Henrique Monteiro –
Expresso, opinião, em Blogues
É preciso cortar a
despesa do Estado? Não há dúvida. A atual despesa corresponde, em grande parte,
a salários e prestações sociais? É certo. O atual nível de impostos não se pode
manter porque é insuportável? Corretíssimo. Que disse então Passos, ontem na
entrevista à TVI, que não corresponda à realidade? Quase nada. O problema está
no que fez até agora.
Passos não cortou à
séria na despesa do Estado. Dir-se-á que não podia, porque precisava de um
acordo mais amplo para o fazer. É verdade. Mas Passos não procurou esse acordo
quando podia, quando o seu Governo ainda tinha margem e confiança. Na altura
hostilizou o PS, a UGT e os parceiros sociais. Ao invés de se sentar com eles e
tentar uma resposta conjunta à crise, isolou-se e deixou que o seu Governo
perdesse o respeito por parte dos cidadãos.
Agora, o
primeiro-ministro tem de cortar quatro mil milhões de euros até ao verão e não
tem quem o apoie. Pode tentar resolver esse problema de várias formas,
incluindo continuar num autismo galopante até ao desastre. Mas as coisas são o
que são... Não há o mínimo ambiente político para medidas que podiam há ano e
meio ser quase consensuais entre os partidos que tinham assinado o memorando (por
exemplo, as pessoas com mais rendimentos pagarem parte da educação dos filhos,
como o próprio referiu na entrevista).
Passos falhou na
principal missão que tinha e que não era essencialmente técnica ou meramente
económica, mas sim política: mobilizar os portugueses para sanear as contas
públicas e colocar o país num novo rumo. Ou melhor, pensou que era possível
fazê-lo sem contar com os outros, com as opiniões diversas, com o pluralismo
próprio das sociedades modernas. Enganou-se.
Meteu-se numa
trapalhada da qual dificilmente sairá.
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