram oportunidade histórica para se assumirem em democracia.
 
A oligarquia venezuelana é um produto do sector do petróleo e por conseguinte muito reduzida no número de famílias que se apossaram da riqueza, tão reduzida que, face às transformações sociais evidentes, uma parte se refugiou nos Estados Unidos, sua verdadeira razão de existência histórica, política, económica e financeira!
 
Aprofundar a democracia com mais cidadania e participação popular, reduzindo a representatividade, é portanto indispensável ao socialismo bolivariano do século XXI e isso implica a renúncia à ditadura do proletariado e a repescagem da via original que Salvador Allende abriu no Chile da década de 70 do século passado, adaptando-a à conjuntura venezuelana que alcançou um estágio muito mais avançado que os ganhos conseguidos por Allende no Chile.
 
O império sabia que essa via era um perigo para a hipocrisia da sua “representatividade” e por isso mesmo utilizou os “Chicago Boys” para darem a orientação capitalista neo liberal à ditadura de Pinochet, pondo fim a uma experiência que na América Latina estava condenada apenas ao adiamento!
 
O “êxito” dessa opção em fase experimental, esteve na base do papel do capitalismo neo liberal dos nossos dias, ideal para o exercício da ditadura financeira, onde quer que ele se implante.
 
Ao enfrentar a concorrência, torna-se mais fiável a Hugo Chavez e ao PSUV a detecção dos desafios, mais responsável e rigorosa a capacidade de resposta que se deve criar e mais fecundas as medidas a adoptar em cada etapa, pois a oligarquia venezuelana joga com a classe média e o espectro humano das áreas estratégicas de maior implantação industrial, com uma área cinzenta onde ela busca refúgio genético.
 
O socialismo não desapareceu dos anseios, esperanças e expectativas da humanidade, muito pelo contrário, nem se esgotou na resistência da Revolução Cubana, nem na heroicidade do povo cubano: ele existe hoje na Venezuela como viabilidade para o aprofundar da própria democracia, numa via que não é desconhecida para a América Latina!
 
É esse o sentido do respeito “histórico” de Jimmy Carter em relação ao processo venezuelano, por que o processo venezuelano é profundamente democrático e Jimmy Carter, mesmo não sendo socialista, assume-se de forma distinta em relação a todos os seus pares que passaram pelo poder nos Estados Unidos!
 
É a história da América, do Novo Mundo, que socorre o processo dialéctico da consistência do processo venezuelano, até por cada fracasso foi apenas mais uma lição, uma experiência a juntar aos desafios e no esforço para aprofundar a democracia, ampliando cidadania e participação, ao mesmo tempo que se reduz o grau de representatividade!
 
Só o império pretende que a representatividade continue tal qual está, como uma ementa imutável impossível de aprofundamento, pois só dessa maneira proliferam os interesses, as conveniências e os “lobbies”, que recrutam nas oligarquias locais e Jimmy Carter, não sendo socialista, é distinto dos outros “produtos” que deram sucessivamente a cara e a figura ao poder nos Estados Unidos, por que é a favor, claramente a favor, do aprofundamento da democracia!
 
O plano socialista 2013 / 2019 tem em vista cinco objectivos históricos:
 
- Consolidar a independência da Venezuela;
- Dar continuidade à construção do socialismo;
- Fazer emergir a Venezuela à posição de potência regional;
- Participar num universo multi-cêntrico e multi-polar;
- Participar nos esforços da preservação da vida no planeta, salvando com isso a espécie humana.
 
A vitória do PSUV é assim mais uma etapa numa via que transfere para os povos os processos político-institucionais e enfraquece as ilimitadas opções do império, particularmente da hegemonia que por via da globalização arregimenta as elites de conveniência, mas a batalha estratégica está longe de estar ganha pois em termos sociais a flexibilidade da oposição está a conduzir as disputas para a imensa zona cinzenta (nas pequena e média burguesias venezuelanas) onde seu argumento se poderá revitalizar.
 
A oposição tornou-se mais refinada e inteligente: já não hostiliza, está disposta ao diálogo e estabelece programas, avaliando onde perde e onde pode ganhar, mantendo-se à espreita da sua oportunidade.
 
A oposição pode estar mesmo disposta a aproximar o seu argumento ao de Hugo Chavez!
 
O PSUV terá a partir de agora desafios enormes em termos de criatividade!
 
Em Dezembro haverá eleições para Governadores e o argumento da oposição está actualmente mais adaptado a essas eleições que às gerais, pelo menos nos lugares onde o peso da oligarquia industrial se faz mais sentir e junto à fronteira com a Colômbia.
 
O poder socialista tenderá para o diálogo, mas tem de estar mais atento que nunca na Venezuela até por que a oposição dá sinais de ter avaliado que, se Hugo Chavez não pode ser vencido nas urnas, a oportunidade estará quando ele, pela lei da vida, fisicamente desaparecer, pelo que um dos desafios se fará sentir em Dezembro, pois estão em jogo acessos a importantes patamares da estrutura do estado onde não é a sua figura que prevalece.
 
O poder socialista tem de estar também atento às resistências internas que resultam da burocratização, um risco historicamente já conhecido.
 
Estará o PSUV preparado para tal?
 
Foto: O dilúvio tropical que se abateu sobre Caracas não parou o PSUV que concentrou centenas de milhares de pessoas no acto do discurso de encerramento da campanha de Hugo Chavez.
 
A consultar:
- “El ditador y las petroleras” – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=117121
- “La batalla de Ayacucho, ahora en el siglo veintiuno” – Atílio Borón – http://www.cubadebate.cu/opinion/2012/10/06/la-batalla-de-ayacucho-ahora-en-el-siglo-veintiuno/
- “Por qué Chavez?” – Ignacio Ramonet – http://www.cubadebate.cu/opinion/2012/10/05/por-que-chavez-2/
- “Dimensión universal de la elección en Venezuela” – http://www.avn.info.ve/contenido/dimensi%C3%B3n-universal-elecci%C3%B3n-venezuela
- “Rumo a um chavismo post Chavez?” – http://ponto.outraspalavras.net/2012/10/04/chavismo/
- “A vitória de Chavez e os seus significados” – http://www.outraspalavras.net/2012/10/08/a-vitoria-de-chavez-e-seus-significados/
- “El futuro de América Latina se juega en Venezuela” – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=154697
 

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