RESUMO DE UMA
VISITA
Diário de Notícias,
opinião, editorial
A visita da
chanceler Merkel a Lisboa merece ganhar um prémio de produtividade. Em escassas
seis horas concretiza uma bem preparada e bem conduzida operação de charme
político, com encontro protocolar em Belém, almoço de trabalho (com olhar
fixado no vasto horizonte) com o primeiro-ministro, encontro com quatro membros
da imprensa (dois, por país) e fecho de uma conferência de futura retoma do
investimento alemão em Portugal.
O decisivo desta
jornada não se situou, para já, no plano dos negócios. O reforço da linha de
pintura da Autoeuropa mereceria, em circunstâncias normais, uma nota de pé de
página na revista da empresa, e não o anúncio como "novo"
investimento por parte do presidente da AICEP. Os encontros entre empresários,
com os relacionamentos pessoais futuros que eles possibilitam, não são de
desprezar. Mas o essencial passou-se no plano político. A chanceler disse-o com
todas as letras, citando um seu antecessor na função que exerce, o chanceler
Ludwig Ehrhard (obreiro do "milagre alemão" do pós-guerra):
"Metade da política económica é psicologia."
Do que se trata,
pois, é de deixar a imagem e a mensagem, para os portugueses verem, de que o
mais poderoso parceiro da Zona Euro apoia e dá o seu confiante aval ao programa
português. Num momento de sacrifícios e de dúvidas (fundadas no mau desempenho
orçamental de 2012) sobre a capacidade para sairmos da recessão, do
empobrecimento e do desemprego crescente pela via da atual política de
austeridade, Merkel pede um pouco mais de paciência, já que os resultados
começarão a ver-se.
Com esta visita
ficou claro que nada vai ser renegociado até ao fim do programa. O que faz
subir a fasquia das expectativas: psicologicamente, daqui a uns seis meses, um
povo inteiro quererá saber se voltámos ao crescimento económico, como Merkel e
Schäubel, Coelho e Gaspar nos garantem que acontecerá.
*Título PG
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