Timothy Bancroft-Hinchey - Pravda.Ru
O que acontece em
Portugal há um ano pode ser descrito em duas palavras: Terrorismo Social, a
antítese de democracia social. A tradução disso é a marcha de um milhão de
pessoas em Portugal há duas semanas (um décimo da população) e a manifestação
de ontem pelos Sindicatos que tornaram o Terreiro do Paço em Lisboa no Terreiro
do Povo.
Em 21 de junho 2011 Pedro Coelho tornou-se primeiro-ministro de Portugal, num
governo de coalizão/coligação entre o seu PSD (social-democratas) e o CDS-PP,
(conservador, cristãos-democratas), liderado por Paulo Portas. Como de costume,
um governo PSD logo se tornou sinônimo de tensões sociais; como de costume,
políticas de laboratório foram implementadas, levando, como de costume, a
sociedade portuguesa ao ponto de ruptura. Bem-vindos ao Terrorismo Social.
O pano de fundo atras da situação catastrófica para a sociedade portuguesa é
muito simples de ver: a má governação pelos (apenas) três partidos no poder
desde a Revolução de 1974, nomeadamente o PSD, CDS-PP e do PS (socialistas, em
nome só). Estes três partidos, particularmente o PSD e, especialmente, sob a
liderança do atual presidente, Aníbal Silva, pouco ou nada fizeram para
melhorar a competitividade de Portugal, não fizeram praticamente nada para
reestruturar a economia de Portugal sem suas províncias coloniais (Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste) e fizeram absolutamente nada
para preparar Portugal para o desafio europeu.
Na verdade, esses (des)governos destruíram as poucas ferramentas que Portugal
(só europeu) teve, vendendo os indústrias, destruindo a sua agricultura,
afundando as suas frotas pesqueiras, enquanto os primeiros-ministros tiveram
orgasmos quando a União Europeia deu um tapinha na cabeça deles e chamou-os
bons alunos. Era uma questão de ver qual deles se virou e baixou as calças mais
rápidamente, enquanto os activos de Portugal foram vendidos. Foram atentados de
terrorismo social, que afetam o presente e o futuro.
Bem-vindos ao governo terrorista social, governação atravês de planilhas de
Excel, onde a linha de fundo ignora totalmente o custo humano e social das
políticas implementadas por políticos profissionais que nunca fizeram um dia de
trabalho nas suas vidas, que não têm noção sobre a realidade das pessoas e que
nunca tiveram de colocar comida na mesa, no final do dia, existindo com uma
pensão miserável, um salário médio português ou estar com o fantasma do
desemprego a pairar sobre as suas casas.
O modelo de governação terrorista social por planilhas de Excel diz ao
formulador de políticas que o salário médio em Portugal é de cerca de 1.000
euros. Mesmo se esse fosse o caso, que não é, vamos examinar as despesas de um
agregado familiar médio: em
Grande Lisboa , eu desafio qualquer pessoa a apresentar um
esquema de pagamento (modernizado) de renda de menos de 400 Euros, e que é um
mínimo absoluto. Pacote de Internet, telefone e TV: 70 Euros; gás e
electricidade, 40 Euros casa por mês; água, 25 euros por mês; transporte, 35
euros por mês por pessoa; tributação 24,5% (245 euros), deixando um reles 145
Euro por mês para alimentar uma família (um salário). Com dois ordenados na
família, aumenta para 865 Euro o disponível... nesta folha de Excel.
Assim, a folha de Excel diz ao adiantado mental que formula políticas, que acha
que isso é um espelho da realidade sócio-econômica do país, que para aumentar
mais impostos, a família "média" iria suportar um aumento de imposto
de segurança social (TSU) de 11 para 18 %, como o primeiro-ministro, Pedro
Coelho, anunciou recentemente, e cinicamente, pouco antes do início de uma
partida de futebol. A folha de Excel não diz que, se o salário médio é de 1.000
euros, significa que a maioria das pessoas não ganham esse valor e por isso
esse tipo de medidas é insuportável para a maioria da população.
Que qualquer governo possa anunciar tais medidas, e depois insinuar que vai
repensar depois de uma décima parte da população ir para as ruas,
contestando... e esse governo permanecer no poder, desafia a lógica. É este o
pano de fundo paraa manifestação de ontem, em Lisboa, organizada pela CGTP-IN,
o principal central de sindicatos em Portugal, que encheu Praça do Comércio, as
principais avenidas que levam até esta e a Praça do Rossio acima destas.
A manifestação foi uma vitória dupla: provar que o povo ainda é maciçamente
envolvido na luta contra o terrorismo social do PSD / CDS-PP; também fornece
uma plataforma para propor medidas alternativas à esquerda, algo que o
(des)governo PSD/CDS- PP se recusa a aceitar, escondendo-se atrás de um
discurso monótono e arrogante "sem alternativas".
Algumas das propostas para aliviar os efeitos do terrorismo social do governo
são simples e claras: do CGTP-IN vem o seguinte: a criação de um imposto de
0,25% sobre as transacções financeiras, gerando um adicional 2 bilhões de Euro;
a introdução de um imposto progressivo e indexado sobre as sociedades
comerciais de 33,33% para as empresas com um volume de negócios superior a 12,5
milhões de Euro, gerando mais 1 bilhão de Euro; um imposto de 10% sobre os
dividendos (gerando 1,6 bilhões de Euro); políticas adicionais contra a
fraude e evasão fiscal (1 bilhão de Euro). Total: 5.600 bilhões de euros, uma
alternativa socialmente responsável para as políticas sociais terroristas do
governo de Portugal, que aos olhos do mundo, e de qualquer entidade mínimamente
inteligente, perdeu o seu direito de governar.
A resposta do (des)governo de Portugal e seus assessores tem sido deplorável,
chamando o povo português "Piégas" e "ignorantes", enquanto
os lobbies que gravitam atrás deste "governo" alegadamente ficam mais
gordos enquanto que o cidadão é esmagado no chão. Todos os governos em Portugal
desde 1974, assumiram o cargo com as palavras "Nós vamos pedir mais
sacrifícios ao povo português", e em seguida, procederam à implementação
de políticas que servem os donos do capital, reduzindo os trabalhadores à
miséria, à escravidão, e hoje, à fome.
Um epitáfio político nojento para estes três partidos que levaram Portugal, um
país de médio porte europeu, na sarjeta, gerido por estrangeiros que não têm
qualquer ideia sobre a realidade no campo. Os portugueses, protegidos pela
política de esquerda, mais uma vez descobriram o Poder Popular, uma força
invencível contra o terrorismo social implementado pela direita política. Se
souberem usá-lo, é claro. Ou será um fenómeno efémero ou então um marco
histórico.
Ao povo português
cabe o próximo passo.
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