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Nuno Santos reage
ao inquérito da RTP dizendo que as
conclusões estavam condicionadas à partida e que, por isso, se exige um
apuramento independente.
Eis, na íntegra, o
texto que Nuno Santos distribuiu:
«Tomei conhecimento
do texto intitulado "Resumo dos factos apurados em sede de
Inquérito", que pretenderá ser uma conclusão do intitulado "inquérito
aos factos relacionados com a entrada indevida, facultada pela Direção de
Informação de Televisão, de elementos estranhos à empresa tendo em vista a
visualização e eventual entrega de imagens não emitidas por qualquer serviço de
programas da RTP, relacionadas com os incidentes verificados no dia 14 de
novembro".
Sobre esse título,
já de si tendencioso e contra o qual tive ocasião de me pronunciar, entendo que
o mesmo - não refletindo a verdade dos factos - é já um convite às conclusões à
medida que, pelos vistos, resultaram do auto-denominado "inquérito".
Não conheço o
relatório final nem a prova que terá sido produzida e, preparado que estou para
todas as surpresas, entendo que a esses elementos me deve ser dado acesso para
que me possa defender.
O
"resumo" que foi divulgado é-me pessoalmente dirigido, o que é tanto
mais estranho quanto me foi transmitido telefonicamente ao final do dia de
sexta-feira 23 e posteriormente reiterado por escrito a meu pedido, que não
havia necessidade de me ouvir no "inquérito", pois teriam sido
recolhidos todos os elementos relevantes para o apuramento dito
"rigoroso" dos factos. E que factos eram? A resposta foi lapidar:
"Esses que andam aí nos jornais". Se fui ouvido, e por insistência
minha, fiquei com a consciência plena de que o meu depoimento de nada poderia
servir, como veio a verificar-se. Um desfecho incompreensível!
Considerando que:
a. O "resumo
do inquérito" contem graves falsidades e lamentáveis juízos de valor;
b. Não autorizei em
momento algum, e quero deixar isso bem claro, o visionamento de
"brutos" sobre os incidentes de 14 de novembro;
c. A não saída dos
DVDs, cuja transcrição fora feita sem meu conhecimento, deveu-se à minha
intervenção e à do Diretor Adjunto de Informação;
d. Ausente em Londres,
pedi a seguir um contacto pessoal com o Diretor Geral para discutirmos o
assunto, tendo o mesmo sido concretizado no dia útil seguinte;
e. Os meus
comportamentos acima referidos não se coadunam com qualquer actuação desleal ou
desconforme às regras;
f. Ainda meses
antes tinha eu recusado ao Provedor do Espectador, conforme é do conhecimento
da Redacção, acesso aos designados "brutos" numa reportagem sensível
sobre a utilização de crianças da Casa Pia em experiências científicas, tendo
ficado bem claro o meu pensamento sobre o tema;
g. Como se
explicaria que, de repente, tivesse mudado tão radicalmente a minha posição de
fundo sobre esta matéria?
h. Há semelhanças
flagrantes entre os tópicos do "resumo" agora dado a público e
aqueles que me foram referidos, antes da abertura do "inquérito",
pelo Presidente do Conselho de Administração. Aliás, a declaração deste órgão a
anunciar a minha demissão contém já estas conclusões, antes do
"inquérito".
i. Os inquiridores
da RTP dependem do Conselho de Administração, o que torna evidente a
necessidade de uma entidade imparcial apurar a verdade.
Só posso concluir o
seguinte:
1. O resultado do
"inquérito" estava à partida condicionado;
2. Todo este caso
se afigura um pretexto para obter e, depois, justificar o meu afastamento;
3. Não compreendo
que se manche a reputação de profissionais, e por arrastamento se coloque
potencialmente em perigo a integridade física de repórteres da RTP que cubram
as próximas manifestações, só com o objetivo de arranjar esse pretexto.
Durante os últimos
vinte meses foi possível trabalhar na Informação da RTP com inteira liberdade e
total independência perante todos os poderes e forças políticas, o que só pode
ter causado incómodos. Trabalhar com inteira liberdade e total independência
não é um detalhe desprezível nestes tempos incertos para o jornalismo e no
clima que se vive na empresa e no país.
Termino reiterando
a absoluta necessidade de um inquérito a conduzir por entidade imparcial, seja
a ERC, o Sindicato dos Jornalistas ou a Comissão da Carteira Profissional do
Jornalista, para o qual desde já volto a manifestar a minha total
disponibilidade.
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