Tomás Vasques – i online, opinião
Uma viagem curta
que envolve o Presidente da República e o primeiro-ministro de um país
supostamente soberano, com quem trocará breves palavras de circunstância
1. A chanceler
alemã, Angela Merkel, visita hoje Portugal, como visitou a Grécia recentemente.
Uma viagem curta, de cinco horas, numa correria programada ao minuto, na qual,
com a deselegância política e o oportunismo que a caracterizam, envolve o Presidente
da República e o primeiro-ministro de um país supostamente soberano, com quem
trocará breves palavras de circunstância, uns sorrisos e uns beijos, na
pré-campanha para as eleições alemãs do próximo ano. Quando entrar no avião que
a levará na viagem de regresso, à capital do Império, provavelmente, vai
desabafar para um dos seus assessores: “Este número está feito.”
Esta senhora que
hoje manda na “União Europeia”, a seu belo prazer, bastando-lhe para tal o voto
dos alemães, sem ironia, é uma boa síntese, enquanto personalidade, do encontro
entre teses filosóficas opostas, a da Escola de Frankfurt, dirigida por Max
Horkheimer, nos anos 30 do século passado, que procurou fundir Marx e Freud na
explicação do desenvolvimento histórico e a da teoria marxista clássica sobre o
papel do indivíduo na História, defendido por Plekhanov. Angela Merkel é a
mistura perfeita entre “a frustração individual e o impulso inconsciente” e a
“escolha de uma personalidade para o domínio de uma classe”. Não é impunemente,
do ponto de vista das teorias da Escola de Frankfurt, que se cresce e vive até
aos 35 anos numa “república soviética”, beneficiando do conforto do regime, ao
ponto de ganhar, com 15 anos, as olimpíadas de russo e receber, como prémio,
uma viagem a Moscovo, de se licenciar pela Universidade Karl Marx, em Leipzig e
de se doutorar na Academia de Ciências de Berlim-Leste. Esta falsidade, de
viver sorrindo na rua a um regime ditatorial, para dele tirar todo o proveito,
enquanto em casa, como luterana, rezava contra quem lhe pagava os estudos
universitários, desregulou-lhe a personalidade. Deste período, sobre a
chanceler alemã, já se escreveu esta frase demolidora: “Aprendeu a esconder dos
professores, dos colegas de classe e dos representantes do Estado aquilo que
pensa.” Se Max Horkheimer tivesse conhecido este percurso de Merkel explicaria
a destruição da União Europeia socorrendo-se mais de Freud do que de Marx. No
entanto, como diria Ernest Mandel, em abono das teses de Plekhanov, estas
frustrações individuais e impulsos inconscientes “por mais que determinem a
personalidade, não podem directamente dar forma às transformações sociais
envolvendo milhões de seres humanos”. Pelo que assistimos, nestes dias negros
para a Europa, nunca os freudianos da Escola de Frankfurt estiveram tão
próximos dos marxistas clássicos representados por Plekhanov. Ou seja, no
fundo, mais uma vez um louco, por quem o dinheiro se faz representar, tomou
conta da Alemanha para destruir a Europa.
2. O Bloco de
Esquerda mostrou em 15 minutos, na convenção realizada no fim-de-semana, o
dilema em que se debate e que permanece para além desta reunião. Ao fim da
tarde de sábado, Daniel Oliveira, um dos representantes da minoria, na sua
intervenção, concluiu: “Não há solução de esquerda, de um governo de esquerda,
sem o Partido Socialista.” No momento seguinte, subiu à tribuna Fernando Rosas,
em nome da maioria bloquista, para explicar que não é assim, e disse: “A
situação política vai mudar muito nos próximos meses e vai haver um governo de
esquerda quer o PS queira ou não queira.” Por sua vez, João Semedo, o novo
líder do BE, a meias com Catarina Martins, ficou no “centro” deste
desentendimento: tem sempre dois discursos preparados, um em cada bolso: num
explica que os socialistas fazem parte de uma solução de governo de esquerda,
como se estivesse de acordo com Daniel Oliveira; no outro, diz que os
socialistas não fazem parte de uma solução de govern o à esquerda, como se
estivesse de acordo com Fernando Rosas. Ou seja, o Bloco de Esquerda medeia
entre a sobrevivência política e o desaparecimento.
Jurista, escreve à
segunda-feira
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