Carlos Diogo Santos – Jornal i
Portugal está ao
nível do Butão e Porto Rico é o 33.º país menos corrupto do mundo. Um “panorama
desastroso” para os especialistas
Portugal é o 33.º
país menos corrupto do mundo e o 15.º da Europa, numa comparação que tem em
conta 176 países. O ranking da associação cívica Transparência e Integridade
apresentado ontem revela que o país está a par de Espanha – que ocupa o 30.º
lugar –, ficou pior que a Irlanda, que surge na 25.ª posição, mas muito melhor
que Itália (72.ª) e Grécia (94.ª). Segundo estes resultados, Dinamarca,
Finlândia e Nova Zelândia são os países onde a corrupção é menos evidente,
enquanto Afeganistão, Coreia do Norte e Somália são aqueles onde o fenómeno
atinge maiores proporções.
Para Luís de Sousa,
fundador do Observatório de Ética na Vida Pública, o facto de Portugal aparecer
numa posição próxima daquela onde estava no último ranking – caiu apenas uma –
não pode ser visto, de forma alguma, como algo positivo: “A posição é má e
mantê-la é negativo.”
A análise não tem
em conta apenas os conhecidos subornos, mas indicadores como a má gestão de
dinheiros públicos, a eficácia do sistema judicial e os problemas fiscais. “São
também corrupção as más práticas continuadas no tempo, os conluios entre as
elites políticas e empresariais que nos trouxeram até onde estamos hoje”,
explicou ao i o também investigador universitário.
Portugal apresenta
um score de 63 – ex--aequo com o Butão e Porto Rico – numa escala de 0 (muito
corrupto) a 100 (muito limpo). A pontuação da vizinha Espanha apresenta uma
variação pouco significativa, fixando-se em 65.
Paulo Morais,
vice-presidente da Transparência e Integridade, associação cívica
correspondente em Portugal da Transparency International, considera que estes
resultados revelam o desinteresse de Portugal no panorama internacional. “Os
investidores e observadores estrangeiros que compõem o Índice de Percepção da
Corrupção continuam a não ver progressos visíveis em Portugal. A tendência
de estagnação – e até de retrocesso – é a imagem de marca do nosso país no
combate à corrupção e isso tem reflexos negativos na nossa capacidade de atrair
investimento estrangeiro que nos ajude a sair da crise financeira.”
Numa comparação com
os restantes membros da União Europeia, Portugal surge apenas à frente de
Malta, Grécia, Itália e de alguns países de Leste. Paulo Morais lembra ainda
que Portugal desceu quase dez lugares no Índice de Percepção de Corrupção na
última década, passando da 23.ª posição em 2000 para a 32.ª em 2011: “O
panorama é desastroso.”
O fraco desempenho
de Portugal levou o presidente do Conselho de Prevenção da Corrupção, Guilherme
d’ Oliveira Martins, a mostrar a sua insatisfação, defendendo ser preciso
aumentar a investigação criminal e a prevenção: “Estamos insatisfeitos com a
situação, isso tem de ser dito muito claramente.”
A associação cívica
Transparência e Integridade diz ter já alertado as entidades europeias para
casos como o de Portugal: “A Transparency International tem constantemente
advertido a Europa para a necessidade de enfrentar os riscos de corrupção no
sector público [dos países europeus periféricos] de forma a fazer face à crise
financeira, exigindo esforços acrescidos na criação de instituições públicas à
prova de corrupção.”
Mas, segundo o
ex-ministro das Obras Públicas João Cravinho, que em 2006 criou um plano
anticorrupção, a culpa da actual situação de Portugal também é do executivo de
Passos Coelho: “Não há uma visão conjunta do que é preciso fazer para prevenir
e combater a corrupção, não há meios adequados e as nossas instâncias funcionam
muito mal”.
O menos corrupto da
Lusofonia
Actualmente,
Portugal é o país mais transparente entre os parceiros de língua oficial
portuguesa, mas a distância para Cabo Verde é curta. O arquipélago africano
aparece em 39.º lugar e com um score de 60, depois de nos últimos anos ter
estado sempre a subir neste ranking. A seguir, mas a alguma distância, surge o
Brasil na 69.ª posição (score 43). De todos os países que falam português,
Angola é o território onde existe mais corrupção (157.ª posição), estando ao
mesmo nível que Camboja ou Tajiquistão. Até Moçambique e Timor-Leste apresentam
dados mais animadores, ocupando as posições 123.ª e 113.ª.
Para Luís de Sousa,
Portugal poderá em breve deixar de ser o menos corrupto deste grupo. “Se nada
for feito para combater a corrupção e Cabo Verde continuar com o excelente
trabalho que tem desenvolvido, essa é uma possibilidade real nos próximos anos.
Até agora, o combate à corrupção que aparece nos programas de governo são
sempre coisas vagas e assim não se vai lá...”
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